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Meio Ambiente

Foto: Messias Costa MPEG

As espécies de lagartos que se encontram em áreas da Amazônia brasileira sob intensa exploração agropecuária ou extrativista, correm o risco de eventualmente desaparecer. Segundo a pesquisadora Teresa Ávila-Pires, da Coordenação de Zoologia do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG).

De acordo com ela, os lagartos são animais conhecidos pela capacidade de resistir a temperaturas baixas que matariam a maioria das aves e mamíferos. No entanto essa capacidade de adaptação, porém, não os torna imunes à ação humana.

A diversidade de espécies de lagartos e quais os habitats mais adequados para a existência de cada uma delas foram debatidos durante a palestra “Lagartos do Pará”, realizada no dia 26/09, no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi. Na oportunidade, alunos e professores do ensino fundamental e médio podem aprofundar seus conhecimentos a respeito das diversas espécies de lagartos. O evento integrante do ciclo de atividades da 4a edição do Prêmio José Márcio Ayres para Jovens Naturalistas.

No mundo e no Pará

Hoje são conhecidas na Amazônia Continental cerca de 130 espécies de lagartos, sendo 94 registradas na parte brasileira da região. Esses animais pertencem a um grupo denominado Squamata, uma das ordens integrantes da classe dos répteis. Eles ocorrem na maioria dos habitats da Terra, com exceção das regiões polares mais frias e do mar aberto. Parte das espécies se alimenta principalmente de insetos e outros invertebrados, algumas comem vertebrados, inclusive outros lagartos, e algumas poucas são herbívoras.

No Pará, foram registradas espécies endêmicas - que ocorrem somente nessa região- como o Gonatodes tapajonicus, conhecido apenas na margem direita do rio Tapajós, e Gonatodes eladioi, encontrado no sul do estado, entre os rios Xingu e Tocantins.

Um dos lagartos mais ligados à cultura popular no Pará é o Uranoscodon superciliosus, também conhecido como tamacuaré. Ele vive próximo a regiões alagadas, como as matas de igapó, ou à margem de rios e igarapés, mergulhando quando perseguidos. O tamacuaré comumente é encontrado seco nas barracas de ervas do Ver-o-Peso, pois o animal é “receitado” para “trazer o amado de volta” e coisas do gênero.

Predação e defesa

Especialmente quando pequenos, os lagartos têm muitos predadores, sendo as aranhas, provavelmente, os mais danosos para os pequenos lagartos. Enquanto as cobras e aves predatórias comem muitos lagartos de tamanho médio e os filhotes e ovos das espécies maiores, os felídeos e mamíferos pequenos como os coatis, podem matar os lagartos maiores. Ávila-Pires destacou que, como os demais integrantes da cadeia alimentar, ”os lagartos influenciam as populações tanto de suas presas como de seus predadores”.

Nos momentos de defesa, algumas espécies são beneficiadas pela sua coloração. Quando permanecem imóveis ficam tão parecidas com o ambiente que podem não ser notados pelos predadores. Para outras espécies, entretanto, a fuga é garantida pela capacidade de para soltar a cauda, que mesmo separada do corpo continua se movimentando e distraindo o predador, enquanto o dono do membro se distancia rapidamente do local.

Tamanhos e Curiosidades

Outra curiosidade é a variação de tamanho entre os lagartos. A espécie Coleodactylus amazonicus, por exemplo, cabe na ponta do polegar de um homem adulto, ela é a menor entre todas as ocorrências conhecidas no Pará, com 45 mm de comprimento já na fase adulta. Entre as maiores estão a Iguana iguana, também chamada de “camaleão”, o teiú ou jacuraru (do gênero Tupinambis) e o jacuruxi (Dracaena guianensis), os quais, com a cauda, podem ultrapassar um metro de comprimento.

Informações sobre o comportamento e a ecologia dos lagartos da Amazônia podem ser conferidas no “Guia de Lagartos da Reserva Adolpho Ducke – Amazônia Oriental”, uma publicação produzida com apoio do Programa de pesquisa em Biodiversidade (PPBio – Amazônia Ocidental), do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) e do CNPq, e que tem como uma das autoras a pesquisadora Teresa Cristina Ávila-Pires.

Desmatamento e lagartos

A ação antrópica ou ação humana é o principal fator de ameaça aos animais e plantas em geral. No caso dos lagartos que vivem em floresta, quando o desmatamento provoca a drástica redução da cobertura florestal, a conseqüência é a substituição do variado conjunto de espécies terrestres e arbóreos, que vivem na floresta tropical úmida, por poucas espécies de áreas abertas, como Ameiva ameiva.

Algumas das espécies de lagartos que ocorrem no Pará estão incluídas na Lista Estadual das Espécies Ameaçadas de Extinção, relação oficial elaborada através da parceria entre o Museu Goeldi, a Conservação Internacional (CI) e a Secretaria de Estado e Meio Ambiente (SEMA). Entre as mais vulneráveis, pois só ocorre no leste do Pará e oeste do Maranhão, está Stenocercus dumerilii, que não possui um nome vulgar, mas poderia ser chamada de “lagarto de chifre”, segundo Teresa Ávila-Pires.

Coordenadora do projeto Espécies Ameaçadas e Áreas Críticas para a Biodiversidade no Estado do Pará, numa parceria do Museu Goeldi com a Conservação Internacional, Ávila-Pires assinala o que os pesquisadores pretendem ”após a definição da relação das espécies ameaçadas no Pará, detalhar as informações, de forma a subsidiar ações de monitoramento e conservação, e avaliar as áreas críticas para garantir a manutenção da biodiversidade existente no Estado”.

A especialista também chama atenção para alguns aspectos do desflorestamento que podem passar despercebidos. Segundo ela, “na Amazônia há diversos enclaves de áreas com vegetação aberta e muitas pessoas não consideram a ação antrópica sobre esses espaços como ‘desmatamento’. Mas os ambientes precisam de especial atenção, reitera a pesquisadora, pois “apresentam uma fauna de lagartos própria e são mais facilmente ocupados”.

Prêmio Márcio Ayres

O Prêmio José Márcio Ayres para Jovens Naturalistas foi criado em 2003 pelo Museu Goeldi e a Conservação Internacional e convoca alunos dos níveis de ensino fundamental e médio para estudar e observar a biodiversidade amazônica. Pensando nisso oferece palestras e informações, no site do Prêmio, sobre o tema.

Os trabalhos inscritos ao concurso devem ser orientados por professores das escolas dos candidatos e encaminhados para Prêmio José Márcio Ayres para Jovens Naturalistas, Museu Paraense Emílio Goeldi, Serviço de Educação e Extensão Cultural, Coleção Didática Emília Snethlage, Caixa Postal 399, CEP 66.040-170, Belém, Pará. A data limite para o envio dos trabalhos foi prorrogada para 3 de abril de 2009.

Os melhores trabalhos escritos são selecionados para concorrer como finalistas e serão apresentados por seus autores para uma banca (formada por educadores e pesquisadores do MPEG e da CI), que define os vencedores. São escolhidos os três melhores trabalhos em duas categorias de premiação: fundamental (trabalho em equipe) e nível médio (individual). Os 1° e 3° lugares de cada categoria recebem valores entre R$ 2.000, 00 e R$ 1.000,00. O concurso também premia os professores-orientadores, que recebem computadores, e as escolas com melhores resultados. Todos os participantes recebem certificados, sendo que alunos reconhecidos com menções honrosas, e seus professores-orientadores, recebem também publicações.

 

Fonte: Portal Amazônia com informações do Museu Goeldi