As 70 famílias que moram no Povoado Prata, em São
Félix do Tocantins, já foram certificadas pela Fundação Cultural Palmares –
FCP, desde 20 de janeiro de 2006, como Comunidade Quilombola, embora ainda
aguarde a titulação das terras pelo INCRA necessárias à formação do seu território.
Apesar do reconhecimento, quem mora na localidade ainda sofre com vários problemas
e reclama da falta de atenção por parte dos gestores públicos.
A energia elétrica já chegou ao povoado, mas nem o poste na porta de casa é garantia
do serviço disponível ao morador. “Aqui em casa a luz vem dos candeeiros ou
candieiros. E nunca me explicaram porque meu vizinho tem e eu não. Estou
esperando o dia que finalmente vou poder ter uma tomada para pelo menos ter uma
geladeira e poder guardar os alimentos”, relata a lavradora Agda de Sousa Neta,
48 anos, que ainda fala de outros contrastes existentes. Na casa dela tem
telefone rural, o aparelho funciona a bateria, para carregar ela precisa ir até
o vizinho e utilizar a energia da casa dele.
Dona Osvaldina Carlos Ribeiro, de 39 anos, moradora da Fazenda Boliva conta outro
problema. Ela tem nove filhos, quatro em idade escolar. Eles estudam no Município
de São Félix, mas para chegar até a Escola, primeiro tem que fazer uma
caminhada de quatro quilômetros até um local onde passa o transporte. “A estrada
até a minha casa é muito ruim e o ônibus não vai lá, com isso os meninos tem
que fazer essa caminhada embaixo do sol forte do meio dia. Queria que
consertassem a estrada, é muito sofrimento para eles, e ano que vem tem mais um
pra estudar. Já conversei com o povo da prefeitura, mas nunca resolveu”. A
lavradora, que mora com outras 13 pessoas, diz enfrentar mais dificuldades, ela
tem três cunhados com deficiências e pra transportar eles também não é tarefa
fácil.
No povoado os moradores aproveitam o terreno dos quintais para a produção de alimentos.
Tem mandioca, melancia, manga, acerola, limão, tomate, alface, pimenta,
tangerina, abacate, cana-de-açúcar, laranja entre outros. Além disso, tem criação
de galinhas e gado. A produção poderia ser a grande fonte de renda para todos,
mas como não é fácil ter transporte para escoar o que produzem, é comum ver
muita coisa se perdendo na plantação.
A solução poderia vir de uma pequena fábrica de polpas de frutas e multimistura.
O local para a instalação das máquinas e do comércio começou a ser construído
pelo Município de São Félix há 17 anos, e até agora não foi concluído. Segundo
a presidente da Associação Comunitária dos Extrativistas Artesãos e Pequenos Produtores
do Povoado Prata, Aulerinda dos Paco Ribeiro, a construção só está avançada
graças a doação de várias instituições. “Esse prédio poderia já estar pronto
ajudando todos aqui, mas está nessas condições, ainda por finalizar, e o
material se estragando com o passar dos anos”.
Os moradores ainda falaram sobre outras necessidades, como a questão da regularização
das terras pelo INCRA – é comum aparecer pessoas se dizendo proprietária de
áreas ocupadas pelos quilombolas -; e também a reforma e ampliação da Escola, a
iluminação das vias públicas e da quadra de esportes, que é o único ponto de
lazer da comunidade; a instalação de mais telefones públicos e também da
melhoria na rede de distribuição de água.
A Caixa d´água que abastece as casas está velha, amassada, enferrujada, com vazamentos
e a bomba está toda cheia de tiras de borracha na tentativa de conter a água
que vaza. Segundo eles, o reservatório não é mais suficiente e precisa ser
trocado, pois vez ou outra as casas ficam sem abastecimento, pois a bomba de
sucção da água já não atende a demanda da comunidade, inviabilizando o
desenvolvimento do projeto de hortaliças irrigado.
Outras demandas antigas da comunidade é a construção de uma Unidade Básica de Saúde;
a regularização do serviço de atendimento odontológico Brasil Sorridente, que
desde setembro de 2012 não atende os moradores da região. A falta de coleta
regular de lixo é mais um problema detectado, pois segundo os moradores a
ausência deste serviço colabora para a poluição do meio ambiente e propagação
de doenças; A Unidade Escolar Miguel Rodrigues de Sousa, necessita urgentemente
de passar por uma reforma, pois parte do telhado encontra-se comprometido; Os
sanitários inoperantes, janelas danificadas e ausência de forros, permitindo
que os pássaros lancem suas fezes nas salas de aulas, representando risco à
saúde dos alunos;
A falta de patrulha mecanizada a disposição da comunidade, vem representando prejuízos
na produção de alimentos, pois o Município de São Félix, quando chega a
disponibilizar os equipamentos é com atrasos, ou seja, fora da janela agrícola
e do período de plantio, problema que poderia ser solucionado se a comunidade
fosse contemplada com este benefício.
Participaram dos atendimentos os Servidores da Defensoria Pública lotados nas unidades
de Palmas e Dianópolis, responsáveis em fazer o levantamento sobre as condições
e os problemas enfrentados, bem como relatório social dos moradores. O defensor
público Arthur Luiz Pádua Marques, explicou sobre o papel da Defensoria Pública
do Tocantins, a importância da organização da comunidade e ressaltou como a
instituição pode colaborar na resolução dos conflitos e necessidades dos
moradores, sendo o primeiro passo o recolhimento de informações e a expedição
de recomendação de envio aos gestores públicos o pedido de regularização das
situações encontradas.
Encontro das Comunidades Quilombolas do Jalapão
O atendimento realizado pela Defensoria Pública do Tocantins, através dos Projetos
Defensoria Agrária e Quilombola, aconteceu paralelo ao Encontro das Comunidades
Quilombolas do Jalapão, um espaço para a troca de experiências, elaboração do
plano de atendimento das Alternativas para o Programa Agricultura no Tocantins
– APA-TO em 2014 e principalmente a discussão para a implantação de atividades
agrícolas baseadas em experiências que estão dando certo em outras comunidades.
Nesse encontro, ficou definido pelos participantes, que eles irão colaborar com
a Defensoria Pública no levantamento de suas demanda, além de encaminharem relatórios
à instituição a cada três meses, para que sejam analisadas as providências que
o poder público cumpriu e as que ainda aguardam a resolução e necessitam de
cobranças para a resolução dos problemas. (Ascom Defensoria Pública)