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Cultura

Foto: Divulgação Ilana Cardoso afirma que o artesanato em capim dourado, além de ser uma fonte de renda, também é um resgate da história de sua família Ilana Cardoso afirma que o artesanato em capim dourado, além de ser uma fonte de renda, também é um resgate da história de sua família
  • Os artesãos estão presentes nos quatro cantos do Estado, cada um com o seu artesanato característico
  • As bonecas Ritxoko são patrimônio cultural do Brasil e confeccionadas pelos indígenas da comunidade Karajá
  • A argila se transforma em arte nas mãos habilidosos dos artesãos

O dia do artesão foi comemorado nesse sábado, 19 de março. Em outubro de 2015, entrou em vigor a lei que regulamentou a profissão, valorizando o trabalho desenvolvido pelos artesãos e ressaltando a importância deste segmento para a economia e a cultura do País. Segundo a Confederação Nacional dos Artesãos do Brasil, cerca de 10 milhões de pessoas no País sobrevivem do artesanato.

O que torna o ofício do artesão tão artístico não é apenas a sua habilidade em manusear elementos in natura e transformá-los em peças únicas, mas o sentimento e a sensibilidade presentes em suas essências, que possibilitam o processo criativo das peças. 

No Tocantins, existem 647 profissionais cadastrados no banco de dados do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB). Esses artistas produzem artesanato utilizando as mais diversas matérias-primas que a natureza oferece: capim dourado, madeira, buriti, babaçu, argila, cristal, jatobá, palha de milho e fibra de coco, palha de bananeira, sementes, couro, ouro, resina, e mais uma infinidade de materiais que reforçam a identidade das peças criadas no Estado. São das mãos e da criatividade dos artesãos tocantinenses que as mais belas obras de arte ganham forma e despertam a atenção do país e do mundo.

Os artesãos estão presentes nos quatro cantos do Estado, cada um com o seu artesanato característico. Tem bonecos feitos da casca do jatobá, na cidade de Ananás; tem as famosas peças em capim dourado, no Jalapão; as bonecas Ritxoko, declaradas patrimônio cultural do Brasil e confeccionadas pelos indígenas da comunidade Karajá; o município de Cristalândia é conhecido pelos seus cristais lapidados em formatos singulares; têm ainda as centenárias filigranas em Natividade; e os trabalhos manuais em couro feitos em Monte do Carmo.  

De acordo com Núbia Maria Cursino, técnica na Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia, Turismo e Cultura (Seden), os artesãos tocantinenses reforçam e valorizam a identidade cultural do Estado por meio do artesanato, além de promover a geração de renda e a economia local. “Temos artesãos talentosos em todos os 139 municípios do Tocantins, principalmente nas comunidades indígenas do Estado, onde as crianças aprendem o ofício de artesão desde muito cedo”, explicou, concluindo “o que vemos nas feiras que acontecem fora do Tocantins é que as pessoas se encantam com o artesanato produzido aqui”.

Mãos que transformam

Foram das mãos habilidosas e da força de mulheres das comunidades localizadas na região do Jalapão que o artesanato em capim dourado, o chamado “ouro do Tocantins”, conquistou o Brasil e o mundo. Em 2011, o trabalho manual confeccionado em capim dourado pelos artesãos do Jalapão se tornou o primeiro pedido de Indicação Geográfica (IG) de artesanato brasileiro aprovado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). 

A importância das peças em capim dourado na economia local é realidade vivenciada pela artesã Ilana Cardoso, da comunidade quilombola do Mumbuca. “O artesanato em capim dourado, além de ser uma fonte de renda, também é um resgate da história da minha família, dos saberes tradicionais, da nossa cultura. É por meio do capim que o nosso trabalho como artesãos é reconhecido dentro e fora do Estado”, pontuou.

A sua experiência como artesã começou quando tinha 10 anos de idade e saiu da comunidade em que cresceu para estudar no município de Mateiros. O artesanato foi a forma encontrada para ajudar na renda da casa. “Minhas primas já costuravam capim dourado para ter mais uma renda e eu ficava observando elas costurando com amor e dedicação, aí comecei a trabalhar também com o capim. Fiquei muito animada quando vendi a minha primeira peça e não parei mais desde então”. Atualmente, ela mora em Palmas, mas continua fazendo artesanato com capim dourado. “Para mim, é uma terapia, pois quando eu estou com saudades do Jalapão eu começo a costurar capim dourado e me sinto mais perto de casa”, disse. Ilana ainda revela que “o artesanato te leva para o mundo”, ao lembrar as oportunidades de viajar e conhecer outros lugares, além do seu povoado, que o seu ofício lhe proporcionou.

Foi com a sensibilidade e a inspiração provocada pelas cores e desenhos formados pelas pinturas rupestres dos paredões das serras de Lajeado que artesãos transformaram argila em mais de 50 itens – entre jogos de pratos, panelas, jarros, copos, xícaras – de cerâmica. Após levado ao forno, o artesanato em cerâmica ganha tons avermelhados e ares decorativos e utilitários.

É só observar os traços simples e delicados das cerâmicas moldadas de forma artesanal pelas mãos da ceramista Maria Elza para perceber que, ali, a argila se transformou em verdadeira poesia. Moradora do município de Lajeado, desde pequena Maria Elza teve contato com artesãos: na Bahia, seus pais transformavam couro em artesanato, “eles fabricavam utensílios para vaqueiros e apetrechos como botas e chapéus muito bem trabalhados”, contou. 

Um dos seus desejos é preencher as carências culturais da cidade em que vive e modificar a realidade da sua vida e das outras pessoas por meio da arte. “O artesanato está na minha vida há muito tempo e, desde então, sempre busco inovar meu trabalho e incrementar minhas peças”, afirmou. “É um dom pegar algo que está na natureza e transformar em arte. Nossa cabeça fica cheia de ideias e de novas criações, aí temos que colocar em prática”, complementou ao afirmar que “tudo o que eu faço é com muito carinho, sempre buscando a perfeição, e expressando meus sentimentos em cada peça que eu produzo”.