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Palmas

Os velhos caciques sempre apregoaram que a política é a arte da perversidade. Trocando em miúdos, é a maneira mais cruel e vil de amarrar acordos e entendimentos em um dado momento para, logo na frente, vilipendiá-los, deixando as lideranças bem-intencionadas a ver navios. Uma prática costumeira de um passado não muito distante, mas que ainda impera em alguns redutos partidários onde o fisiologismo e a vaidade política por sede de poder ainda são uma forte característica.

No Tocantins, a coisa não é diferente. Manda quem tem dinheiro e poder de barganha para negociar alianças políticas. No entanto, para se costurar composições não bastam apenas estes dois ingredientes. Hoje, qualquer que seja o comandante político que bater a mão na mesa na tentativa de impor candidaturas corre sérios riscos isolar-se. O processo de aglutinação de legendas exige, portanto, habilidade e flexibilidade política, o que não significa pusilanimidade.

As eleições municipais de 2008 são um grande teste, principalmente para os velhos coronéis da política tocantinense ou mesmo para as lideranças jovens, mas que guardam o ranço do modo arcaico de lidar com esse processo. Um pleito eleitoral tem dois momentos importantes que podem definir o novo cenário político: a maneira como se conduzem as alianças partidárias e a escolha do candidato certo. Este último quesito deve levar em conta não apenas a densidade eleitoral e a popularidade do candidato, mas, sobretudo, a sua qualificação para disputar o cargo.

Depois, vem o entusiasmo da militância, as condições financeiras para levar a campanha eleitoral no mesmo ritmo do começo ao fim, o palanque eletrônico e projeto político. Deixando a perversidade de lado, os chefões das possíveis e eventuais alianças, com vistas às eleições do próximo ano, devem conduzir o processo com humildade, cautela, parcimônia e com um olho em 2010. Isto porque os aliados de hoje podem muito bem se apresentar como ferrenhos adversários de amanhã. E vice-versa. Exemplo disso é o antigo PFL (hoje DEM), que sempre foi refém do siqueirismo e hoje é um dos principais aliados do PMDB do governador Marcelo Miranda.

A disputa pela prefeitura da Capital é uma caixa de ressonância e vai demarcar o caminho para a corrida sucessória ao Palácio Araguaia, em 2010. Não menos importante, na esteira desse raciocínio, são as eleições em Gurupi, Araguaína, Porto Nacional, Guaraí, Colinas, Paraíso, Miracema e Augustinópolis. Novamente, no centro dessa guerra fria estão o PMDB do governador Marcelo Miranda e o PSDB, comandado pelo velho Siqueira Campos. Para as duas forças políticas (União do Tocantins e Aliança da Vitória), ganhar a Prefeitura de Palmas é prioridade.

A Aliança da Vitória composição de mais de 15 partidos que ajudou a reeleger o governador Marcelo Miranda  já dispõe de vários pré-candidatos, entre eles a ex-prefeita e deputada federal Nilmar Ruiz (DEM) e o deputado estadual Eli Borges (PMDB). A União do Tocantins vai tentar retomar a prefeitura da Capital com o ex-senador Eduardo Siqueira Campos ou com o próprio Siqueirão.

Já está passando da hora de o governador chamar as lideranças dos partidos da base aliada para uma conversa e convencê-los da necessidade de uma candidatura de consenso do seu grupo político, sob pena provocar defecções internas e entregar a rapadura para o adversário, uma vez que a ala ortodoxa do PMDB já manifestou que não abre mão da cabeça de chapa.

No entanto, existe um grupo mais ponderado dentro do PMDB que defende uma candidatura de uma liderança nova, não apenas na idade, mas com idéias e projetos modernos, para tentar ganhar as eleições em Palmas. Nesse particular, o vice-prefeito Derval de Paiva (PMDB) advogava, há alguns meses, a tese de que essa candidatura nova deveria, inclusive, contar com o apoio do prefeito Raul Filho que, segundo fontes ligadas a Derval, não deveria postular a reeleição, dado o seu desgaste político.

Fontes fidedignas da base aliada do governo comentam sobre dados de pesquisas recentes, para consumo interno, dando conta de que a pré-candidata Nilmar Ruiz está com mais de 30 por cento das intenções de voto, seguida de Eduardo Siqueira e do deputado Marcello Lélis (PV), ambos com mais de 20 por cento. O velho Siqueira aparece com apenas 9 por cento e Raul Filho que tem apenas 6 por cento — aparece com mais de 70 por cento de rejeição. Esse quadro, obviamente, nada tem de definitivo, num momento em que os partidos políticos ainda se movimentam em torno de novas filiações, mas é um demonstrativo que levará as forças políticas a montarem suas estratégias.

O ex-governador Siqueira Campos está calado, por enquanto, mas se movimenta nos bastidores. Ele está preparando um grande encontro, ainda para este mês, com todas as lideranças da União do Tocantins Desde o final das eleições, em outubro do ano passado, que o ex-governador não se reúne publicamente com seus comandados.

A exemplo do PMDB e de outros partidos, a União do Tocantins está fazendo contatos com as lideranças do partido no interior e articulando novas filiações. Existe um grande número de lideranças, de vários municípios, que querem ingressar no PSDB para disputar as eleições do ano que vem, adiantou na semana passada o deputado federal Eduardo Gomes, do PSDB, um dos nomes da oposição também citados para a disputa da Prefeitura de Palmas.

Gilson Cavalcanti