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Opinião

Foto: Freepik

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Não é preciso muito para perceber que as pessoas querem ser felizes. Afinal, elas buscam pela felicidade o tempo todo: há indivíduos que passam horas gastando o que não têm no shopping do bairro. Outros preferem ir até o boteco da esquina, virar várias doses de cachaça barata e o bafo de cana que pague a conta. Isso sem falar nos nervosos digitais, loucos pelo match do dia.

São cidadãos que, por achar que a satisfação provém do lado de fora de si, iniciam uma busca ininterrupta em direção à próxima aquisição que fará com que o seu coração e os seus sintomas se acalmem. Neste sentido, como o sentimento de preenchimento não dura, sempre precisam de um produto novo. Sempre precisam de mais um gole. Sempre precisam de mais um crush.

Seria o fim da possibilidade de plenitude? Longe disso. Para a psicanalista que deu a largada inicial em direção ao estudo dos fenômenos mentais que ocorrem nos primeiros anos de vida do ser humano, Melanie Klein, as pessoas podem, sim, alcançar a felicidade e viver de maneira plena. Entretanto, para que isto ocorra, um determinado processo psíquico deve acontecer.

Na visão da estudiosa, a criança pequena possui uma percepção particular a respeito de sua mãe e, consequentemente, dos outros ao seu redor. Caso a genitora a gratifique e dê aquilo que ela deseja, será percebida pela psique enquanto mãe boa. Todavia, caso esta senhora não faça o que a cria anseia, frustrando as suas aspirações, será tida como mãe má e não se fala mais nisso.

Sendo assim, à medida que o aparelho psíquico se desenvolve ao longo dos anos, o miniadulto vai ganhando progressivamente recursos psicológicos para analisar e sentir o ambiente com um senso de realidade cada vez mais apurado. Deste modo, a mãe boa e mãe má, que antes estavam separadas uma da outra, começam a se unir, formando uma unidade chamada de objeto total.

Uma vez alcançado este estágio de percepção inteiriça do símbolo feminino, aquele infante que conseguir preservar as características positivas desta imagem, salvaguardando-as dos perigos que provém dos seus próprios ataques sádicos carregados de inveja primitiva, terá à disposição um leque de qualidades para que ele se identifique e firme a sua identidade enquanto sujeito.

Dito de um outro modo, para ser feliz, a pessoa precisa ter a capacidade de identificar as coisas boas que a sua mãe possui. A partir daí, dentro da sua subjetividade singular, ela poderá escolher quais destes aspectos irá querer carregar consigo ao longo da vida, gerando um ciclo de conexão contínua baseada na semelhança com a bondade do objeto, indispensável para viver sorrindo.

“Ah, Renan. A minha infância foi um desastre! Dá tempo de reparar a mãe que habita em mim?”. É claro que sim. Caso não veja nada de positivo nesta senhora que um dia carregou você no colo, experimente iniciar o processo de cura em direção à bem-aventurança introjetando no centro do peito a imagem trazida na frase anterior. Verá como será mais fácil sentir-se grato pela vida.

“Eu não conheci a minha mãe. E agora? Estou em um beco sem saída?”. Jamais. Ainda que o indivíduo homem não tenha vivenciado experiências junto à sua mãe biológica, o psiquismo de quem fez o papel de cuidador costuma transpor o papel designado pela maternidade por conta de um mecanismo chamado de transferência. Logo, reverencie esta pessoa sempre que puder.

“Sou muito próximo da minha mãe, mas não sou feliz. O que acontece?”. Muitas vezes, a mente cria adoração absoluta para encobrir emoções altamente negativas. Para revelar onde foi parar este aspecto da sua madre psíquica, observe o que o incomoda nas pessoas com quem convive. Esta faceta que irrita nos outros é justamente a sua mãe projetada. Faça já as pazes com ela.

“Não sinto nada em relação à minha mãe. Ela é indiferente para mim”. Será? É bem comum que os indivíduos usem um outro artifício para lidar com os problemas relacionados ao feminino: a repressão. Como uma panela de pressão prestes a explodir, atente-se a ela caso comece a ter rompantes de raiva por aí, trazendo à mente imagens positivas para prevenir o matricídio.

“A minha relação com a minha mãe é bem normal. Nem amigos, nem inimigos”. Bom para você. Sendo a capacidade de desiludir papel indispensável daquela que dá à luz, quanto mais a prole percebe os limites impostos como forma de amor, mais aceitará o seu lugar no papel de filho e, consequentemente, de sujeito. Se esta for a sua situação, apenas olhe para trás e agradeça. 

Por fim, se os parágrafos anteriores não conseguiram retratar como se dá o relacionamento com a sua mãe e o que fazer para melhorá-lo, apenas aceite o sentido da frase: “por trás de uma grande felicidade, existe uma grande feminilidade”. Assim, se você realmente quiser ser feliz, aplique esta sabedoria, compre menos, beba com moderação e, para o crush, não seja fácil não.

*Renan Cola é psicanalista, formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em Marketing e Gestão Comercial pela Universidade Vila Velha (UVV), em Psicanálise pelo instituto IBCP Psicanálise e em Gestão Empresarial e Gestão de Pessoas pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), o psicanalista possui 17+ anos de experiência utilizando a psicologia profunda aplicada à mercadologia para construir estratégias de marca para empresas de todo o Brasil, dos pequenos aos grandes negócios. Ao longo da carreira, escreveu artigos para veículos comunicacionais de ampla abrangência, como: Psique, Mistérios da Mente, Estado de Minas, O Tempo, Hoje em Dia, Diário do Nordeste, Administradores, Empresas & Negócios e Novo Varejo.