Não é difícil no dia a dia você se deparar com um cachorro ou gato andando sem rumo pelos bairros das cidades, buscando algum alimento, água ou mesmo um simples carinho. Esses pets comunitários merecem, como todos os outros, uma vida digna, que requer o envolvimento de todos para que sejam colocadas em práticas ações coletivas de proteção.
Muitos desses pets vagam pelas ruas em razão do abandono, que é crime no Brasil desde 1998, pela Lei 9.605/98. Em 2020, a Lei Federal 14.064/20 impôs pena de até cinco anos de prisão para tutores identificados nesse ato ilícito.
No entanto, a penalidade é considerada relativamente leve quando comparada aos traumas que os animais abandonados podem sofrer. Pesquisa divulgada pelo IBP – Instituto Pet Brasil a partir de dados de 400 organizações e grupos de protetores que atuam no acolhimento desses animais, mostra que o Brasil abriga 184.960 pets em situação de abandono. Desse montante, 96% são cães e 4% correspondem a gatos.
Porém, mesmo sem um tutor definido, os animais criam laços de afeto e dependência na comunidade em que vivem. Mas como fazer para dar os cuidados e atenção que eles merecem? O Conexão Tocantins conversou com o Bruno Alvarenga, professor de Medicina Veterinária do CEUB – Centro Universitário de Brasília (CEUB), que orienta o manejo adequado para acolher e proporcionar uma melhor condição para esse grupo de pets.
O professor alerta que cuidar destes pets é uma responsabilidade compartilhada. Os cuidados básicos com animais comunitários são semelhantes aos oferecidos aos animais domésticos.
Alimentação balanceada, acesso à água limpa, vacinação e vermifugação periódicas. Também é importante identificar e tratar parasitas externos, como pulgas e carrapatos, que podem ser facilmente feitos durante a manipulação dos animais.
O especialista indica à comunidade comprar periodicamente medicações que previnem contra parasitas, podendo conferir proteção por até 90 dias.
Outro ponto levantado por Alvarenga é que a desnutrição, percebida pela perda acentuada de massa muscular e costelas proeminentes, não está restrita à falta de comida, mas também à falta de nutrientes específicos na dieta. Por exemplo, gatos não sintetizam taurina em seus corpos, sendo necessário seu fornecimento na dieta. O uso de rações próprias para cada espécie é a maneira mais segura de fornecer alimentação adequada.
Ferimentos e traumas são situações não são incomuns com animais comunitários. Em ferimentos superficiais, é sugerido lavar a área com água e sabão, seguido por soro fisiológico.
Segundo o especialista, além de procurar um atendimento veterinário, feridas abertas devem ser lavadas pelo menos duas vezes ao dia para evitar ovos de moscas. Nos casos de ferimentos graves ou animais que não permitem manipulação, deve-se buscar assistência de saúde para tratamento adequado.
O controle da população de animais comunitários é uma medida urgente, que deve ser feita por meio da esterilização de machos e fêmeas. Alvarenga esclarece que a castração pode ser realizada a baixo custo em unidades de ensino e por meio de programas dos governamentais, que disponibilizam inscrições periodicamente.
“Cuidar dos animais comunitários é uma responsabilidade compartilhada. Com orientações adequadas e ação coletiva, é possível proporcionar uma vida mais saudável e digna para esses seres, que compartilham conosco os espaços urbanos”, finaliza o professor.