Depois de um ano marcado por juros elevados e crescimento mais contido, a economia brasileira chega ao fim de 2025 com um aprendizado claro: a política monetária funciona no combate à inflação, mas cobra seu preço. É o que avalia o economista Tiago Hansen, diretor da Alpha Wave Capital, ao fazer um balanço do cenário econômico do ano atual e projetar o próximo ano que se aproxima.
Segundo Hansen, 2025 mostrou que manter a taxa de juros em patamares elevados foi essencial para desacelerar os preços, mas trouxe efeitos colaterais relevantes. “Os juros altos ajudaram a controlar a inflação, mas afetaram diretamente o crédito, o investimento produtivo e a atividade econômica, especialmente no segundo semestre”, explica.
Outro ponto que ficou evidente ao longo do ano foi a sensibilidade do Brasil ao ambiente fiscal e político. Oscilações no discurso sobre as contas públicas e na credibilidade do arcabouço fiscal se refletiram rapidamente no câmbio, na curva de juros e nos ativos financeiros. “O mercado reage muito rápido a qualquer sinal de deterioração fiscal. Isso reforça a importância de olhar o Brasil sempre dentro de um contexto macro mais amplo”, afirma o economista.
Entre os indicadores econômicos, a inflação foi o principal destaque positivo no encerramento de 2025. Após meses de desconfiança, o IPCA mostrou desaceleração mais consistente e terminou novembro dentro do intervalo de tolerância da meta. “Esse movimento trouxe um certo alívio e abriu espaço para discutir o próximo ciclo de política monetária”, diz Hansen.
Em outra perspectiva, a manutenção dos juros elevados por mais tempo do que o esperado foi uma surpresa “negativa”, na avaliação do economista. O Banco Central adotou uma postura cautelosa e deixou claro que só pretende reduzir os juros quando houver total confiança na ancoragem das expectativas inflacionárias.
Para o gestor de investimentos, a trajetória da inflação ao longo do ano foi marcada por um processo lento e cuidadoso de desinflação. “O Banco Central preferiu garantir uma convergência mais estrutural, mesmo com impacto negativo no crescimento de curto prazo”, avalia.
Cenário global como influência para o Brasil
No ambiente internacional, três fatores foram decisivos para a economia brasileira em 2025: o ciclo de juros nos Estados Unidos, o comportamento das commodities – especialmente o petróleo – e a dinâmica da economia chinesa. “Esses elementos influenciaram o dólar, os fluxos para mercados emergentes e a percepção de crescimento global, com reflexos diretos no Brasil”, explica Hansen.
Esse cenário reforçou a importância da diversificação internacional. “A exposição ao dólar e a ativos globais foi fundamental para reduzir a volatilidade e preservar patrimônio em momentos de maior estresse local”, destaca.
O que esperar do próximo ano
Ao olhar para 2026, Hansen define o ano com uma palavra: transição. “Será um período de passagem de um ambiente de juros extremamente elevados para um cenário de possível normalização monetária, ainda que de forma gradual”, afirma.
A projeção da Alpha Wave Capital é de desaceleração do crescimento econômico, com o PIB avançando em torno de 1,8% em 2026, após cerca de 2,5% em 2025. Esse movimento reflete os efeitos defasados da política monetária restritiva e um crédito ainda mais seletivo. Na inflação, a expectativa é de continuidade da convergência, mas ainda próxima ao limite superior da meta. Isso significa que eventuais cortes de juros devem ocorrer apenas quando houver maior segurança em relação às expectativas inflacionárias e ao cenário fiscal.
Classes de ativos com maior potencial
Em um ambiente de crescimento menor e uma possível flexibilização gradual dos juros, a renda fixa tende a ganhar relevância, especialmente com gestão ativa. Ativos dolarizados e exposição ao mercado americano continuam sendo importantes para diversificação e proteção.
No mercado de ações, a palavra de ordem deve ser seletividade. “Empresas com balanços sólidos, boa geração de caixa e menor dependência do ciclo doméstico tendem a se destacar”, afirma Hansen.
Por outro lado, o economista alerta para a necessidade de cautela com ativos muito dependentes de um cenário político favorável ou de cortes rápidos de juros, além do crédito de menor qualidade. “Com um crescimento mais fraco, o retorno tende a vir menos de apostas pontuais e mais de uma estratégia bem construída, com foco em diversificação e visão de longo prazo”, conclui.
