No próximo dia 25 de setembro, às 20 horas, o palco do Teatro Sesc Palmas recebe a estreia de “Ana não foi feita pra caber”, novo trabalho da atriz e produtora cultural Carla Lisboa, com direção de Marcial Asevedo. Um monólogo intenso, poético e profundamente humano, que mergulha nas camadas da memória e da identidade para falar de autismo, pertencimento e aceitação.
O monólogo autoral e potente coloca em cena a personagem Ana — seu alter ego — em uma jornada de autodescoberta, memórias e enfrentamento das pressões sociais impostas às mulheres autistas. Com dramaturgia e atuação da própria atriz e direção de Marcial Asevedo, a obra aborda com sensibilidade e força o tema do diagnóstico tardio, trazendo à tona reflexões profundas sobre pertencimento, identidade e aceitação.
A peça revisita três fases da vida de Ana — infância, adolescência e vida adulta —, trazendo à cena lembranças, rótulos e conflitos que marcaram sua trajetória. Em cada momento, ela se vê atravessada por expectativas externas e por uma adaptação forçada ao que a sociedade considera “normal”. “Esse espetáculo nasceu da minha própria experiência, mas não se resume a ela. O diagnóstico de autismo, que recebi já na vida adulta, foi um divisor de águas. Trouxe dor, mas também libertação. Escrever e atuar em Ana não foi feita pra caber é um ato de coragem e de cura — para mim e, espero, para todos que já sentiram que não pertenciam a lugar nenhum”, afirma Carla Lisboa.
O espetáculo, entretanto, vai além de um relato individual: propõe ao público pensar em como cada pessoa, em algum momento da vida, já se sentiu deslocada, sufocada ou inadequada diante das exigências sociais.
A direção
Com olhar atento para as nuances da narrativa, o diretor Marcial Asevedo conduziu a encenação de forma a valorizar tanto os silêncios quanto as explosões emocionais da personagem. “A peça não é só sobre o autismo. É sobre humanidade. Sobre as tentativas de caber em padrões que não nos comportam e a necessidade de criar nossos próprios espaços. A Carla traz para o palco uma entrega visceral, e meu trabalho foi construir uma cena que potencializasse essa verdade”, explica o diretor.
Entre contradições, resistências e descobertas, a peça afirma a impossibilidade de reduzir a vida a formas prontas. O espetáculo é um manifesto pela liberdade de ser, pela aceitação das diferenças e pela potência de transformar dor em arte. Ao final do espetáculo, a artista fará um bate-papo com o público como contrapartida do projeto para falar sobre o processo criativo, sua trajetória e responderá perguntas do público presente.
Trajetória da atriz
Carla Lisboa iniciou sua relação com o teatro ainda na adolescência, em sua cidade natal, quando buscou as artes cênicas como ferramenta para vencer a timidez. Desde então, construiu uma trajetória múltipla como atriz, professora e produtora cultural, atuando em diferentes linguagens e projetos. Interpretou Édipo no espetáculo Édipo Rei (2005), participou de projetos de difusão cultural como o “Cia Teatral Os Issos”, e escreveu e atuou em Espelhos (2018), apresentado no Festival Marmotas de Artes Integradas. Já no Tocantins, integrou a Oficina dos Menestréis – Turma Palmas, que resultou na montagem do musical João Sem Nome (2022), além de participar de projetos audiovisuais e musicais. Agora, com Ana não foi feita pra caber, a atriz traz para o palco sua experiência mais pessoal e, ao mesmo tempo, mais universal.