A campanha nacional Julho Verde chama atenção para a prevenção e tratamento de tumores de cabeça e pescoço. O dia mundial de conscientização e combate a esses tipos de cânceres foi celebrado no dia 27 deste mês.
O câncer de cabeça e pescoço é um grupo heterogêneo de tumores que afetam estruturas anatômicas localizadas nestas regiões, como boca, cavidade oral, nasofaringe, orofaringe, hipofaringe, laringe, cavidade nasal, seios paranasais, glândulas salivares, tireoide e gânglios linfáticos, as quais envolvem funções da fala, deglutição, respiração, paladar, olfato e outras.
Geralmente, a doença começa nas células escamosas que revestem as superfícies mucosas úmidas no interior da cabeça e pescoço. Também pode começar nas glândulas salivares, mas cânceres das glândulas salivares são relativamente raros.
Os principais sinais e sintomas do câncer de cabeça e pescoço dependem do órgão afetado, mas costumam ser vagos de início, e por isso podem levar a um atraso no diagnóstico. No entanto, algumas queixas mais típicas podem ser destacadas de acordo com o local e órgão afetado.
No câncer de seios nasais há feridas duradouras que não cicatrizam, sangramento nasal ou obstrução nasal permanente; no câncer da nasofaringe há nódulos ou massas no pescoço em 90% dos casos, otites crônicas, cefaleia e alterações neurológicas. No câncer de orofaringe há também dificuldades de engolir e dor no ouvido; já no câncer de laringe observa-se rouquidão e tosse.
No câncer da cavidade oral ocorrem feridas ou elevações que não cicatrizam, alterações dentárias incomuns ou dificuldade em fixar próteses dentárias.
Essas são características clínicas que alertam para um possível diagnóstico da doença e devemos estar atentos. Quanto mais cedo procurar uma unidade de saúde, mais precoce será o diagnóstico, com maiores possibilidades de tratamento resultando assim em melhor qualidade de vida e sobrevida e até mesmo a cura.
O fumo e o álcool são os principais fatores envolvidos com o câncer de cabeça e pescoço, especialmente os tumores da cavidade oral, orofaringe, hipofaringe e laringe. Os indivíduos que combinam os dois fatores têm até 200 vezes maior chance de desenvolver câncer que os que não fumam, nem bebem.
Outros fatores conhecidos são as infecções virais, exposição ocupacional (ao pó de madeira, por exemplo, e outros), exposição à radiação, fatores dietéticos (consumo de certas conservas, por exemplo) e tendência genética.
Outros fatores podem ser uma dieta rica em gorduras, o hábito do chimarrão (pode aumentar em até 2 vezes o risco de câncer de laringe) e a má higiene oral.
O papilomavírus humano (HPV) também é um fator de risco para alguns tipos de cânceres de cabeça e pescoço, particularmente câncer de orofaringe.
O tratamento para câncer de cabeça e pescoço é multidisciplinar e envolve diversos profissionais de saúde. As opções dependem da localização do tumor primário, idade do paciente, presença de comorbidades e incluem intervenções cirúrgicas, sessões de radioterapia e quimioterapia, além da utilização de medicamentos imunoterápicos em alguns casos.
No Brasil, na maior parte das situações, infelizmente os diagnósticos são feitos tardiamente, em estágios avançados da doença com tratamentos mais agressivos gerando sequelas físicas, estéticas, psicológicas e funcionais irreversíveis, que prejudicam a qualidade de vida do paciente.
A evolução do câncer de cabeça e pescoço depende da extensão da doença e da presença de doenças associadas, se houver. Sempre que possível, busca-se o tratamento de preservação dos órgãos afetados.
Portanto o melhor tratamento ainda é a prevenção .
A principal medida de prevenção do câncer de cabeça e pescoço é evitar o tabagismo e o etilismo. É essencial também manter uma boa higiene bucal, ter os dentes tratados e fazer uma consulta odontológica de controle a cada ano.
Uma dieta saudável, rica em vegetais e frutas também é capaz de prevenir o câncer de cabeça e pescoço, bem como evitar a exposição ao sol em horários de alta radiação ultravioleta ou utilizar filtro solar e chapéu de aba longa.
É importante evitar a infecção pelo HPV oral porque certos tipos de cânceres da cabeça e pescoço são associados a este vírus.
Juliano Borges Mano é otorrinolaringologista; cirurgião de cabeça e pescoço; e cirurgião crânio-maxilo-facial; em atuação no Hospital Geral de Palmas (HGP) e na Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de Palmas