O temor de que o resultado do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro intensifique a polarização política marca a percepção dos brasileiros sobre as eleições de 2026: 38,2% acreditam que o clima de divisão vai aumentar e 22% enxergam risco de reações violentas. A maioria da população (60,9%) avalia que o processo do Supremo Tribunal Federal (STF) terá impacto direto na disputa presidencial. Os dados são de pesquisa inédita do Instituto Ideia, encomendada pela Oficina Consultoria, realizada em 9 de setembro de 2025.
Embora a percepção sobre os reflexos no processo eleitoral seja alta, apenas 47% dos entrevistados acreditam que a decisão do Supremo terá consequências diretas em sua própria vida ou no país. Entre as maiores preocupações, a economia lidera com 33%, seguida pela polarização (38,2%), pelo risco de violência (22%) e pela incerteza quanto ao papel da Justiça e das instituições (17%).
O estudo também mostra um cenário de pessimismo em relação ao futuro: 32,9% dos brasileiros disseram estar menos confiantes no país, contra 25,3% que se declararam mais esperançosos e 24,5% que se mostraram indiferentes.
Para Cila Schulman, CEO do Instituto Ideia, os números refletem que resultado do julgamento não pacifica o cenário político. “Quase 40% acreditam que a polarização vai aumentar. É um dado decisivo, pois mostra que, para boa parte da sociedade, a decisão do STF não cicatriza feridas, apenas as mantém abertas”, analisa.
Segundo ela, o fato de um terço dos entrevistados se declarar menos confiante no futuro indica que a instabilidade já afeta o sentimento coletivo. “O julgamento é menos sobre o passado e mais sobre a dificuldade de construir futuro”, resume.
Anistia e economia
Na pesquisa do Instituto Ideia, a questão da anistia mostra uma sociedade dividida: 34,2% se dizem contrários, 30,7% são favoráveis e 35,1% não têm opinião formada.
Já a percepção de que a decisão do Supremo terá efeitos políticos e econômicos é compartilhada por 47,4% da população. Mas o maior temor econômico não vem do julgamento: 58,4% apontam o “tarifaço” dos Estados Unidos como o principal risco para o Brasil, contra apenas 11,1% que atribuem essa função à decisão do STF.
A instabilidade já influencia comportamentos: 36% afirmam ter adiado compras ou investimentos e, no setor empresarial, 27,2% projetam menos contratações e investimentos nos próximos seis meses, enquanto 26,8% não veem relação direta com o julgamento.
Para Liliane Pinheiro, CEO da Oficina Consultoria, o levantamento reforça a necessidade de um diálogo transparente e estratégico. “Mais do que acompanhar o julgamento, empresas, líderes e instituições precisam se preparar para atuar em um ambiente em que política e economia estão cada vez mais entrelaçadas e impactam diretamente a confiança da sociedade”, afirma.
Metodologia
A pesquisa foi realizada em 9 de setembro de 2025 pelo Instituto Ideia, a pedido da área de Public Affairs da Oficina Consultoria. Foram entrevistadas 1.543 pessoas em 563 municípios de todas as regiões do país, por meio de questionários online. A amostra é representativa da população adulta brasileira, com controle estatístico por gênero, faixa etária e nível socioeconômico, seguindo parâmetros do Censo do IBGE e do Critério Brasil da ABEP. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais, com 95% de nível de confiança.