Políticos do Tocantins foram beneficiados com um montante de R$ 9,3 milhões da empresa Odebrecht para utilização nas campanhas eleitorais de 2012 e 2014. A informação vem das delações feitas por executivos da empresa na Operação Lava Jato, cujo sigilo foi quebrado pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Conforme veiculado neste domingo, 16, pelo site de notícias G1, que teve acesso aos vídeos das delações, os executivos Mário Amaro da Silveira e Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis afirmam que o governador Marcelo Miranda (PMDB) recebeu a quantia de R$ 1 milhão da Odebrecht para sua campanha ao governo em 2014, repassados a pedido do ex-deputado federal Eduardo Cunha, que se encontra preso em Curitiba/PR. Além de atender ao pedido de Cunha, a 'contribuição' visava manter uma "política de boa relação e boa vizinhança". A negociação para o caixa dois, conforme a delação, foi tratada com um então assessor de Marcelo Miranda, Herbert Brito, que é atual presidente do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins).
No mesmo período, o concorrente de Marcelo Miranda, o então governador Sandoval Cardoso (SD), recebeu o montante de R$ 4 milhões da empresa, e ainda teria tido autorizado mais R$ 8 milhões, que seriam destinados a pagar uma dívida da campanha de Sandoval com o marqueteiro Duda Mendonça. Conforme os delatores, porém, esta última operação pode não ser concluída, em função da Operação Lava Jato.
No esquema de caixa dois da empresa, Marcelo Miranda tinha como codinome “Lenhador”, enquanto que Sandoval Cardoso era chamado de “Novo Canário”. Este, por sua vez, tem referência com outro codinome “Canário”, que era o apelido dado no esquema ao deputado estadual Eduardo Siqueira Campos (DEM).
Eduardo Siqueira e as eleições municipais
Ainda conforme os executivos, Eduardo Siqueira teria articulado um montante de R$ 2 milhões para investir em sua possível campanha ao governo do Estado naquele ano de 2014, quando o então governador Siqueira Campos renunciou ao cargo para que o filho viesse a assumir o comando. Como se sabe, os planos mudaram e Sandoval acabou se tornando governador.
Antes disso, em 2012, Eduardo Siqueira teria articulado a “contribuição” de R$ 650 mil para favorecer os candidatos a prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas (PR); de Gurupi, Laurez Moreira (PSB); de Taguatinga, Eronides Teixeira (PSDB) e Zeila Ribeiro; e de Palmas Marcelo Lelis (PV).
Eduardo Cunha e o Tocantins
Além de pedir dinheiro para favorecer Marcelo Miranda, Eduardo Cunha também pediu à Odebrecht contribuição para o ex-deputado federal e hoje secretário municipal de Governo de Palmas, Júnior Coimbra. O montante, conforme os delatores, foi de R$ 1,2 milhão e Coimbra era apelidado no esquema de Acadêmico.
Alvo de Inquérito
Conforme já divulgado pelo Conexão Tocantins, alvo de inquérito do STF, a senadora Kátia Abreu (PMDB), tinha como codinome “Machado” e teria recebido R$ 500 mil.
Pedidos de investigação
Também conforme publicado na semana passada, o relator da operação Lava Jato no STF, Edson Fachin, pediu abertura de inquérito pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra o governador Marcelo Miranda; e nas instâncias respectivas, pediu que sejam investigados o deputado federal Irajá Abreu (PSD), os ex-governadores Siqueira Campos (sem partido) e Sandoval Cardoso; o deputado estadual Eduardo Siqueira Campos, os prefeitos Ronaldo Dimas e Laurez Moreira, Júnior Coimbra, Marcelo Lelis, Eronildes Teixeira de Zeila Ribeiro.
Pagamento
Sobre como se davam os pagamentos, a delação aponta que a Mário Amaro, ex-diretor-presidente da Saneatins, cabia informar o dia, local, horário e senha para a pessoa buscar o dinheiro em São Paulo.
O outro lado
Na semana passada, quando foi divulgada a lista de nomes dos alvos de inquéritos e dos citados nas delações dos executivos, tanto o governador quanto outros citados se manifestaram, por meio de notas, sobre o assunto. Todos negando reterem recebido recursos de forma ilegal. Confira aqui as respostas.
Nesta segunda, o Conexão Tocantins entrou em contato com a Secretaria da Comunicação, que solicitou que o questionamento fosse direcionado à assessoria Jurídica de Marcelo Miranda. Até o momento, não obtivemos resposta.O espaço permanece aberto para aqueles que desejarem se posicionar.