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Saúde

Foto: Sara Cardoso

Foto: Sara Cardoso

A psicóloga e coordenadora do Serviço de Atenção Especializada à Criança em Situação de Violência (Savi) do Hospital Infantil de Palmas (Hip), Rosivânia Tosta, faz um alerta: "A pessoa que abusa não tem escrito na testa: ‘Eu sou um abusador, prazer em conhecer’. Infelizmente não existe um perfil específico, pode ser qualquer um, inclusive parente próximo. Esta é uma realidade, e por isso os olhos da sociedade devem estar voltados aos cuidados com as crianças”, afirma. De acordo com ela, o cuidado com a criança é dever de todos e que a primeira infância é um período fundamental para a formação do caráter.

“Esse é um assunto que sensibiliza a sociedade de modo geral. É difícil achar alguém que fique alheio diante de uma informação de violência contra a criança e o primeiro passo é passar a ter um olhar para essa realidade, que existe e está do nosso lado”, diz a psicóloga, reforçando que a exploração sexual é um problema social que afeta centenas de crianças no mundo todo. 

Nesta quarta-feira, 18, o Brasil celebra o Dia Nacional de Combate a Exploração Sexual de Crianças. Estatísticas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) Brasil apontam que a cada dia, em média, 129 casos de violência são reportados ao Disque 100, lembrando que muitos desses casos nunca chegam a ser denunciados.

A violência infantil na maioria das vezes gera traumas físicos e psicológicos que refletem durante a vida toda e, por serem vulneráveis, as crianças são especialmente afetadas pela violência de qualquer natureza (física, psicológica, sexual ou negligência) e se tornam alvos fáceis para possíveis agressores. Muitas não sabem como agir, como se expressar e muito raramente sabem se defender.

Saber reconhecer

A psicóloga do Savi alerta que dois pontos são fundamentais no reconhecimento e identificação de quem sofre ou já sofreu abuso sexual. “Olhar a dinâmica da família e olhar o comportamento da criança. A criança que sofre violência emite sinais, costuma ser mais retraída, tem dificuldade de relacionamento, dificuldade escolar, de concentração e vai, possivelmente, ser uma criança triste. Outra coisa muito importante que deve ser observada é que geralmente a criança abusada demonstra um conhecimento pelo sexo inadequado para a idade dela, conhecimento e interesse incomum, pode ser uma criança mais erotizada porque, de fato, perdeu a inocência. A criança obtêm um aprendizado sexual e às vezes até um prazer”, explicou.  

Ainda segundo a psicóloga, a família também tende a emitir sinais de que algo errado pode estar acontecendo. “A família que abusa tem a tendência de ser superprotetora com a finalidade de esconder. Ela é fechada e se o abusador é o pai, ele geralmente limita a liberdade da criança. E em muitos casos a mãe sabe, mas não fala para não romper a família. A família toda adoece”, lamentou.

Vale lembrar que ainda existem os efeitos da violência. A criança pode desenvolver depressão, ansiedade, uma conduta sexualizada e pode, até,  buscar precocemente a prostituição. “A criança, às vezes, tem até transtornos mentais e psicológicos e uma desvalorização do corpo”, completa a psicóloga.

Como ajudar

No Tocantins, as crianças de 0 a 11 anos, 11 meses e 29 dias que sofrem ou já sofreram algum tipo de violência podem ser encaminhadas para um serviço de referência disponível no Hospital Infantil de Palmas (HIP). O Serviço de Atenção Especializada à Criança em Situação de Violência (Savi) conta com uma equipe multiprofissional composta por médicos (as), psicólogos (a), enfermeiros (a), assistentes sociais e farmacêuticos (as) capacitados para atender às crianças em variadas situações, seja de violência, física, psicológica, sexual e/ou negligência/maus tratos.

Ainda segundo a psicóloga do Serviço, nos casos de violência sexual, a criança necessita ser conduzida com a maior urgência possível ao Savi para atendimento e medicação profilática com vistas a impedir a contaminação por Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). O serviço realiza acompanhamento através de exames laboratoriais, por no mínimo seis meses, para atestar a eficácia da profilaxia e afastar a possibilidade de contaminação.

“Se for uma violência crônica que já ocorre há algum tempo o primeiro passo é denunciar ao Conselho Tutelar ou Disque 100 e se for uma aguda, que acabou de acontecer, a criança deve ser levada, sem dar banho, imediatamente ao hospital, de onde vamos acionar toda a rede, delegacia, Instituto Médico Legal, Conselho Tutelar, o que for preciso. Lembrando que o ideal é que a primeira porta seja a saúde”, reforçou a psicóloga.

Prevenção

A prevenção deve começar no seio familiar. Dependendo da faixa etária, os pais podem ir trabalhando na educação e orientação sexual das crianças precocemente, é o que alerta a psicóloga.  

“Quando a criança tiver dois anos, já pode ensinar o nome dos órgãos sexuais. Após isso, a orientação é que se ensine que outras pessoas não podem tocar, mas essas informações devem ser passadas com uma linguagem infantil. Os pais devem desenvolver um vínculo de confiança com a criança, porque é fundamental para prevenção. O fator chave é conversar e orientar de acordo com cada faixa etária. Outra coisa importante é não deixar a criança sozinha, já que o abusador não tem um perfil”, orientou a psicóloga.

Atendimento Savi

Funcionando todos os dias de 7 às 19h, a equipe do Savi realiza o acolhimento e o atendimento, providencia os encaminhamentos para exames e medicação de acordo com as necessidades e especificidades de cada caso, conforme as diretrizes e legislações vigentes,realiza a notificação, seguida do acompanhamento ambulatorial, acessa a Rede de Atenção, composta por serviços do Conselho Tutelar, Delegacia da Criança e do Adolescente, Instituto Médico Legal, dentre outros que se fizerem necessários.

No ano passado, o Savi registrou de junho a dezembro, 45 atendimentos de violência contra a criança, sendo 14 de violência sexual. Os dados do primeiro quadrimestre desse ano registram quase 80 atendimentos, 23 a vítimas de violência sexual.

Programação

Com o objetivo de promover uma ampla discussão sobre a violência sexual em uma perspectiva interdisciplinar, a equipe do Savi vai promover palestras e debates em escolas e Centros Municipais de Ensino.