Cultura

Foto: Elton Abreu

Foto: Elton Abreu

Em uma celebração única da cultura indígena e do cinema, a mostra "Cine Xerente: Olhares Indígenas na Grande Tela" foi aberta com programação no sábado e domingo, 8 e 9, levando a magia do cinema a céu aberto para as aldeias Xerente, na região de Tocantínia. O evento reuniu crianças, adolescentes e adultos em uma experiência cinematográfica que teve como objetivo  não apenas entreter, mas também fortalecer e valorizar a rica cultura dos povos indígenas.

A realização é da Associação dos Brigadistas Akwẽ Xerente (Abix), via patrocínio da Lei Paulo Gustavo (LPG), da Secretaria Estadual de Cultura do Tocantins. Com a tela montada sob o céu estrelado, a atmosfera nas aldeias Xerente era de pura expectativa e encantamento. A mostra, que exibiu uma série de filmes produzidos por cineastas indígenas, proporcionou ao público uma oportunidade rara de ver suas histórias e tradições retratadas na tela grande. As exibições começaram com a recepção calorosa das comunidades locais, que se reuniram em torno da tela. O brilho dos olhos das crianças ao verem suas histórias ganharem vida no cinema refletia a importância do evento para a comunidade.

Os filmes exibidos incluem temática indígena, produzidos por produtores indígenas e não indígenas, que expressam e celebram aspectos da diversa cultura por meio da grande tela. De acordo com a presidente Abix, Ana Shelley Xerente, a proposta foi de amplificar a voz das comunidades, oferecendo um espaço de compartilhamento de suas histórias, visões de mundo e desafios, inspirando diálogo, entendimento mútuo e respeito a sua cultura, através da Sétima Arte.

Exibições

O "Cine Xerente" apresentou uma seleção diversificada de filmes, abordando temas como identidade, resistência, meio ambiente e tradições culturais. Entre os destaques estavam curtas-metragens que capturaram o cotidiano das aldeias e documentários que exploraram a rica herança cultural dos povos indígenas. Neste contexto, foram exibidos os filmes 1 “O último índio”, de Maria Teresa Murer (infantil), Dasihã Zumze: um registro da infância xerente, de SerekmoroteXerente (Edvaldo Sullivan Xerente – infantil), 5 – Amjikin, de Caio Bretas e exibições de estudantes de jornalismo – projeto experimental – UFT – infantil, dentre outros.

Para muitos dos presentes, a mostra foi uma oportunidade de ver suas próprias experiências e histórias representadas de forma autêntica. "É emocionante ver nossas histórias sendo contadas dessa maneira", disse Maria Xerente, uma das moradoras da aldeia. "Isso nos dá orgulho e nos lembra da importância de preservar nossa cultura."

Curadoria

Com uma curadoria focada em produções que retratam a vida, os costumes, as lutas e as histórias dos povos indígenas, o Cine Xerente se propõe a ser uma janela para o mundo através da perspectiva dos próprios indígenas. De acordo com a curadora da Mostra, a cineasta Mariah Soares, o "Cine Xerente" visa não apenas a difusão cultural, mas também fortalecer o reconhecimento de seus patrimônios materiais e imateriais.

O professor e pastor Silvino Xerente, da Aldeia Salto, considera que programações como esta que resgatam a ancestralidade e história do povoado é excelente. “Nesse ponto a tecnologia pra mim é muito importante, de deixar tudo registrado. É um ponto rico pra gente não deixar a nossa história morrer junto com nossos anciões”, declarou.

O cacique Sebastião Marcos, da Aldeia Salto, afirmou que a comunidade estava ansiosa pela realização da Mostra. “Todo mundo estava falando dessa ação que incluía filmagem, cinema, estamos gostando bastante. Precisamos desse movimento na aldeia, de valorizar nossa cultura. A gente tem que manter a tradição, mas usar da comunicação é muito importante”, ressalta.

Envolvimento da Comunidade

Além das exibições, o "Cine Xerente" promoveu oficinas de audiovisual para os jovens das aldeias. As oficinas ensinaram técnicas básicas de filmagem e edição, incentivando a próxima geração a contar suas próprias histórias através do cinema. "Queremos capacitar nossos jovens para que possam ser os narradores de suas próprias histórias", explicou Andreia Lopes, produtora executiva do projeto

O evento será encerrado no dia 20 de Julho, com rodas de conversa, onde cineastas e membros da comunidade irão discutir a importância da representatividade no cinema e a necessidade de preservar a cultura indígena através das artes visuais.

Impacto Cultural

A mostra de cinema teve um impacto profundo nas aldeias Xerente, reforçando a importância da identidade cultural e promovendo o orgulho das tradições indígenas. "Cine Xerente não foi apenas um evento de entretenimento, mas uma celebração da resiliência e da riqueza cultural do povo Xerente. Antes a gente fazia um trabalho muito bacana, mas oculto. Agora estamos prontos para mostrar todo o nosso empenho, nosso trabalho aqui como Associação”, concluiu  Ana Shelley Xerente.

Sobre a ABIX

A Abix é uma associação de Brigadistas indígenas da Terra Indígena Xerente e Funil, composta atualmente por 74 brigadistas, homens e mulheres do povo Xerente. A entidade foi criada em 2014 e atua desde então em parceria com o Ibama, a Funai e outras entidades estaduais e municipais. Desde sua criação, a ABIX tem empreendido esforços para o combate ostensivo das queimadas que são muito frequentes na região e também em projetos de empoderamento aos povos indígenas em áreas como agricultura, agroecologia e cultura.

Foto: Elton Abreu