O curso de Turismo Patrimonial e Socioambiental do Câmpus da UFT em Arraias dará início, ainda neste primeiro semestre, a um trabalho de mapeamento de bens culturais imateriais da região das Serras Gerais (Sudeste do Tocantins e Nordeste de Goiás). O Entrudo, festa carnavalesca tradicional e característica desta região, especialmente em Arraias, será objeto do projeto-piloto do curso, que visa a criação de um inventário cultural do Tocantins.
Segundo a professora e coordenadora do curso, Valdirene Gomes dos Santos de Jesus, o projeto terá como base a metologia de inventário participativo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), porém com adaptações, conforme antecipou a professora. "Este semestre ainda vamos dar início ao projeto-piloto com a festa do Entrudo, mas a intenção é abranger o máximo de bens culturais das Serras Gerais, embora entendamos que a demanda é para todo o Estado e região", pontua.
O Inventário pretende abarcar bens culturais os mais diversos; estes bens, que são de natureza imaterial, dizem respeito às "práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas", segundo o próprio site do Iphan.
Moda kalunga
A moda kalunga é outro dos bens culturais que deverá ser mapeado pelo curso. Valdirene desta que a relevância do inventário da cultura de uma região pode ser exemplificado no que a moda kalunga está trazendo como referência, por exemplo. "A partir dos valores culturais da comunidade kalunga, ela está ressignificando isso a partir da visão da moda; isso pode estar acontecendo com outros elementos e aspectos da cultura do Tocantins e também do nordeste Goiano", pontua.
Nesta semana o curso promoveu, como parte das comemorações dos 80 anos do Iphan, uma roda de conversa sobre turismo e patrimônio cultural do Tocantins, com a técnica do Iphan no Estado, Cejane Pacini, e um desfile de moda kalunga. Os alunos dos curso do Câmpus de Arraias (Turismo, Pedagogia, Matemática, Educação do Campo, do Instituto Federal Goiano e também da comunidade) foram os modelos das peças, únicas, trazidas pela estilista Tuya Kalunga. Foram mais de 30 peças, que representam, segundo Valdirene, um resgate dos valores e tradições quilombolas.
A autora das peças, a estilista Tuya Kalunga (nome adotado por Maria Helena Serafim, da comunidade Tinguizal-Kalunga de Monte Alegre de Goiás) destacou que demonstrar as peças num evento na Universidade proporciona não apenas visibilidade, mas enfatiza a potencialidade da cultura. "É uma ponte para que os territórios quilombolas alcancem seus objetivos, e se façam sujeitos de sua própria história. Solidifica ainda os sentimentos e sujeitos de resistência, empoderamento e luta, fortalecendo a identidade, o território e a territorialidade", pontua.