A melhora registrada pelo Brasil no relatório anual sobre corrupção divulgado ontem (26) pela organização não-governamental (ONG) Transparência Internacional não pode ser comemorada, porque não indica que a percepção sobre o tema tenha mudado. A avaliação é do professor de Ciências Políticas Bruno Speck, da Universidade de Campinas (Unicamp), assessor sênior da ONG para a América Latina.
Com nota 3,5 numa escala de zero (para os países mais corruptos) a 10 (para os menos corruptos), o Brasil foi o 72º colocado entre 180 países. A nota representa aumento de 0,2 ponto em relação à de 3,3 obtida no levantamento anterior, que colocou o Brasil em 70º lugar.
Segundo a Transparência Internacional, a queda na classificação geral, apesar de a nota ter sido maior, ocorreu por causa da inclusão no estudo de 17 novos países, dos quais quatro obtiveram melhor colocação que o Brasil.
Speck informou que o aumento de 0,2 ponto na nota não indica melhora, porque a variação está dentro da margem de erro da pesquisa, que é de três décimos para baixo e cinco décimos para cima. "A percepção do brasileiro sobre a corrupção, na verdade, não mudou nos últimos anos", avaliou.
Em 2001 e em 2002, o Brasil obteve nota 4 no ranking. A nota caiu para 3,9 em 2003 e em 2004; a 3,7 em 2005; e a 3,3 no ano passado. "Nesse período, houve apenas oscilações que não representaram grandes interferências no resultado", destacou o professor, que reconhece o trabalho do governo no combate à corrupção, por meio do reforço nas operações da Polícia Federal e das ações de fiscalização e prevenção da Controladoria-Geral da União (CGU).
No entanto, afirmou, as autoridades públicas brasileiras, em certas vezes, não colaboram para que a percepção sobre o tema melhore. "A absolvição recente do senador Renan Calheiros e o indiciamento de 56 policiais militares no Rio de Janeiro por envolvimento com o tráfico de drogas, por exemplo, mostram que há sinais nas duas direções", observou.
Para Speck, os representantes das três esferas de poder ainda precisam avançar em determinados pontos para conter os focos de corrupção. No Poder Executivo, disse, os principais problemas são a criação de cargos comissionados e a liberação de emendas para parlamentares. No Legislativo, apontou o foro privilegiado para deputados, senadores e vereadores, além do financiamento privado de campanhas eleitorais. E no Judiciário, citou como problema a falta de transparência e de agilidade, principalmente nos tribunais de primeira instância.
O professor destacou que fatos como esses contribuem para que o Brasil permaneça entre os países onde a corrupção é considerada um problema grave: "Há um fato concreto, que é a distância do Brasil em relação a países como Canadá, Suécia e Holanda, com nota em torno de 9, e a proximidade com os países que obtiveram menos de 3 pontos. Isso é um alerta que tem de ser levado em conta."
Ele reconheceu que a metodologia da pesquisa, que entrevista homens de negócios e formadores de opinião para obter os resultados de cada país, tem limitações ao avaliar não propriamente os atos ilegais, mas a maneira como eles são percebidos. Argumentou, no entanto, que "as percepções podem ser subjetivas, mas o eleitor faz seu julgamento baseado nelas".
Segundo a pesquisa, os países considerados menos corruptos são a Dinamarca, a Finlândia e a Nova Zelândia, com nota 9,4. Os Estados Unidos ficaram em 20ª lugar, com 7,2. Nas últimas posições aparecem Somália e Mianmar, com 1,4, e Iraque, com 1,5.
Na América Latina, o país mais bem colocado é o Chile (22º), com nota 7. A Venezuela ficou em 162º, com nota 2, e a Argentina em 105º, com 2,9.
Agência Brasil