A Polícia Civil indiciou o presidente da Assembleia Legislativa do Tocantins, Antônio Andrade (PHS) e o filho dele, vereador de Porto Nacional, Tony Andrade (PSD), pelos crimes de peculato e associação criminosa por comandarem um suposto esquema de funcionários fantasmas no gabinete do deputado.
Segundo o inquérito policial, os “fantasmas” eram indicados diretamente pelo deputado e, em um acordo direto com o político, era combinado que os salário, ou parte dele, seria devolvido ao vereador Tony Andrade ou a terceiros indicados pelo próprio deputado – o esquema é popularmente conhecido como “rachadinha”.
Além de Antônio e Tony Andrade, também foram indicadas outras seis pessoas suspeitas que seriam os funcionários nomeados no gabinete do deputado estadual que receberam salários sem prestação de serviço ou frequência de ponto. São elas: Leandro Vinícius Ferreira Vilarinho, Franklin Delano Matos Maia, Antônia Rosal de Oliveira Vilarinho, Adriana Alves Paranhos, Ludovino Roma da Silva e Jales Macedo Fernandes.
Prejuízo
De acordo com o inquérito policial, o valor total desviado dos cofres públicos é de mais de R$ 1,1 milhão entre janeiro de 2015 e fevereiro de 2019. Um dos funcionários fantasmas - Franklin Delano, que é marido de uma prima do deputado - chegou a receber neste período mais de R$ 300 mil em 50 pagamentos realizados, repassando a Tony Andrade a quantia de R$ 155 mil.
Marido da prima do deputado chegou a receber mais de R$ 322 mil durante o período de contrato.Franklin confessou em depoimento à polícia que recebeu os valores sem trabalhar e que foi nomeado através de um acordo com o vereador Tony Andrade, de forma que deveria devolver mais de 80% dos proventos recebidos. O indicado também revelou que, “quando os valores ultrapassavam o limite bancário para transferência, sacava e entrega em mãos”.
Segundo o inquérito, foram identificados dois padrões no esquema. Em um deles os “fantasmas” transferiam parte dos valores imediatamente após o recebimento do salário, no outro, os assessores sacavam o dinheiro e o repassavam em espécie a terceiros indicados pelos políticos, dois deles foram identificados como Aldé Cabelereiro” e “Baiano Chaveiro”.
Extrato bancário anexado ao inquérito policial demonstra transferência imediata de valor recebido em conta de investigada.A conta bancária utilizada no suposto esquema criminoso para recebimento dos valores pertencia a Tony Andrade. O investigado Leandro Vilarinho, teria devolvido a Tony Andrade aproximadamente 95% dos valores que recebeu.
O inquérito destaca que não foram encontradas transferências bancárias a partir das contas do Banco do Brasil de titularidade dos investigados Jales Fernandes, Adriana Paranhos e Ludovino da Silva, o que apenas corrobora suas confissões, já que esses declararam ter repassado o dinheiro desviado em espécie.
Depoimento
O inquérito traz ainda o conteúdo do depoimento de Antônio Andrade que afirmou “desconhecer que quaisquer assessores parlamentares vinculados a seu gabinete repassassem parte de seus proventos a sua pessoa, mediante transferências ou em espécie”. Andrade não disse à polícia quais os critérios de escolha para nomeação de servidores em seu gabinete. Revelou ainda que conhece Aldé Cabelereiro e Baiano Chaveiro, mas que não pediu a ninguém que repassasse dinheiro a eles. Já sobre a nomeação do marido de sua prima, Andrade disse desconhecer a situação.
Tony Andrade foi intimado, mas ficou em silêncio durante o depoimento.
O Conexão Tocantins tenta contato com advogados do deputado e do vereador. A reportagem não conseguiu contatos dos outros seis indiciados pela polícia.
O inquérito, que será encaminhado ao Ministério Público Estadual (MPE), é assinado pelos delegados da Delegacia de Repressão a Crimes de Maior Potencial Contra a Administração Pública (DRACMA) Guilherme Rocha Martins, Luciano Barbosa de Souza Cruz, Bruno Sousa Azevedo e Gregory Almeida Alves do Monte.
Esquema mostra como funcionava o esquema da chamada "rachadinha" comandado pelos Andrade.