A engenharia aplicada às instalações elétricas é fundamental para garantir energia de qualidade, confiável e segura, protegendo pessoas, equipamentos e sistemas. Do projeto a manutenção, passando pela operação, reformas e retrofits, as instalações elétricas devem seguir premissas técnicas nacionais e internacionais que definem padrões de eficiência energética e segurança.
Entretanto, o mercado brasileiro tem sido invadido por produtos que se apresentam como soluções milagrosas para economizar energia, prometendo reduções irreais de até 50% no consumo por meio de equipamentos chamados de "economizadores” ou “caixas pretas”.
Segundo o engenheiro elétrico e diretor da Ação Engenharia e Instalações, José Starosta, empresa associada à Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO), os dispositivos "utilizam terminologias rebuscadas, sem fundamento técnico, com forte apelo de marketing, mas carecem de comprovação científica e de validação segundo protocolos reconhecidos, como o PIMVP (Protocolo Internacional de Medição e Verificação de Performance)”.
Eficiência energética comprovada x falsas promessas
Starosta explica que projetos sérios de eficiência energética, conduzidos com base em normas técnicas e protocolos de medição, costumam proporcionar reduções entre 5% e 20% no consumo. Segundo ele, esses resultados vêm de medidas efetivas, como substituição de cargas por equipamentos mais eficientes, automação de processos, uso de inversores de frequência, correção do fator de potência e adoção de sistemas de proteção e filtragem adequados.
Entre os dispositivos essenciais para a segurança e eficiência, o diretor cita os disjuntores, que protegem contra as sobrecargas e os curtos-circuitos; os DRs, que protegem contra choques elétricos e incêndios; os DPS, dispositivos contra surtos de tensão; os filtros de harmônicas e de alta frequência, por conta da mitigação de distorções e ruídos elétricos; os capacitores, que corrigem o fator de potência; os sistemas de aterramento, que promovem proteção física e estabilidade da rede, e os dispositivos de controle/acionamento, pelo uso eficiente de cargas com invasores e sistemas inteligentes. “Esses equipamentos têm funções específicas e reconhecidas na engenharia elétrica, diferentemente das soluções de prateleira que prometem resolver todos os problemas de forma genérica e sem fundamentação técnica”, afirma o engenheiro elétrico.
O risco dos “placebos elétricos”
Produtos como Econocapte, EconoPlug, EcoVolt, Retentor Eletromagnético e outros similares alegam reduções instantâneas de 30% a 50% na conta de luz, mas suas funcionalidades não têm respaldo técnico. Starosta revela que muitos desses dispositivos não passam de estabilizadores ou supostos filtros, apresentados com termos que não existem na eletrotécnica. De acordo com ele, além de não comprovarem os resultados, esses produtos podem induzir o consumidor a acreditar em benefícios inexistentes, desviando-o de soluções realmente eficazes e seguras. “É preciso cuidado com qualquer proposta que ofereça economia imediata e em grande escala sem apresentar medições auditáveis e realizadas dentro de protocolos internacionais”, reforça, ao afirmar que a verdadeira eficiência energética nasce de projetos técnicos bem planejados, com uso de equipamentos adequados, profissionais capacitados e comprovação de resultados com base em normas reconhecidas. “A adoção de placebos elétricos não só não resolve os problemas, como pode comprometer a segurança das instalações e das pessoas”, conclui.
