O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, afirmou na tarde dessa segunda-feira (26) que seria “egoísta e pouco inteligente” da parte do Brasil virar as costas para a Argentina neste momento de crise. A declaração se deu durante a visita do presidente argentino, Alberto Fernández, ao Congresso Nacional. Pacheco disse que trabalhará em conjunto com o Executivo para buscar soluções de auxílio ao país vizinho, que enfrenta um período turbulento na economia.
"Seria muito egoísta e pouco inteligente que o Brasil fechasse os olhos para os problemas da Argentina. Há uma relação de amizade, de apreço, de consideração, mas há, também, uma relação de interesse bilateral. Eu pedirei ao presidente Lula uma audiência específica para identificarmos como o Congresso Nacional brasileiro pode colaborar com as ações de fortalecimento da relação entre Brasil e Argentina. Isso também é importante para o Brasil", disse Pacheco.
Em visita oficial ao Brasil, Fernández foi recebido, mais cedo, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, onde recebeu uma condecoração. Este foi o quinto encontro entre os dois presidentes e ocorre no mês em que se celebram os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países. O principal tema tratado foi a ajuda à Argentina, que enfrenta desvalorização da moeda local, perda do poder de compra e altos índices inflacionários.
"Hoje é um dia especial para nós, um dia de celebração. Há 200 anos, temos um amigo que se chama Brasil. Somos amigos de um povo, que é o povo brasileiro. É um período complicado para a economia argentina. Aproveito esta celebração para pedir aos amigos que nos deem uma mão. É isso que eu espero que aconteça. Estamos relacionados indissoluvelmente", disse Fernández.
Parceria
Foto: Marcos Oliveira/Agência SenadoDurante a visita ao Senado, o presidente argentino lembrou o histórico de boas relações entre os dois países e disse que, apesar do peso da China, o Brasil continua a ser o maior parceiro comercial da Argentina. No entanto, a Argentina enfrenta uma grave seca, que fez com que fossem perdidas 20% das exportações, o equivalente a US$ 20 bilhões ao ano, segundo Fernández. Com isso, as compras de produtos brasileiros por parte da Argentina ficam prejudicadas.
Ele disse esperar que o Congresso trabalhe para a volta do Brasil ao Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR), sistema internacional de pagamentos entre os bancos centrais dos países-membros da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi). O Brasil deixou o CCR em 2019. "Isso facilitaria muito o intercâmbio comercial entre Brasil e Argentina em um momento como este. Saio daqui com a alegria de ver que os problemas que coloquei para o presidente Lula há um mês estejam encontrando soluções. Isso para nós é muito importante", disse Fernandez.
Mais cedo, o presidente Lula havia afirmado que não faz sentido que o Brasil perca espaço no mercado argentino para outros países porque eles oferecem crédito e o Brasil não. Ele disse estar trabalhando na criação de uma linha de financiamento das exportações brasileiras para o país vizinho.
Atos antidemocráticos
Durante o encontro, o presidente do Congresso e o presidente argentino reforçaram o compromisso com a democracia, ao relembrar os atos antidemocráticos ocorridos no Brasil em 8 de janeiro, com ataques às sedes dos três Poderes. Para Pacheco, a recuperação após os atos foi simbólica para a democracia. "Isso foi simbólico porque representou a força da democracia brasileira. Imediatamente, os três Poderes da República se uniram numa afirmação da democracia e este triste episódio da vida democrática nacional foi superado e vencido, mas não esquecido. A todo instante, precisamos afirmar nossa democracia, e isso também se aplica à Argentina. Sei que o senhor é um democrata e tem apreço pelas instituições", disse Pacheco.
Para Fernández, este é um movimento visto não só no Brasil, mas no mundo inteiro, que causa grande angústia. Ele afirmou que há uma pressão constante daqueles que não acreditam na democracia. "Alguns insistem em fazer com que a sociedade acredite que as frustrações vividas são culpa da política e da democracia. O que vocês fizeram foi responder com mais política e com mais democracia. Essa é uma grande lição neste momento tão difícil que nós vivemos. O Brasil tem que ficar muito orgulhoso com a resposta que deu", afirmou o presidente argentino. (Agência Senado)