Aconteceu nesta última segunda-feira (2) a Reunião Técnica sobre Reprodução de Tambaqui e Capacitação para Coleta de Dados Reprodutivos no auditório da Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas/TO). Na ocasião, produtores parceiros do projeto Amazongen dos estados de Tocantins, Amazonas e Rondônia compareceram ao evento, cujo objetivo foi levantar informações sobre as técnicas utilizadas pelos produtores na reprodução do tambaqui e capacitá-los para coletar os índices reprodutivos que serão utilizados no gerenciamento do plantel e alimentarão o software que está sendo desenvolvido no projeto.
O Amazongen é financiado pelo Fundo Amazônia e é voltado para a transferência de tecnologia. O projeto visa montar três núcleos satélites, que consistem na organização dos planteis de produtores de tambaqui, com a implementação de controles para futuramente gerar relatórios que vão auxiliar no momento da reprodução. Além da Embrapa Pesca e Aquicultura, são parceiros do Amazongen os centros de pesquisa da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Amazônia Ocidental e Rondônia.
Após as boas vindas da chefia, foi apresentado o projeto e os critérios para se estruturar um núcleo satélite. Na sequência, os produtores apresentaram suas fazendas. A primeira a falar foi a proprietária da Aquicultura Fazenda São Paulo, de Brejinho de Nazaré (TO), Miyuki Hiashida. “Meu trabalho com aquicultura começou em 1987, antes mesmo de existir o estado do Tocantins, com produção de camarão de água doce. Mas não tivemos sucesso por problema de mercado, que rejeitava o produto”, recorda ela. Em 1994, resolveu trabalhar com tambaqui, caranha, piau e curimatã. Hoje boa parte da produção de tambaqui, tambatinga, surubim, piau e curimatã é direcionada para o Pará, mas ela também comercializa peixes para a Bahia, Mato Grosso, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Após parceria com a Aquabel (que produz alevinos de tilápia, com foco em melhoramento genético, alto volume de produção e fornecimento contínuo de alevinos ao longo do ano), a empresa passou a ocupar 50 por cento dos viveiros e mais da metade dos laboratórios da Fazenda São Paulo.
“A média de produção por safra, que é de setembro a março, é de 8 milhões de alevinos. Na entressafra, 4 milhões”, contabiliza Miyuki.
Tambaqui sem espinha intramuscular
O segundo produtor a se apresentar foi Jenner Bezerra de Menezes, da Biofish Aquicultura, de Rondônia. Fundada em 1996, a empresa herdou uma estação de piscicultura do governo estadual e possui sedes nos municípios de Porto Velho e Ariquemes. Trabalham com reprodução, comercialização e produção de tambaqui (90 por cento do total), além de pirapitinga, jaquarana, piau, pacu e pirarucu.
“Nossa estrutura em Porto Velho é de 36 viveiros, com quatro hectares de área alagada e 400 matrizes. Já em Ariquenes temos 12 viveiros e dois hectares de área alagada”, descreve Menezes, que atualmente desenvolve pesquisa utilizando espinafre chinês cultivado nos tanques dos peixes, numa espécie de ilha, que é oferecido na complementação da alimentação de bovinos, suínos e caprinos. “A gente acredita muito nessa integração na aquicultura”, destaca ele.
Menezes também relatou a descoberta, por acaso, de tambaquis sem a espinha em Y, intramuscular, que inviabiliza a filetagem do peixe e prejudica sua comercialização. “Houve um lote sem essa espinha sem nenhuma causa aparente. No dia em que dominarmos essa reprodução, vai mudar a história da piscicultura no Brasil”, aposta ele, que comercializa alevinos para Rondônia e pós-larva para Amazonas, Mato Grosso, Pará, Bolívia e Peru.
Por fim, Paulo Renato Florentino Lopes, da Fazenda F Lopes, apresentou sua empresa, que também produz rações extrusadas. Atuando no Amazonas desde 1989, ele é parceiro da Embrapa Amazônia Ocidental desde 1998. “No início não tínhamos técnica nenhuma, misturávamos várias espécies juntas, dávamos bolachas e pão para os peixes, etc. Só depois é que passamos a fazer a criação da forma correta e a Embrapa nos ajudou muito nisso”, relata ele, que recorda a quebra de paradigma na época. “Havia uma ideia de que peixe de criatório tinha gosto de barro e pior que tinha mesmo. Afinal, peixe tem o gosto do que ele come. Foi difícil o mercado aceitar peixe de cativeiro e conseguirmos espaço num mercado acostumado com peixe de captura”, relata Lopes.
Ele conta que não possui muita experiência em reprodução, tendo maior foco na engorda do tambaqui. Investindo no momento em laboratório e na genética, Lopes lamenta ter lotes de alevinos com resultados excelentes e outros, péssimos. Atualmente a fazenda possui 20 hectares de sistema intensivo e produz 400 toneladas de tambaqui por ano. “Tudo isso tendo que bombear água da barragem 60 metros acima, que é onde é permitida a produção. É proibido produzir nas barragens do Amazonas, que são reservas ambientais”, afirma.
Para atender à necessidade da piscicultura, passou a fabricar ração extrusada e hoje produz três toneladas por hora. “Na piscicultura produzimos até 23 toneladas por hectare de tambaqui, com 180 reprodutores e oito famílias. Nosso objetivo é chegar ao melhoramento genético”, pleneja.
À tarde o pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura, Lucas Torati, apresentou o software que está sendo desenvolvido no projeto para auxiliar na reprodução de tambaquis. Na ocasião, os produtores puderam dar suas opiniões e expor necessidades. Em seguida, o grupo visitou os laboratórios e o Campo Experimental de Aquicultura (CEAq).