Nossa participação no Observatório Marista do Clima, realizado em Belém do Pará, de 10 a 15 de novembro de 2025, ocorreu durante o período da COP 30, o que elevou exponencialmente a relevância e o impacto da experiência. Essa localização estratégica nos proporcionou a experiência única de ir até a área do evento, integrando-nos ao efervescente cenário do debate global. A jornada transcendeu o plano educacional, configurando-se como uma profunda e inesquecível transformação pessoal e profissional para nós, professor e estudantes do Colégio Marista Palmas. Fomos à capital do Pará com a missão de mergulhar em temas cruciais e retornamos com a convicção de uma missão ampliada.
O ponto de partida da nossa viagem foi a defesa de um projeto que significa muito em nossa trajetória: um sistema de hidroponia desenvolvido a partir dos princípios de reciclagem, reuso e economia hídrica. Essa iniciativa de base, que alinha a segurança alimentar à gestão eficiente de recursos, demonstrou o nosso alinhamento com a Agenda 2030, contemplando diretamente objetivos cruciais como a ODS 6 (Água Limpa e Saneamento) e a ODS 12 (Consumo e Produção Responsáveis). A apresentação deste trabalho pelos estudantes no Observatório, em um rico intercâmbio com as demais comitivas Maristas do Brasil e do Chile, serviu como o elo que conectou nossa iniciativa local à agenda climática global.
Estar em Belém, sede da COP 30 e portal da Amazônia, carregava um peso simbólico imenso. Como professor, a experiência reforçou a responsabilidade pedagógica de mediar o conhecimento com a realidade. Para as estudantes, o impacto foi imediato e profundo. Participamos das palestras, vivenciamos o ambiente da Green Zone e, crucialmente, abrimos espaço para a escuta ativa das vivências locais. Tivemos a honra de ouvir uma jovem líder indígena em sua luta pela demarcação territorial e um jovem quilombola ribeirinho, cujo trajeto diário para a escola e o trabalho na colheita do açaí ilustram a complexa interdependência entre subsistência, educação e o ecossistema.
Essa imersão se completou com o contato direto com a natureza e as comunidades. Fizemos um passeio de barco até uma comunidade quilombola e uma caminhada na mata amazônica, culminando na contemplação de uma árvore com aproximadamente 800 anos. Esses momentos de contato presencial atuaram como o catalisador de um choque de realidade: o que era distante ou teórico se tornou palpável e urgente. O evento marcou uma mudança de paradigma em nossa compreensão, confrontando as visões pré-estabelecidas com a urgência e a proximidade das crises ambientais mundiais.
A importância de debater assuntos tão caros é imensurável para a nossa formação. As estudantes que retornaram a Palmas não eram mais as mesmas que partiram; a experiência consolidou nelas uma consciência significativamente ampliada e um senso agudo do nosso papel individual e coletivo na defesa do planeta. A vivência, por sua vez, potencializou em mim a capacidade de contextualizar o ensino e de reafirmar o compromisso da escola na formação de agentes de transformação.
Nosso engajamento resultou na confecção de um manifesto sobre as questões climáticas e no reconhecimento formal do nosso trabalho com a outorga da placa “Escolas pelo Clima”. O Observatório Marista do Clima não foi apenas um evento; foi um marco de transformação que fortaleceu nosso compromisso com a vida e com a defesa da Casa Comum.
*Mauro Ribeiro Alves, professor de Química do Colégio Marista Palmas.
