Muita música e poesia é o que promete o lançamento do livro “Alçando Voos com João Ícaro - Poemas e Canções”, programado para a próxima segunda-feira, dia 21 de novembro, às 20 horas, no Teatro de Bolso do Memorial Coluna Prestes, na Praça do Girassóis, em Palmas/TO.
O aperitivo musical terá Braguinha Barroso, Genésio Tocantins, Dorivã, Lucimar, Chico Chokolate, Yane Lopes, Diomar Naves, Chico Fran, João Baima, Diego Castelo, Keila Lipe, Humberto Pereira e Edmundo Oliveira. A obra reúne 29 poemas e 21 letras cifradas de músicas compostas por grandes nomes do cancioneiro tocantinense, paraense e maranhense, em cima dos textos do autor, contém 92 páginas e será comercializada a R$ 35,00 o exemplar. A entrada franca e mais informações podem ser obtidas pelo e-mail joaocruz.to@gmail.com.
Segundo João da Cruz, pai do João Ícaro (In Memoriam), será uma noite de congraçamento e celebração. “A nossa família espera todos os amigos e amigas e amantes das artes para esse momento ímpar nas nossas vidas”, convidou.
O livro é uma sensível e justa homenagem ao filho do casal João da Cruz e Celma Barros, João Ícaro Barros da Conceição, nascido a 21/11/1995 em Tucuruí (PA) e que faleceu prematuramente no dia 08/05/2014 em Palmas (TO), de câncer. Contém poemas, letras cifradas e ilustrações do autor, do Adrians, Costa Andrade (In Memoriam) e da Linces.
Outros lançamentos
O livro também será lançado em Araguatins, na 60ª edição do Sarau do Cerrado a partir das 19h do dia 26 de novembro, em frente a Casa da Cultura, e na Câmara Municipal de Palmas, na programação da 6ª edição da Semana de Arte & Cultura, às 8h do dia 1º de dezembro próximo.
Anjobiografia
Nascido na cidade Tucuruí (PA), no dia 21 de novembro de 1995, João Ícaro Barros da Conceição, filho de João da Cruz e Celma Márcia. Apesar de novos, seus pais planejaram e o amaram desde a confirmação da sua existência. Nos primeiros meses de gerado, o menino prodígio já se apresentava diferenciado, o desejo da sua mãe diariamente era comer terra molhada. Decidiu vir ao mundo no meio de um show do Nilson Chaves, cada música, um pontapé para nascer pro mundo. Um parto complicado, filho e mãe em sofrimento, e ele nasceu lindamente com seu choro rouco e saco roxo. Seus primeiros dois dias de vida já teve que enfrentar o desprezo da sua mãe amada, que teve uma depressão e o rejeitou. Mas seu olhar encantador a salvou e trouxe amor para seu lar. E assim cresce o menino inteligente, amoroso e obediente.
Por volta dos dois anos, faleceu seu bisavô paterno e durante o sepultamento do mesmo, João Ícaro saiu de perto da sua mãe em direção a um túmulo infantil. E ele rodopiava em volta, com gargalhadas e um diálogo como se fosse com alguém que o correspondia. A mãe, assustada com a cena, o tirou imediatamente de lá, mas ele pedia para deixá-lo brincar com seu amiguinho. Fato esse que ficou para sua mãe na ocasião como coisas da imaginação de uma criança.
Aos quatro anos de idade já lia gibis da Turma da Mônica e da Disney fluentemente e escrevia frases complexas. Seu desenvolvimento era extraordinário na escola, chamando a atenção da equipe escolar. Colecionava livros infantis, gibis, miniaturas de dinossauros e livros sobre os mesmos. Perto dos cinco nos, numa madrugada, ele sofre uma convulsão e o descobrimento de uma epilepsia. Não foi fácil para ele conviver com a doença, já que junto veio a superproteção, principalmente por parte da sua mãe. Tinha como seu melhor amigo, um cachorro da raça Basset (Cofap), de nome Sonic. Mas essa doença não atrapalhou seu desenvolvimento cognitivo, firmou sendo diferenciado. Aos sete anos ele se interessou em fazer desenhos, caricaturas de personagens dos desenhos animados que ele gostava. Aos nove anos, com incentivo da sua professora de Português do quarto ano, começou a escrever poemas. Esse período se estendeu até seus dez anos, contabilizando 27 poemas, que foram esquecidos no decorrer dos anos. Ao completar dez anos, João Ícaro ganhou dois presentes de amor: o nascimento de seu irmão Walter Lucas e a cura da epilepsia, parando de tomar os remédios que eram diários por cinco anos. Foi irmão, pai, mãe e melhor amigo do seu amado e esperado irmão. Na fase escritor, além do incentivo da professora teve o apoio da Ione Carvalho, secretária à época, da Academia Tocantinense de Letras, e que sempre convidava a família para participar dos eventos literários da academia e o chamava de poetinha.
Após o período dedicado às letras resolveu iniciar uma paixão e dedicação à música, através do violão que aprendeu praticamente sozinho, já que fez pouco tempo de aulas. Um dos incentivadores foi o amigo Alex Fabiano. Dedicado e autodidata, se aperfeiçoou tocando lindamente canções do seu agrado, como os grandes nomes da MPB, com sua voz rouca, passando pela puberdade. Decidido, resolveu aprender a tocar as músicas de Chico Buarque e Djavan, que estão entre as mais difíceis de se tocar.
Na virada do ano de 2012, com 16 anos de idade, após decidir não acompanhar os pais para a cidade dos avós no Pará, e se preparar para ministrar um curso de verão de AutoCad no IFTO, de Palmas (TO), descobre, sozinho na sua residência, que estava com um caroço no testículo (rabdomiossarcoma paratesticular). E como não poderia deixar de ser, ele já pesquisou e descobriu que estava com um câncer raro. Ligando chorando para a mãe e já relatando com detalhes o que tinha e o tratamento, a família desesperada retorna para a capital e inicia uma jornada em hospitais e médicos. Após duas semanas, foi feita a retirada do tumor, e aos trinta dias saiu o resultado que, para o João Ícaro, só confirmava seu diagnóstico inicial e se tratava de um linfoma raro e agressivo. Inicia então uma batalha em busca de mais uma cura na sua vida. A primeira quimioterapia veio 60 dias após a cirurgia, e com ela vieram as consequências: perdendo todos os cabelos e com dores absurdas, mas nunca tirou o sorriso do anjo puro iluminado.
Entre uma quimioterapia e outra, ele seguia sua rotina. Continuava sendo melhor aluno da turma de Edificações da IFTO, trabalhando com o pai no escritório com projetos, sendo melhor irmão e ganhando dinheiros extras com aulas de reforço para acadêmicos do curso de Engenharia Civil das universidades. Seu hobby neste período era jogar bola como os amigos e andar de bicicleta, cortando a cidade de Palmas ponta a ponta solitariamente e buscando energias para vencer a morte. Nesses dias, saia do futebol com os amigos e iam aos bares ouvir música ao vivo, uma de suas paixões.
Teve depressão e diversas pneumonias devido à baixa imunidade. Sofreu calado, nunca reclamou da vida, dos problemas. De poucos amigos, vivia como se não houvesse amanhã, se estendiam então dois anos de quimioterapia, junto a conclusão do seu ensino médio e a busca de uma cadeira no curso de Engenharia Civil da UFT e IFTO, conseguindo vaga nas duas e matriculando-se na segunda porque já tinha vínculo. Em 2014, janeiro especificamente, descobriu-se mais um tumor, este na virilha, que desencadeou uma trombose e o levou urgentemente para a sala de cirurgia, ficando oito horas no centro cirúrgico e três dias na UTI. Superação foi a palavra do momento e o projeto do garoto que tinha sonhos e ânsia pela vida. O médico falou que possivelmente ele não iria andar. Com fé em Deus e força, após sete dias ele andava nos corredores do hospital com a fisioterapeuta glorificando-o pela vitória. Foram meses no hospital encantando a todos. Passava os dias dando sustentação à fé da sua família que sofria com seu estado. Com muito amor e vontade de viver não se lamentava, e mesmo com dores absurdas, preenchia seu tempo com o violão, estudando, lendo e brincando com jogos que seu pai levou, WAR era o seu preferido. Companhia não lhe faltava: os pais, irmão, sua tia Telma, que veio do Pará ajudar a cuidar dele neste período, e os amigos da sua turma do IFTO que estavam presentes.
Sua formatura do Ensino Médio foi dentro do hospital, onde o reitor do IFTO - juntamente com professores, colegas e seus pais - fizeram uma linda e emocionante colação de grau. Ele, já matriculado no curso de Engenharia Civil no IFTO, com estudo domiciliar entre uma dor e outra. Durante mais três meses de hospital e com uma vontade de ir para sua casa, teve alta em uma linda manhã de sábado, para realizar o sonho de conhecer seu ídolo, o cantor Leoni, que se apresentaria numa boate de Palmas. Sabendo da sua história, o cantor e compositor o recebeu no camarim, encontro este emocionante com choros e abraços pelos dois. A maldita doença estava avançada e ele precisava retornar para as doses de morfina na veia, voltando para seu quarto frio, mas cheio de amor do Hospital Oswaldo Cruz. Os dias de luta se estendiam, abraçado com a dor diária de uma doença cruel e o amor contagiante de corações fraternos, transbordaram virtudes elevadas ao ser humano.
Era sim um anjo, puro, de alma leve, sorriso tímido com o coração gigante. Um ser que preenchia de amor e luz onde seu coração alcançava. Ele precisava partir, Deus o chamava, mas ele tinha uma preocupação: quem iria cuidar como ele do seu amor preferido, seu irmão Walter Lucas? Pois, já perdendo a consciência e voz, devido ao câncer ter tomado seu cérebro, ele soletrava docemente o nome do irmão em súplica. Sua mãe, com ato de amor, pediu para ele ir morar ao lado do pai e confiar que ela juntamente com seu pai iria ser o João Ícaro nos dias do Walter Lucas. Neste mesmo dia, às dez da noite, oito de maio de 2014, o menino homem, deu seu suspiro final, ouvindo pela voz do seu pai, os seus poemas, que estavam esquecidos e foram lembrados neste mesmo dia. Ao fundo, músicas que curtia, olhar amoroso do seu tio Celio que, emocionado, conhecia o lado poeta do seu sobrinho, e sendo acariciado pela sua mãe, tia Telma e duas amigas queridas, Bia e Helena. E assim ele se foi deixando lembranças de um ser humano exemplar de coração puro e que amava viver.