É inquestionável que a forma como a sociedade lidou com as questões ambientais ao longo da história do nosso país resultou em consequências devastadoras e cicatrizes preocupantes para o meio ambiente. É comum observar um aumento alarmante nos episódios de desmatamento, extração ilegal de madeira, incêndios florestais, tráfico de animais silvestres e degradação ambiental, todos influenciando significativamente nos danos irreparáveis causados à rica biodiversidade do Brasil.
A Amazônia é uma das regiões mais biodiversas do planeta, essencial para a regulação do clima, conservação da água e manutenção de ecossistemas vitais (MMA). No Maranhão, a porção amazônica — conhecida como Amazônia Maranhense — é uma área de transição entre os biomas Amazônia e Cerrado, com uma rica diversidade de espécies e ecossistemas, como florestas tropicais e campos alagados (IBGE).
Dentro desse contexto, destacam-se as Áreas Prioritárias para Conservação, que abrigam espécies ameaçadas, ecossistemas frágeis e desempenham funções ambientais essenciais, sendo fundamentais para ações de proteção e manejo sustentável da biodiversidade local (MMA).
Os dados divulgados em janeiro deste ano, pelo sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram números preocupantes. Entre junho de 2024 e junho de 2025, o estado do Maranhão registrou avisos de desmatamento para uma área estimada de 1.248,11 km² no bioma Amazônia, seguido de 1.285,62 km² de áreas devastadas no bioma Cerrado.
De acordo com os alertas de desmatamento detectados pelo projeto Deter (Inpe), entre 2015 e 2024, o Maranhão somou 8.291 km2 de alertas para alterações na cobertura florestal no bioma Amazônia, onde a grande maioria foram cicatrizes de incêndios florestais (75%), seguido de degradação florestal (corte seletivo de madeira nativa) com um total acumulado de alertas em 13% e, 856,2 km2 de desmatamento com solo exposto (10%). Entre 2023/2024 foram mapeados 508 km2 em alertas no estado (80% foram relacionados à incêndios florestais).
Em Açailândia (5.805 km2), cidade com potencial econômico importante (12º maior Produto Interno Bruto - PIB do Estado), possui ainda um remanescente florestal nativo em seu território (38,46 mil hectares), com florestas densas, do tipo amazônico, alocadas em áreas de preservação protegidas por Lei (Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente - APPs), distribuídas em diversos imóveis rurais do município. Mesmo representando apenas 6,6% da área municipal, esses remanescentes florestais nativos têm sido alvo constante de ações antrópicas ilegais, traçando um cenário cada vez mais preocupante.
Nos últimos cinco anos foram registrados mais de 3.800 hectares de área desmatada no município, por meio de incêndios, corte raso e degradação florestal. Além disso, mais de 30 pessoas já foram detidas por estarem supostamente envolvidas nesse tipo de crime e cerca de 20 veículos foram apreendidos pelas autoridades policiais em operações, somente em 2024.
Como consequência dos atos de invasão, áreas com florestas plantadas também estão sendo derrubadas e, além disso, áreas prioritárias para conservação, áreas de reserva legal e preservação permanente vem sofrendo um prejuízo ambiental irreparável, causando uma devastação desenfreada em áreas do bioma Amazônia. Essa remoção de árvores e vegetação de áreas florestais nativas, resulta na perda direta de biodiversidade e serviços ecossistêmicos, contribuindo negativamente para a destruição de habitats naturais, erosão do solo, desertificação, fragmentação da paisagem, impactos em recursos hídricos e perda dos meios de subsistência para comunidades extrativistas que dependem da floresta em pé.
A recuperação dessas áreas é um processo complexo, pois a regeneração natural muitas vezes não é suficiente para restaurar a diversidade de espécies nativas, especialmente em áreas muito degradadas. Além disso, fatores como o solo empobrecido, a perda de conectividade entre os ecossistemas e as mudanças climáticas agravam esse desafio.
Portanto, é crucial proteger essas áreas de floresta e promover práticas sustentáveis que garantam a sua preservação e o cumprimento da legislação ambiental vigente. É importante ressaltar que além de contribuir com a manutenção dos ecossistemas, o suprimento de matéria-prima de base florestal para a indústria, oriundo de plantios 100% renováveis - sem a necessidade de utilização das florestas nativas, garante a continuidade e a conservação dos recursos naturais para as próximas gerações.
Por fim, não podemos permitir que atos criminosos em áreas do bioma amazônico sejam ignorados e usados como pretexto para fomentar o uso da terra de maneira indevida em detrimento da falta de informação da população, causando danos severos à biodiversidade da região.
*Coronel Célio Roberto Pinto de Araújo é Comandante-Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão desde 2015 e, atualmente, exerce também a função de 2º Vice-Presidente do Conselho Nacional de Comandantes-Gerais dos Corpos de Bombeiros Militares – CNCGBM. Ingressou na carreira militar em 1988, como praça da Polícia Militar do Maranhão, e em 1993 iniciou o Curso de Formação de Oficiais do Corpo de Bombeiros. Ao longo de sua trajetória, desempenhou funções estratégicas, tais como Comandante de Atividades Técnicas, Diretor de Pessoal e Finanças, Diretor de Apoio Logístico, Subchefe do Estado-Maior Geral, Secretário Executivo de Defesa Civil e Corregedor Adjunto do Sistema de Segurança Pública do Maranhão. Possui sólida formação acadêmica, com destaque para o Doutorado em Direito pela UNIFACVEST, sendo também bacharel em Direito e especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Previdenciário. É amplamente reconhecido por sua atuação em gestão de riscos, defesa civil e comando operacional.