O Brasil é o campeão mundial em índice de descargas elétricas, especialmente no período de dezembro a março, quando a temperatura média é elevada, aumentando a ocorrência de tempestades. “Registramos uma média de 50 milhões de raios por ano, sendo que 80% se concentram neste período, na maioria das regiões do País”, informa Osmar Pinto Júnior, pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica.
Dependendo da intensidade e da proximidade do local atingido por um raio, especialmente se a residência ou empresa não possuir um aterramento adequado, a descarga elétrica pode se dissipar não só pela rede de eletricidade, como pela rede de telefonia e até pela antena de televisão.
O designer Luciano Borges do Nascimento já deixou de acreditar do ditado que diz que “um raio não cai duas vezes no mesmo lugar”. Internauta desde 1997, Nascimento já teve seu modem queimado quatro vezes por descargas elétricas em tempestades que provocam surtos de tensão na rede telefônica.
“A primeira vez eu estava fora de casa, trabalhando, e o computador estava desligado. Quando voltei do trabalho percebi que o modem não funcionava”, conta o internauta, que também é morador da Zona Leste, em São Paulo.
Em uma das ocorrências, Nascimento estava usando o computador. “Começou a chover forte e eu estava conectado. Parecia que o raio tinha caído dentro de casa e não deu tempo de desligar a máquina”, lembra o usuário, que então decidiu adquirir um estabilizador.
No entanto, a linha telefônica permaneceu conectada ao modem ADSL, no final de 2007, quando ocorreu o quarto incidente. “Desta vez eu não esperava, mas no dia seguinte após uma tempestade fui usar o computador percebi que estava sem acesso. O técnico do serviço de banda larga identificou que o modem estava queimado.”
Desta última vez, Nascimento desembolsou 100 reais por um modem usado, mas não quer passar por outra chuva de verão desprotegido. “Agora só conecto o cabo da linha quando vou usar a internet”, afirma.
Irineu Miano, psicólogo, também perdeu um modem há alguns anos, após uma forte chuva em sua residência em Itatiba, no interior de São Paulo, onde acesa a web pela linha discada. “Estava trabalhando, mas deixei o micro desligado. Só que o problema aconteceu na linha telefônica”. Hoje, a regra é a mesma de Nascimento. “Quando começa a chover forte tiro o micro da tomada e desconecto a linha telefônica do PC”, diz Miano.
Sem a proteção adequada e algumas medidas de segurança, junto com as tempestades de verão lá se vão modems, placas, aparelhos de fax, televisores, monitores entre outros equipamentos.
Os usuários que não podem fazer a mesma manobra para evitar que o modem seja queimado por um raio contam com opções no mercado, como filtros que incorporam um protetor contra surtos de tensão pela linha telefônica.
“A operadora não oferece proteção contra descarga elétrica na residência. Somente na central telefônica”, observa Marco Damasceno, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da SMS Tecnologia Eletrônica. Ele conta que já desembolsou mais de mil reais para consertar seu sistema de alarme residencial danificado por um raio que atingiu a rede de telefonia.”
O exemplo mostra que as descargas elétricas não afetam apenas componentes do microcomputador. Alguns fabricantes de estabilizadores e nobreaks já contam com linhas dedicadas à proteção de equipamentos de áudio e vídeo.
“Quanto mais circuitos eletrônicos o aparelho possuir, maior será o risco de uma descarga elétrica queimá-lo”, observa Osmar Pinto Júnior, do Inpe. “Um computador ou uma televisão, portanto, estão muito mais sujeitos a estes danos do que um refrigerador”
Na avaliação de Damasceno, quando se trata de equipamentos mais caros e sensíveis aos surtos de tensão elétrica vale a pena investir um pouco. “Se o usuário tem uma TV de plasma, LCD e um home teather completo pode optar por um equipamento dedicado a áudio e vídeo, com proteção para a antena de televisão”, aconselha.
Filtro de linha, estabilizador e no-break
Antes de chegar às tomadas, a energia elétrica percorre grandes distâncias e sofre alterações. Embora os sistemas de geração, transmissão e distribuição sejam projetados para oferecer energia elétrica de boa qualidade e ininterrupta, a grande quantidade de usuários e equipamentos conectados nesta rede - e a falta de manutenção em cabos e transformadores – pode gerar curto-circuitos, blecautes, surtos e oscilações de energia.
Como o próprio nome diz, o filtro de linha tem a função de filtrar ruídos da rede elétrica. “Muitas vezes o computador pode ‘travar’ por conta de um ruído”, alerta Damasceno. Embora ajude a preservar o eletroeletrônico, este componente não oferece proteção contra surtos de energia.
O estabilizador ajusta a tensão da energia para um nível próximo do ideal, além de proteger os equipamentos conectados contra sobrecargas, sub e sobretensão e surtos de energia. Os estabilizadores contam ainda com filtros de linha internos. Hoje, segundo Damasceno, um estabilizador é vendido na faixa de 30 a 45 reais.
Já o nobreak costuma ser a solução mais completa tanto para quem não quer ter um equipamento danificado como não quer correr o risco de perder um trabalho durante um blecaute, por exemplo.
Além de filtrar e estabilizar a corrente elétrica, o nobreak conta com baterias internas que garantem o fornecimento de energia por um tempo suficiente para que sejam salvos arquivos, fechados os sistemas e desligados corretamente os equipamentos.
O preço destes equipamentos também é mais alto. “Ele varia mais significativamente de acordo com autonomia, potência e tecnologia empregadas”, explica Gisella Magni, coordenadora de Marketing da SMS. “O valor inicial de um nobreak com autonomia de 20 minutos é de 250 reais”, informa.
Estabilizadores mais seguros
Antes de comprar um estabilizador, o consumidor deve checar, na caixa do produto, se ele atende à norma NBR 14373:2006, estabelecida pelo Inmetro.
A especificação, que começou a valer em 1º de janeiro deste ano, passou a exigir obrigatoriamente que os estabilizadores tenham recursos técnicos que antes eram opcionais. No entanto, equipamentos antigos, em estoque, ainda podem ser vendidos.
Os novos estabilizadores devem incluir filtros de linha; protetor contra surtos da rede elétrica; desligamento automático da saída do estabilizador quando a rede elétrica estiver fora das condições de operação; protetor térmico adicional contra sobrecarga; aumento da faixa de tensão de entrada (45% em redes 110V, 115V, 120V e 127V e 40% em 220V); sensor de potência, que desliga o estabilizador quando o usuário utilizar equipamentos que excedam sua potência.
Longe da tomada e do telefone
Mesmo que o consumidor tenha instalado estabilizadores ou nobreaks em casa, na avaliação de Júnior, do INPE, é recomendável adotar algumas medidas de segurança.
“Se as descargas elétricas estiverem próximas, emitindo um som similar ao de um prato caindo no chão, a medida mais segura é retirar os equipamentos da tomada e da linha telefônica, lembrando de afastar os fios e ‘plugues’ das tomadas”, recomenda o técnico do INPE.
Usar o telefone com fio durante uma tempestade pode representar perigo de vida, afirma Júnior, citando o exemplo de casos fatais registrados no Brasil.
O uso do celular e do telefone sem fio não oferecem perigo em casa, segundo o especialista, mas é recomendável desligar o telefone móvel se o usuário estiver a céu aberto durante uma tempestade. “Já foram registrados casos fatais de pessoas atingidas por raios enquanto usavam o celular. É uma recomendação internacional”, aconselha
As redação com informações IDG Now