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Opinião

Wolfgang Teske

Wolfgang Teske Foto: Divulgação

Foto: Divulgação Wolfgang Teske Wolfgang Teske

Conforme foi publicado na Revista Veja, Palmas, capital do Tocantins, criada em 20 de maio de 1989, aparece em primeiro lugar como a cidade onde se vive melhor em toda a região norte do país.

Para chegar a esta classificação, foi avaliada a longevidade da população estimada em (74,61 anos), a renda dos seus habitantes (R$ 1.087 per capita) e os indicadores de educação. A revista ainda destaca que Palmas possui uma das maiores taxas de crescimento do país nos últimos dez anos, e, que, "o município ainda passa a imagem de canteiro de obras com várias construções espalhadas por suas largas avenidas". Os dados da população que a revista publica são baseados no Censo de 2010, entretanto a estimativa atualizada da população de Palmas,conforme o IBGE são de 279.856 habitantes. Além disso, ainda destaca que: "O setor de serviços é o principal da economia da capital do Tocantins, que ainda reserva inúmeras surpresas para os seus visitantes: praias de rio e cachoeiras".

Esta publicação imediatamente circulou com uma velocidade impressionante pelas redes sociais, especialmente, na capital e pelo estado do Tocantins, alegrou o prefeito Carlos Amastha, como era de se esperar, e, claro, a todos os que residem na região.

Não quero jogar água fria na fervura de entusiasmo e alegria diante deste fato, ainda mais em um momento em que todos estão disseminando mensagens positivas e de sucesso para o ano de 2017.

Entretanto, apesar dos dados apresentados serem reais e verdadeiros, é difícil de compreender que em nossa cidade, da qual sou um dos pioneiros, apontada como a cidade que aparece em primeiro lugar para se viver melhor em toda a região norte, apresente problemas que não combinam com este título, se podemos considerar desta forma.

Vejamos. 

Como aceitar que numa cidade destas:

1.Há tantos vazios urbanos que apenas interessam à especulação imobiliária?

2. A verticalização predial e da cidade está sendo algo estimulado e considerado normal, em uma região com tanto espaço?

3. Há a falta de plantio de árvores e outro tipo de plantas nas centenas de rotatórias e canteiros laterais das avenidas?

4. Ainda falta manutenção de pintura das faixas de segurança para a travessia dos pedestres?

5. Há falta de calçadas para pedestres em torno de todas as quadras residenciais, que poderiam ser da mesma forma como existem e circundam toda a quadra 21, onde residem vários políticos, entre eles, deputados, ex-governador e prefeito, além dos que se consideram da classe alta da sociedade?

6. A maior parte dos vereadores não apresente nenhum projeto de relevância que beneficie a sociedade palmense de forma geral?

7. Até hoje ainda não foi implantado um recolhimento seletivo do lixo?

8. Não há uma política pública que vise a educação eco-ambiental por parte da população?

9. Falta de preservação e valorização do patrimônio arqueológico, principalmente das pinturas e gravuras rupestres que se encontram na Serra do Lajeado, já mapeadas e registradas, que remontam a doze mil anos e aos povos originários que habitavam esta região?

10. Ainda se permite por parte do poder público, que algumas residências despejem água servida e de piscinas diretamente nas alamedas internas e avenidas, deteriorando completamente o revestimento asfáltico?

11. Não há pelo menos uma árvore frutífera ou de sombra plantada em frente a cada uma das residências, para atrair os pássaros e amenizar o calor?

12. Grande parte dos pontos de ônibus são de concreto, que retém o calor e não há árvores de sombra ao seu redor, que resolveriam o problema, como ocorre em alguns poucos pontos? Em outros sequer há o ponto coberto, fazendo com que os usuários de transporte coletivo tenham que esperar no sol ou na chuva?

13. Haja tanto consumo de drogas, causando criminalidade de toda ordem, desde assaltos, roubos, estupros, assassinatos e sequestros?

Como entender o comportamento de muitos moradores que:

1. Não acomodam devidamente o lixo produzido em suas casas e o depositam de qualquer jeito na lixeira ou mesmo nas calçadas, julgando que isto é trabalho dos garis?

2. Não se importam com restos de cascas de frutas, verduras, plásticos, papelão e materiais diversos esparramados dentro e ao redor das lixeiras, julgando que isto é trabalho dos varredores da prefeitura?

3. Não são capazes de fazer uma separação do que é lixo e dos materiais recicláveis que produzem em suas casas, para entregá-los nas cooperativas de reciclagem da capital, gerando inclusive renda para esta classe trabalhadora?

4. Que andam com seus veículos pela cidade, mas jogam latinhas, plásticos e outros materiais para fora do carro, para não sujá-lo, sem perceberem que estão poluindo um ambiente coletivo que é a cidade, além de entupir bueiros, córregos e o nosso lago?

5. Andam em alta velocidade com suas motos e carros e não param nas faixas de segurança dos pedestres?

6. Reclamam da existência de radares e redutores de velocidade espalhados por toda a cidade, que reduziram em muito os acidentes e a mortalidade causada pelos excessos?

7. Insistem em produzir som alto para promover suas festas particulares em suas residências ou em bares e botecos até altas horas da madrugada, levando em conta apenas o seu prazer pessoal, em detrimento do bem-estar dos vizinhos que necessitam de descanso, tranquilidade e sossego?

8. Insistem em rodar com seus carrões, com som estridente e bem acima dos decibéis permitidos pela lei, apenas para demonstrar o seu poder e uma maneira de aparecer?

9. Jogam todo tipo de lixo e entulho em lotes baldios e áreas públicas, mesmo que a prefeitura os tenha limpado, quando deveriam contratar uma empresa de recolhimento de entulho, ou mesmo acionar a prefeitura para fazê-lo?

Poderia acrescentar muitos outros pontos, mas por ora são suficientes para trazer uma reflexão sobre o que se espera de uma cidade sustentável, agradável e boa para se viver.

Que todos os palmenses, moradores, gestores e representantes das mais diversas organizações possam repensar seu modus vivendi e melhorar ainda mais a cidade que escolhemos para construir e viver.

*Wolfgang Teske é catarinense de Blumenau-SC, jornalista, educador e teólogo, pós-graduado em Docência do Ensino Superior e Mestre em Ciências do Ambiente/Cultura e Meio Ambiente. Reside em Palmas-TO, desde 1992, onde implantou o Complexo Educacional da Universidade Luterana do Brasil, sendo o seu primeiro diretor. Foi diretor de Relações Empresariais e Comunitárias da Escola Técnica Federal de Palmas, hoje IFTO, na sua implantação. Atualmente, é professor e pesquisador da Universidade Federal do Tocantins. Autor dos livros A Roda de São Gonçalo; Cultura Quilombola; co-autor do Fotolivro Roda de São Gonçalo e diretor de produção do Filme A Promessa. É Cidadão Palmense e Membro da Academia Palmense de Letras - cadeira nº 17. Wolfgang Teske ainda escreve semanalmente em seu blog Alfarrábio Pensar.