O sertão nortista dos anos 70 e 80 volta à vida em imagens e sons sob o olhar da Cenaberta Produções, que deu início às gravações do longa-metragem “Sobre Dora e Dores”, dirigido e roteirizado por Kaká Nogueira e Bell Gama. Baseado na obra da escritora Lita Maria, o filme promete mergulhar o público em uma história de afeto, resistência e transmissão de saberes no coração do Brasil.
O longa é protagonizado pela consagrada atriz Marcélia Cartaxo (Dona Cota), uma das atrizes mais respeitadas do cinema nacional, reconhecida internacionalmente ao conquistar o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim por A Hora da Estrela (1986) e homenageada com o Troféu Oscarito no Festival de Gramado.
O drama narra a trajetória de Dona Cota, benzedeira e carpideira que, já na velhice, adota a pequena órfã Dora e, a partir desse encontro, passa a enfrentar as dores da perda e da vida no sertão com coragem e sabedoria. Entre rituais, rezas e despedidas, nasce uma relação que vai além do sangue: um elo tecido por amor, amizade e confiança.
Cinema enraizado no sertão
As filmagens acontecem integralmente no Tocantins, nas cidades de Marianópolis, Caseara e Pium, revelando paisagens e modos de vida que carregam a identidade cultural do Cerrado. A trilha sonora, composta especialmente para o filme, nasce da pesquisa sobre a musicalidade regional, incorporando sons e ambiências que transportam o espectador para a atmosfera sertaneja.
Para os diretores e roteiristas, “Sobre Dora e Dores” vai além de uma narrativa histórica: é também um retrato afetivo das mulheres que sustentaram comunidades inteiras em tempos de dor. “Esse filme nasce do desejo de dar voz às mulheres que, silenciosamente, foram esteio de suas famílias e comunidades. Carpideiras, parteiras, benzedeiras… figuras que, muitas vezes, eram a última fronteira entre a vida e a morte. Queremos revelar esse Brasil profundo com poesia e humanidade”, afirma Bell Gama.
Para Kaká Nogueira, rodar essa história no Tocantins é mais do que uma escolha estética. “É uma afirmação de pertencimento. O sertão nortista guarda memórias que precisam ser contadas, e o cinema é um instrumento potente para preservá-las e compartilhá-las com o mundo”, complementa ele.
Da literatura à tela
Com duração de 90 minutos e classificação indicativa de 14 anos, “Sobre Dora e Dores” já nasce como uma das produções mais aguardadas do calendário audiovisual tocantinense. Ao reunir literatura, memória e cinema, o filme promete emocionar o público e projetar a cultura do sertão para além das fronteiras regionais.
A força do roteiro vem da recriação da obra de Lita Maria, que se emociona ao ver sua obra ganhar corpo nas telas. “Escrevi pensando nas mulheres que conheci e admirei, nas mulheres que povoaram os “causos” que ouvi na infância, que enfrentaram perdas inimagináveis, mas seguiram transmitindo amor e saberes. Ver minha obra transformada em cinema é como abrir as páginas e vê-las respirarem diante dos meus olhos. É um sonho que se torna realidade”, declara a escritora.
Projeto
O projeto é uma iniciativa da Cenaberta Produções, patrocinada por edital de Audiovisual da Lei Paulo Gustavo (LPG), via Secretaria Estadual da Cultura (Secult) e Ministério da Cultura (MinC). O projeto conta ainda com apoio institucional da Prefeitura de Marianópolis e da Prefeitura de Pium. As gravações se iniciaram no dia 23 de agosto e seguem até 31 de setembro.