A Embrapa e parceiros estão começando, no interior do Tocantins, o projeto piloto de transferência de tecnologias para segurança alimentar utilizando o chamado “Sisteminha da Empresa”. É uma tecnologia simples, que alia produção de proteína animal (geralmente peixe) com o uso de pequenas áreas por meio de cultivos como hortas, milho e verduras.
Originalmente desenvolvida pela Embrapa Meio-Norte, que fica no Piauí, a tecnologia vem sendo implantada em diferentes regiões do país. Agora, é a vez do Tocantins conhecer melhor o sisteminha através do “Projeto Prato Cheio”.
Marcela Mataveli é analista de transferência de tecnologia da Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas/TO) e coordena o projeto. Ela explicou que o objetivo é levar segurança alimentar e nutricional para as famílias quilombolas beneficiadas. Estão sendo implantados 20 sisteminhas em Brejinho de Nazaré, município que fica na região Centro-Sul do estado. São 15 na comunidade Malhadinha e 5 na comunidade Córrego Fundo.
Já em Almas, região Sudeste do Tocantins, vão ser sete sisteminhas implantados: um no Colégio Agropecuário da cidade e seis nas comunidades Baião e Poço Dantas, sendo três em cada. A participação das comunidades de Almas é pelo interesse que demonstraram em trabalhar com piscicultura e por na região já haver o projeto barraginhas, que capta água de chuva para recarregar o lençol freático. Os quilombolas que receberão os sisteminhas foram escolhidos entre eles próprios, sem indicação externa da Embrapa ou do Ruraltins.
Na terça-feira, 13 de março, foram aplicados questionários junto aos quilombolas que implantarão o sisteminha. Segundo Marcela, “pela aplicação dos questionários, dá pra perceber que elas (as comunidades) estão em insegurança nutricional. Claro que a gente vai fazer avaliação de tudo (das respostas dos questionários), mas isso a gente já consegue constatar”. A analista da Embrapa elogia a postura dos quilombolas: “a gente sabe que aqui as comunidades têm problema de água. Mas mesmo assim elas aceitaram; elas consideram um desafio, que é fazer algo diferente, mas um desafio pra uma melhoria de vida, pra produzir mais”.
Marcela também considerou positivo o interesse dos selecionados. “Está todo mundo muito empenhado, querendo buscar informações, com o próprio Ruraltins, além da Embrapa, já perguntando quais são as próximas etapas do projeto, quando a gente vai voltar. Está todo mundo muito engajado. A gente espera que de fato o sisteminha possa contribuir com a vida dessas pessoas”.
As perspectivas, portanto, são boas de que o Prato Cheio, que está sendo viabilizado financeiramente por meio de emenda parlamentar do deputado estadual Paulo Mourão, possibilite mais que a instalação dos sisteminhas nas duas comunidades. A ideia é que o projeto contribua efetivamente para a melhoria da qualidade de vida dos quilombolas por meio de uma alimentação mais rica, sobretudo do ponto de vista nutricional.
Boas Expectativas
O extensionista do Ruraltins João Filho também está envolvido no Prato Cheio. Segundo ele, “na medida em que foi divulgado o projeto, eles (os quilombolas) se empolgaram. São comunidades que estão já organizadas há mais de 10 anos. Da forma como foi feito, ficou muito interessante porque eles mesmos é que decidiram onde vão ser implantados os sisteminhas”. Após reunião de apresentação da proposta, os próprios quilombolas se reuniram divididos por comunidade, e discutiram sobre quais os três representantes receberão o sisteminha.
João está esperançoso com a chegada do Prato Cheio às comunidades quilombolas de Almas. “Eu acredito que vai dar tudo certo. Eles (os quilombolas selecionados) vão implantar, com o acompanhamento do Ruraltins. Eu estou muito animado com esse projeto. Com certeza, vai dar tudo certo”, afirmou. Caberá ao Ruraltins fornecer assistência técnica para a montagem dos tanques que fazem parte dos sisteminhas e acompanhar a produção junto aos quilombolas. Já a Embrapa vai fornecer material para a montagem do sisteminha e ração por determinado período, além de avaliar as tecnologias envolvidas.
Por sua vez, os beneficiados vão coletar parte do material que será usado na montagem dos sisteminhas (papelão e madeira) e receber nas propriedades a equipe que acompanhará o projeto. Um dos quilombolas que receberão a tecnologia é Odorico Antônio Araújo, que acredita no Prato Cheio. “Estou animado e acho que vai dar certo. Eu achei muito importante. Já tinha visto (o sisteminha) uma vez por foto. Aí, eu sempre pensando ‘se chegasse por aqui, era bom’. E apareceu. Eu até falei pra turma: ‘rapaz, não deixa passar’”, contou animado.