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Opinião

Uma greve que compromete a funcionalidade quase que absoluta da sociedade não pode deixar de ser considerada um fenômeno marcante. Sobretudo num ano de eleições. Políticos todos os anos são e eleições não enfeixam o fenômeno como um todo.

Preocupantes são as manifestações de apoio aos caminhoneiros que paralisaram o País. Preocupantes são as manifestações deles, caminhoneiros, e de segmentos que os aplaudem.

Em jogo não está o governo tampão e anêmico de Michel Temer, mas o futuro de nossas instituições.

É grave a opção por um governo militar.

A democracia é uma planta tênue na América Latina, disse um historiador. Alguns anos de liberdade não solidificam um regime aberto, permanentemente. As lições são vastas. Governo militar está na fronteira de regime militar e, mais adiante, de ditadura militar. Gerações que não a experimentaram em nosso país acreditam, com ingenuidade, em "ditadura de boas intenções".

Nosso continente sofrido alternou momentos democráticos e outros de infames ditaduras. Há cerca de meio século passado, uma nonada na história longa da humanidade. Mario Vargas Lhosa se refere à "peste do autoritarismo". Venha da esquerda ou da direita. Da esquerda veio com seus tanques o general Juan Velasco Alvarado, no Peru.

Sua herança "progressista" foi o fechamento da imprensa, expropriações de jornais para serem seus ventríloquos. A utopia esquerdista feneceu sob o autoritarismo, assim como na União Soviética, Cuba, Nicarágua, Venezuela, Bolívia etc; ou, como queiram, o populismo travestido de esquerda e promotor de grandes misérias.

E as ditaduras de direita são igualmente ou mais desastrosas. O que nos legou, no campo econômico e social, a ditadura que, recentemente, nos infelicitou por vinte anos, suas prisões, torturas e mortes? Exatamente as raízes da crise econômico-social que vivemos no presente. O que entregaram de bom a seu povo o General Jorge Rafael Videla e seus prosélitos, na Argentina, além de esmagar as críticas, prender escritores e artistas, estimular milícias que penetravam nos lares de intelectuais e os sequestravam e matavam, e o faziam até no exterior, como na tragédia do poeta Juan Gelman? O que legaram senão somente as "viúvas da Praça de Maio?".

Pinochet, Garrastazu, os Somoza, Banzer, é isso o que imagina de bom para o Brasil esse segmento que o abalou, certamente por reivindicações justas, no plano político?

Nunca foi tão necessária no Brasil a união de forças democráticas, em que se garantam as liberdades públicas, a economia livre e as garantias dos direitos individuais. As retificações de governança somente podem ocorrer no plano da democracia. Fora disso, gera-se um monstro. Os caminhoneiros poderão, num movimento sob uma ditadura militar, voltar ao trabalho ao primeiro choque elétrico ou ser castrado por um cachorro um de seus líderes numa masmorra qualquer.

Não afirmamos que nossas Forças Armadas atuais guardem semelhança com os demônios e gangsters que praticaram esses atos. Porém, fora de democracia não há salvação. E um governo, ainda que escolhido nas urnas, de um só segmento da sociedade - os militares - é o primeiro passo no rumo de nova ditadura. Assim tem sido a história de nossa Latina América; o Brasil de hoje passa por um momento de negras trevas em seus horizontes.

Não podemos admitir que se convertam em uma tempestade de ódio, força, opressão, que jamais foram meios de progresso e construção nacional.                                                                                         

Amadeu Garrido de Paula é Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.