Um presente de natal antecipado que mudou a vida de dona Raimunda da Silva Pereira, de 81 anos, e marcou a história do Tocantins. Assim pode ser definido o primeiro transplante de córnea realizado no Hospital Geral de Palmas (HGP) que teve o Banco de Olhos do Tocantins habilitado pelo Ministério da Saúde e está apto a fazer captação e transplantes de córnea. O procedimento aconteceu na noite de quinta-feira, 15, e foi considerado um sucesso pela equipe multiprofissional.
De acordo com a médica oftalmologista, Ana Beatriz Dias, a cirurgia “foi um marco para a oftalmologia do Estado, que realiza seu primeiro transplante em hospital público, sem nenhuma intercorrência. A paciente respondeu de acordo com o esperado e estamos muito felizes por fazer parte disso”, afirmou, acrescentando que o procedimento foi realizado em parceria com o oftalmologista Jorge Mendes, que faz parte da equipe de transplantes do HGP.
A felicidade da especialista é também a felicidade do servidor público Nelzir Silva, filho de dona Raimunda, a primeira a ser submetida ao transplante. “Nem temos palavras para expressar nossa alegria. Minha mãe sentia muitas dores e até então este tipo de procedimento só era feito em outros estados com uma fila grande de espera. Conseguir fazer isso aqui em Palmas e voltar pra casa no mesmo dia é muito bom”, declarou.
Nelzir conta que há muito tempo a mãe sofria com problemas de visão e chegou a passar por uma cirurgia de catarata em fevereiro deste ano, mas que tempos depois passou a sentir fortes dores nos olhos e após avaliação de especialistas foi recomendado o transplante de córnea. “Em outubro deste ano fiquei sabendo que o HGP estava implantando um Banco de Olhos e procurei a unidade. No dia 16 de novembro conseguimos uma consulta com a doutora Núbia e ela constatou um edema bastante evoluído nos olhos da minha mãe e a partir daí passou a atendê-la todas as quartas-feiras, dias de seu plantão. No dia 30 de novembro minha mãe foi inscrita na lista de espera e na manhã do dia 15 a doutora Ana Beatriz me ligou avisando que possivelmente seria feito o transplante. Minha mãe ficou preparada para a cirurgia o dia todo, às 18h30 demos entrada no hospital e às 23 já estávamos retornando para casa” relatou.
Dona Raimunda, que está fazendo o acompanhamento no HGP, também é só alegria. "Estou muito feliz que deu tudo certo o transplante. Fui muito bem atendida. O procedimento foi muito rápido e fiquei muito satisfeita. Me sinto agradecida pela equipe que cuidou de mim", disse
A alta imediata, segundo a oftalmologista Ana Beatriz, faz parte da rotina deste tipo de procedimento, quando tudo ocorre dentro do esperado. “O transplante de córnea permite este tipo de conduta, quando o paciente tem uma boa aceitação, e foi o caso de dona Raimunda. A córnea é a parte mais anterior do olho, onde fica a parte colorida, é feito a retirada desta parte doente e implantada a de um doador morto. Para a captação da córnea no doador é recomendado que seja feito até 6 horas após a parada do coração. Após a coleta, o órgão pode ser preservado por até 15 dias, tempo suficiente para a realização de exames de compatibilidade entre doador e receptor”, explicou.
O secretário de Estado da Saúde, Marcos Musafir, destacou que o início desse serviço no Tocantins é resultado do esforço de toda equipe. “A equipe não descansou um só momento enquanto não conseguiu a habilitação do Banco de Olhos, estamos todos comemorando essa conquista que beneficia nossos pacientes”, disse o secretário.
Transplantes
Até então os pacientes que necessitavam desse tipo de transplante eram encaminhados para fazer o procedimento fora do Tocantins.
O Banco de Olhos, que funciona no HGP, conta com equipe especializada para realização dos procedimentos. As captações, devidamente autorizadas pela família, podem ser feitas em paciente cuja morte cerebral foi constatada segundo critérios definidos pela legislação do País. Também pode ser captada córnea do doador cuja morte foi constatada por critérios cardiorrespiratórios.
Segundo a gerente da Central de Transplantes, Patrícia Nossal, os pacientes que estão na lista de outros estados serão contatados para manifestar interesse em realizar o procedimento no HGP. “Em setembro tivemos conhecimento de cerca de 40 pacientes do Estado esperando na lista de Goiás. Agora vamos entrar em contato e solicitar a transferência dos nossos pacientes que estão esperando para que os procedimentos sejam feitos aqui”, destacou.
Para que o cidadão entre na fila de espera de transplante é necessário que realize uma consulta com oftalmologista que lhe dê indicação para o procedimento. Com a indicação médica, a pessoa pode procurar a Regulação Estadual que a encaminhará para o HGP. No ambulatório do HGP, o oftalmologista fará um laudo médico confirmando a necessidade e encaminhando o paciente para avaliação da equipe de transplante que vai cadastrar o usuário no Sistema Informatizado de Gerenciamento. A partir daí ele já estará na fila da Central Nacional de Transplante.