Há uma semana, no dia 12 de novembro, o Hospital Veterinário do Centro Universitário Luterano de Palmas - Ceulp/Ulbra, foi palco de um feito inédito no Tocantins: a primeira cirurgia de cólica em equino. Professores e alunos do curso de Medicina Veterinária do Ceulp, se dedicaram ao trabalho, que durou mais de três horas, entre a preparação e a cirurgia propriamente dita. Essa operação é um procedimento de alto risco, que exige muito preparo profissional e um grau substancial de tecnologia em equipamentos e materiais.
A doença é bastante comum entre os equinos. É uma disfunção do sistema digestivo, que ocorre por vários fatores relacionados principalmente à alimentação do animal. A aluna de Medicina Veterinária do Ceulp/Ulbra, Luciene De Marchi, explica mais sobre isso: “Essa doença é secundária a algum outro problema que o animal tenha. Uma ração, a qualidade da alimentação, o sistema de estabulação, o tamanho dos alimentos, que dá algum problema na dentição ou a qualidade do feno. Por exemplo, agora no período de seca é difícil, porque a gente não tem pastagens verdes, então o processo de fenação permite que se tenha um banco de alimento para os animais nessa época. Mas é preciso estar atento a qualidade desse feno”.
O problema todo está no fato de que quando temos um alimento de difícil digestão, ele se deposita no intestino do animal e fica compactado, gerando intensa dor. “O alimento não digere por causa da qualidade da fibra, que vai se acumulando e é isso o que causa a cólica. A cirurgia consiste justamente em descompactar, tirar esse material do intestino, para que o organismo do animal volte a funcionar como deveria. Ela é um procedimento de emergência, porque a cólica leva a alterações fisiológicas sérias no animal, que pode vir a óbito”, explica a acadêmica. Além disso, a evolução do quadro infeccioso é muito rápida, por isso a doença deve ser tratada com urgência e quando avança, se torna necessária a intervenção cirúrgica.
Primeira cirurgia
Por se tratar de uma operação emergencial, com tantos riscos envolvidos e principalmente, pelo porte físico dos equinos, a cirurgia nunca havia sido realizada no estado. Até então, o Tocantins não tinha uma estrutura veterinária que comportasse um procedimento desse tamanho e o destino de grande parte dos animais acometidos de cólica aqui, era a morte.
O professor do Centro Universitário, Guilherme Motta, foi quem conduziu a operação e afirma: “Este é um procedimento de alta complexidade, que exige a execução de anestesia geral inalatória e uma estrutura bem aparelhada. A gente precisa ter um centro cirúrgico, encanamento de gases, aparelho de anestesia e rigor de assepsia na instalações e materiais. A mesa operatória que a gente necessita para realizar esse procedimento também é especial. Então é um procedimento caro, que exige um alto grau de tecnificação para ter sucesso. E no estado do Tocantins só o Hospital Veterinário do Ceulp/Ulbra tem”. Ao todo, a cirurgia durou cerca de três horas e envolveu mais de quinze pessoas.
Resultado
Apesar de todos os esforços da equipe, o garanhão quarto de milha não resistiu. “Ele já era um paciente que tinha indicação de eutanásia, por conta dos achados clínicos e laboratoriais que tornavam seu prognóstico desfavorável; mesmo assim o proprietário decidiu tentar. O animal suportou a indução anestésica, suportou a manutenção, mas a recuperação dele foi muito ruim. Ele levou três horas e quarenta minutos para se levantar e às 4h da manhã, morreu”, relata o professor.
Ainda assim, do ponto de vista médico e principalmente tendo em vista seu pioneirismo, a cirurgia foi um sucesso. Era esperado que o cavalo não resistisse sequer à anestesia inalatória, mas ele foi muito além. Para a aluna quase formada, Luciene De Marchi, a experiência foi única: “A gente prefere que o animal não precise ser submetido a uma cirurgia, mas já que foi necessário e a faculdade possibilitou aos alunos acompanhar o procedimento, é enriquecedor e inovador! Há uma certa curiosidade por parte dos alunos, porque a cólica equina é algo muito frequente nesses animais. Então a cirurgia é algo que pode não ser feito com frequência, mas é necessária, por acometer tantos animais”.
Hoje, o Hospital Veterinário do Ceulp/Ulbra tem a estrutura mais completa em tratamento médico animal do Tocantins. Com exceção dos laboratórios, que funcionam em horário comercial, todos os demais setores do Hospital atendem 24 horas por dia.