Criadas para identificar um grupo de partidos em torno de uma proposta política, as coligações formadas pelos candidatos para as eleições deste ano foram batizadas com nomes que remetem ao “futuro”, à “continuidade” ou à “mudança", o que tende a levar o eleitor a pensar que viverá o “melhor dos mundos”, afirma a professora de linguística Enilde Faulstich.
A pedido do G1, a professora, que é chefe do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas da Universidade de Brasília (UnB), analisou os títulos de cada uma das 77 coligações registradas na Justiça Eleitoral na disputa pelos governos dos 26 estados e do Distrito Federal.
A nuvem de expressões formada pelo cruzamento dos nomes de coligações mostra que as palavras “frente” e “povo” são as preferidas dos políticos na hora de identificar suas chapas. Elas foram utilizadas em nove coligações cada uma. Já a palavra “popular” aparece em sete coligações e “todos”, em seis.
“Agrupadas em campos lexicais, as palavras que são empregadas nas categorias ‘futuro’ e ‘mudança’ guardam conceitos de positividade, que levam o leitor a acreditar que viverá no melhor dos mundos”, avalia Enilde. “Na categoria ‘mudança’, as palavras levam em conta noção de transformação ou de mudança que dependem de desejo ou de vontade”, complementa.
Enilde tem pós-doutorado nas áreas de Terminologia, Lexicografia e Políticas Linguísticas na Université Laval, de Québec, no Canadá, é doutora em Filologia e Língua Portuguesa, pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, e mestre em Linguística, pela UnB.
Apesar de representarem grupos de diferentes regiões e realidades do país, as coligações repetem slogans e ideias. A campanha de Zeca do PT ao governo do Mato Grosso do Sul, por exemplo, foi batizada de “A Força do Povo”, mesmo título adotado pela chapa de Sílvio Mendes (PSDB) ao governo do Piauí e de Fernando Peregrino (PR), no Rio de Janeiro. Carlos Gaguim (PMDB) também chegou próximo do título no Tocantins: “Força do Povo”.
No grupo dos políticos que prometem “mais” pelo estado –mensagem que remete ao futuro, segundo análise de Enilde –, Luiz Paulo (PSDB) adotou “O Espírito Santo quer mais”, Paulo Souto (DEM) batizou sua aliança de “A Bahia merece mais”, Marconi Perillo (PSDB) usou “Goiás quer mais” e Jarbas Vasconcelos (PMDB), “Pernambuco pode mais”.
Há ainda os candidatos que utilizam o lado apelativo do desenvolvimento. Na disputa pelo governo baiano, o candidato do PMDB, Geddel Vieira Lima, adotou “A Bahia tem pressa”. Em São Paulo, o candidato do PSB, Paulo Skaf, preferiu adotar um tom mais sério: “Preste atenção, São Paulo.”
A conjuntura política regional também influencia na hora de batizar as coligações. No Distrito Federal, onde o escândalo do mensalão do DEM de Brasília derrubou o governador, o vice, o presidente do Legislativo, além de parlamentares e autoridades do Ministério Público e do Tribunal de Contas, os títulos das chapas remetem ao desejo de mudança e renovação. Newton Lins (PSL) batizou sua coligação de “Quero Mudar”, Agnelo (PT) escolheu “Novo Caminho” e Roriz (PSC) – que já governou o DF quatro vezes e teve o registro vetado pela Justiça Eleitoral do DF na quarta-feira (4) –, adotou “Esperança Renovada”.
Para Enilde, as coligações que pretendem garantir a continuidade dos governos preferem palavras que funcionem como “rótulos” das gestões. “A continuidade das gestões está definida pelo vocabulário estático, cujas expressões mais servem de rótulo do que de fonte de aliança. A noção que transparece é a de que do jeito que está, está bom”, avalia Enilde.
Fonte: Portal G1