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Opinião

 Profa. Dra. Thaís Cíntia Cárnio é docente de Direito Empresarial e Mercado de Capitais.

Profa. Dra. Thaís Cíntia Cárnio é docente de Direito Empresarial e Mercado de Capitais. Foto: Divulgação

Foto: Divulgação  Profa. Dra. Thaís Cíntia Cárnio é docente de Direito Empresarial e Mercado de Capitais. Profa. Dra. Thaís Cíntia Cárnio é docente de Direito Empresarial e Mercado de Capitais.

Já dizia o filósofo que nada é permanente, exceto a mudança. Interessante como o pensamento de Heráclito é sempre atual. Após a queda do muro de Berlim, a hegemonia norte-americana como potência econômica no cenário mundial parecia pétrea, inabalável.

Passados alguns anos, a China recalculou sua rota e direcionou sua economia rumo ao capitalismo. Surpreendente? Talvez sob o ponto de vista ideológico, mas faz sentido pela perspectiva econômica. E eis que surge um player importante e agressivo nessa equação.

O BRICS, grupo formado pelos países emergentes, adquire novas cores: a China torna-se proeminente, a Rússia gasta com uma guerra que está durando mais do que previa, e o Brasil ambiciona ser protagonista de uma nova ordem mundial na qual o dólar não seria mais referência. E as novidades não acabam: a composição do grupo é expandida. Ingressam mais seis países: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.

Com essas adesões recentes, o BRICS tenta ampliar seu peso econômico e político, buscando maior influência sobre instituições financeiras e padrões de comércio. Essa dinâmica alimenta iniciativas para diversificar mercados, criar mecanismos de pagamento alternativos e reduzir a dependência de arranjos dominados pelo Ocidente, mudanças que podem provocar recomposições de alianças comerciais.

E o que não dizer das novas tarifas distribuídas aqui e acolá pelo Presidente americano Donald Trump? Com uma imprevisibilidade ímpar, lança percentuais variados a países parceiros de longa data. Basta observar a tributação imposta aos bens importados do Brasil, ainda que a balança comercial não apresente números deficitários para o mercado americano? Ou seja, importamos mais do que exportamos para os Estado Unidos e, ainda assim, alguns de nossos produtos estão sofrendo com as novas alíquotas.

Em meio às recentes surpresas, os acordos comerciais estão se tornando mais heterogêneos: além dos grandes tratados e da OMC, buscam-se acordos regionais e parcerias estratégicas calibradas para objetivos geopolíticos, como segurança de insumos, previsibilidade da parceria, e afins. A competição tende a transformar relacionamentos comerciais e políticas fiscais em instrumentos de poder brando, com impacto direto sobre investimentos, preços e governança regulatória.

Geralmente comparado a um tabuleiro de xadrez, o momento atual da economia mundial mais parece uma mudança de jogo: ora gamão, ora damas.

Enfim, o novo cenário geopolítico cobra agilidade, pois não está apenas ajustando tarifas e alíquotas: está redesenhando a lógica dos acordos, ampliando a dimensão estratégica do comércio e da tributação. A alternativa que se desenha no momento, tanto para governos como para empresas, é combinar diversificação, coordenação multilateral, regras flexíveis e novos parceiros.

Com tantas reconfigurações, é sempre bom lembrar uma regra básica da natureza: a capacidade de se adaptar às mudanças é o que determina quem sobrevive, e não necessariamente o tamanho ou a força do organismo.

Profa. Dra. Thaís Cíntia Cárnio é docente de Direito Empresarial e Mercado de Capitais da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).