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Opinião

Victor Missiato é professor de História no Colégio Presbiteriano Mackenzie

Victor Missiato é professor de História no Colégio Presbiteriano Mackenzie Foto: Divulgação

Foto: Divulgação Victor Missiato é professor de História no Colégio Presbiteriano Mackenzie Victor Missiato é professor de História no Colégio Presbiteriano Mackenzie

Distante dos holofotes de Washington na última década, a América do Sul voltou ao centro das atenções durante o atual mandato do presidente Donald Trump. A participação direta dos Estados Unidos em momentos decisivos das eleições argentinas, a imposição de um novo tarifaço ao Brasil, as críticas ao governo de Gustavo Petro, na Colômbia, e os recentes ataques a embarcações venezuelanas no Caribe revelam que a região reassumiu posição estratégica na política externa norte-americana.

Desde a famosa Doutrina Monroe, formulada no século XIX, os Estados Unidos exercem influência determinante sobre a América Latina. Essa presença se intensificou ao longo da Guerra Fria, período em que Washington interveio, direta ou indiretamente, na substituição de governos em diversos países. Contudo, a ênfase exclusiva na atuação norte-americana muitas vezes ofuscou análises mais profundas sobre as dinâmicas políticas internas de cada nação.

Ainda que não se deva superestimar o peso da influência dos EUA nos processos políticos latino-americanos, é inegável que suas ações repercutem na geopolítica global. Em meio à disputa hegemônica com a China, Washington tem promovido ajustes econômicos em países como Panamá e México. No contexto sul-americano, um dos governos mais pressionados é o da Colômbia, tradicional aliada dos norte-americanos. Na última semana, o presidente Gustavo Petro e integrantes de seu gabinete foram associados ao narcotráfico — acusações intensificadas após o anúncio da adesão colombiana ao projeto chinês da Nova Rota da Seda, em maio de 2025.

Paralelamente, a Venezuela tornou-se o principal alvo da política antinarcóticos dos Estados Unidos na região. Sob o comando de Nicolás Maduro, o país passou a enfrentar não apenas sanções, mas também ataques diretos: mísseis norte-americanos atingiram embarcações venezuelanas acusadas de transportar drogas para exportação. As tensões bilaterais atingiram um nível inédito, e uma ação militar mais ampla no Caribe não está descartada.

Em contrapartida, avanços diplomáticos recentes sinalizam uma reaproximação entre Washington e os governos de Brasília e Buenos Aires. Enquanto a Argentina recebeu um aporte de US$ 20 bilhões para impulsionar a campanha do partido de Javier Milei nas eleições legislativas, Trump reuniu-se com o presidente Lula pela primeira vez, abrindo caminho para compromissos bilaterais que podem reduzir as tarifas impostas no início deste ano.

Percebe-se, assim, uma nova configuração das relações dos Estados Unidos com a América do Sul. A região caribenha e andina tende a enfrentar maiores tensões enquanto prevalecerem governos de esquerda na Colômbia e na Venezuela, ao passo que as nações do Cone Sul poderão colher benefícios à medida que equilibrem suas políticas externas entre Washington e Pequim. Essas assimetrias, contudo, podem comprometer os esforços de integração regional que marcaram as últimas décadas.

*Victor Missiato é professor de História no Colégio Presbiteriano Mackenzie, Tamboré; analista político e Doutor em História