Segundo a Comissão Pastoral da Terra Araguaia-Tocantins (CPT), Diocese de Tocantinópolis, a ofensiva de grileiros contra famílias camponesas fez mais uma vítima no Tocantins. Na última sexta-feira, 5 de agosto, Luís Jorge de Araújo, pai de família com 56 anos, membro da Comunidade Boqueirão, foi executado em seu barraco, no município de Wanderlândia/TO. Testemunhas que presenciaram o momento do crime disseram que quatro homens armados chegaram ao local no início da tarde e efetuaram o disparo à queima roupa contra o trabalhador.
Em julho deste ano, a CPT denunciou na imprensa regional e em audiência com a Ouvidoria Agrária Nacional (OAN) a onda de violência que assola o campo, com o acirramento das agressões dirigidas contra famílias em luta por terra na região norte do Estado.
Desde o início de 2016 já haviam sido registrados cinco casos de ataques a diferentes comunidades, por pistoleiros, a mando de grileiros. Dentre eles, o assassinato de uma liderança da ocupação Gurgueia, no município de Araguaína, enquanto dormia em seu barraco, e um jovem baleado na mão na ocupação rural denominada Capela, também em Wanderlândia.
Marcados para Morrer
Para a CPT, mesmo com a ampla divulgação do alastramento dos conflitos e da tensão que envolve a região, os órgãos competentes não conseguiram evitar esta morte já anunciada. Segundo a Pastoral, já circula na região uma lista apontando sete pessoas marcadas para morrer, entre lideranças comunitárias e representantes sindicais.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra, a fazenda Boqueirão trata-se de terras que pertencem ao patrimônio da União. A destinação prioritária de tais áreas públicas deveria, constitucionalmente, ser o atendimento às necessidades das famílias que precisam de terra para produzir seu sustento, o que deveria implicar uma ação firme dos órgãos públicos competentes.
Comprometida com a defesa do direito e da vida, especialmente dos mais necessitados, a CPT esteve em visita nesta última terça-feira (9) à comunidade, juntamente com o bispo da Diocese de Tocantinópolis, Dom Giovane, e o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Wanderlândia. Na ocasião, Dom Giovane expressou solidariedade em nome dos bispos do Tocantins às famílias acampadas e aos parentes do Sr. Luís.
Agravamento dos Conflitos
O agravamento dos conflitos e das violências no campo já resultou em 39 mortos este ano no Brasil, de acordo com dados parciais registrados pela CPT - em 2015, foram 50 assassinatos em todo o País. "Diante deste cenário, vimos a público cobrar uma atuação imediata e firme por parte do Incra, do Programa Terra Legal, da Ouvidoria Agrária Regional e Nacional, da Delegacia Estadual de Repressão a Conflitos Agrários, do Ministério Público e dos demais órgãos competentes, para que as áreas em disputa sejam regularizadas e que os mandantes e executores do assassinato do Sr. Luís sejam identificados e punidos conforme previsto em lei", cobra a CPT em nota.
A Comissão Pastoral da Terra lamentou a morte do trabalhador rural e afirmou que é mais uma causada pela ganância. "Lamentando mais essa morte, matada pela ganância, a CPT e a Diocese de Tocantinópolis apresentam aos familiares do Sr Luís e à sofrida comunidade de Wanderlândia - a primeira comunidade pastoreada por Padre Josimo - seus pêsames bem como votos de fé e firmeza em sua luta por justiça", afirmou a Pastoral
O Conexão Tocantins solicitou posicionamento da Secretaria Estadual da Segurança Pública do Tocantins sobre as investigações que leve ao conhecimento dos assassinos e mandantes do crime e foi informado que o delegado que cuida da Delegacia de Repressão a Crimes Agrários está fazendo exames médicos e só poderá falar sobre o caso nesta próxima sexta-feira.