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Opinião

Neste momento marcado pela eclosão de mais uma etapa da crise capitalista, onde a ocorrência da pandemia dá um contorno ainda mais dramático do que a crise de 2008, temos um grande paradoxo: as nações mais rica do mundo, mais armadas e mais endividadas passam a ser recordistas de morte pelo coronavírus. Aqui veremos com mais detalhes o fato dos Estados Unidos possuírem o maior orçamento militar do planeta e o maior número de bases militares nos mais variados países, além do domínio sobre os principais meios de comunicação do mundo, enquanto ocupa o primeiro lugar em mortes.

Vale lembrar que este vírus teve incio na China e rapidamente se propagou pelo mundo, especialmente nos países que resistiram em colocar em prática o isolamento social. Todavia, o combate ao vírus não se faz apenas com a declaração do isolamento social, mas da eficácia das politicas sociais, com destaque para a politica de saúde pública adotada ou não.

Na china tivemos a combinação da politica de isolamento social com a intervenção de politica de saúde pública, que acabaram gerando meses de paralisação econômica e de controle da pandemia, que resultou num número de 81.953 infectados e 3.350 mortos, numa população de 1,400 milhão de habitantes. Na primeira semana de abril a China começou a flexibilizar a quarentena, mesmo com o risco de nova contaminação, especialmente dos vindos de fora do país. Enquanto isso, os EUA, que num primeiro momento tinham resistido a adoção da quarentena, assumem o primeiro lugar no número de mortos de 18.961 de um total de infectados de 503.177, mesmo tendo feito teste em 2.538.888,00 habitantes, de uma população de 328 milhões. É importante lembrar que a maioria dos mortos são negros e latinos americanos pobres. O segundo lugar, vem da Itália com 147.577 infectados e de 18.849 mortos de uma população de 60 milhões de habitantes e com 906.864 de testes realizados.

O terceiro lugar, vem da Espanha com 161.852 infectados com 16.850 mortos de uma população de 47 milhões de habitantes, com 355.000 testes realizados. Em quarto lugar, temos a França com 124.869 infectados com 13.197 mortes numa população de 67 milhões de habitantes, onde 333.807 fizeram o teste. Em quinto lugar temos a Alemanha com 122.855 infectados e 2.736 mortos numa população de 83 milhões habitantes, onde 1.317.887,00 foram testados. Entre os mais atingidos não estão os países mais populosos, mas os países que fazem parte do G 7, países ricos do mundo e que juntos concentram grande parte do PIB mundial e dos gastos militares.

Entretanto, especialmente nos países que compõe a União Europeia, com a exceção da Alemanha, temos os países que são praticantes da politica de austeridade que fundamentou a criação da União europeia e do Euro. Enquanto seus vizinhos, Itália, Espanha e França, ultrapassam os 10 mil mortos cada, a Alemanha chegou a 2.500.

Por outro lado, os Estados unidos, que gastam por ano acima de US$ 700 bilhões ou R$ 3,6 trilhões com o orçamento militar e gastaram trilhões de dólares com a salvação de grandes empresas e grandes bancos na crise de 2008, não tem o desejo para bancar um sistema saúde pública, nem mesmo para 29 milhões de americanos que não dispõem de plano de saúde privado e que estão ainda mais vulneráveis a propagação dessa pandemia.

Dessa forma, a vulnerabilidade estadunidense no sistema de saúde pública acaba por fragilizar a sua gigantesca máquina de Guerra, como ocorreu com o Porta aviões nuclear Theodore Roosevelt quando 550 militares foram contaminados. Neste episódio o Comandante foi destituído da função, porém aplaudido pelos ex-comandados, por ter autorizado a evacuação imediata de todos os tripulantes. Tal contaminação também ocorreu num Porta aviões Frances, neste mesmo período. Este país que se caracteriza pelo extremo neoliberalismo e gasta do seu orçamento grande parte dos recursos com a corrida armamentista e com o pagamento do serviço da dívida da maior dívida pública do mundo com 100% do seu PIB, enquanto permite a saúde ser um grande negócio, o que compromete um efetivo combate ao coronavírus.

Neste momento é importante perguntar a serviço de quem estão essas máquinas de guerra que podem destruir o planeta 17 vezes? Historicamente sabemos que as respectivas máquinas de guerra estão a serviço das grandes corporações monopolistas, que usam seus respectivos estados nacionais e o dinheiro público para a disputa pelo mercado mundial, enquanto negam a maioria da população os direitos mais básicos, especialmente na fase neoliberal. Foi assim na Primeira e Segunda Guerra, durante a Guerra fria e nos dias atuais. No caso estadunidense esta máquina de guerra sempre esteve na organização e de apoio a golpes militares, especialmente na América latina, para imposição de governos comprometidos com a opressão dentro de cada país e da transferência para os grandes grupos monopolistas de parte a riqueza aqui extraída.

Todavia, apesar dos países do G7 terem um elevado gasto militar trata-se de uma tendência mundial. Segundo o Instituto de Pesquisa sobre a Paz Internacional de Estocolmo, o gasto militar mundial em 2015 foi de US$ 1,7 trilhão ou R$ 8,5 trilhões. Este valor era muito próximo do PIB de US$ 1,6 trilhão ou R$ 8,3 bilhões, quando o Brasil era a sexta economia do mundo. Estes valores se referem a soma anual de tudo o que os países gastaram não apenas com guerra e aquisição de material militar, mas também na manutenção de pessoal - incluindo pensões, que ocupam uma grande parte dos orçamentos militares. Segundo esta mesma fonte se esses governos destinassem 10% dos gastos militares anuais para o combate à pobreza e à fome, os problemas estariam resolvidos até 2030, com as metas da ONU sendo atingidas.

Na pandemia atual para ser combatida com eficácia precisamos analisar porque uma grande parte da população mundial, independente de ser país desenvolvido ou subdesenvolvido, não dispõe de alimentação, habitação (para o isolamento social) e especialmente de água e sabão para que se possa lavar aos mãos e principalmente de um sistema de saúde pública que permita um acesso universal? A resposta a esta questão vem da própria lógica capitalista de enriquecimento privado e do empobrecimento social, somada ao processo de privatização de todos os serviços públicos, enquanto priorizou o pagamento das respectivas dívidas públicas e do crescente gasto militar. Se os países mais ricos estão assim, imaginem como esta tragédia poderá ser ainda mais amplificada nos países subdesenvolvidos?

*José Menezes Gomes é professor da UFAL, coordenador do Núcleo alagoano pela auditoria cidadã e membro da Rede de Cátedras sobre dívida pública.