Conexão Tocantins - O Brasil que se encontra aqui é visto pelo mundo
Opinião

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

O prefeito Carlos Amastha demonstra ter ficado empolgado com a repercussão dos adereços natalinos nas ruas da Capital no ano passado (gastos estimados em R$ 3 milhões), e repetiu a dose na Quaresma. A decoração das ruas com os símbolos capitalistas da Páscoa (coelhinhos) -  deixando de lado a confusão religião/Estado na aplicação dos recursos públicos e a natureza privada da estimulação do consumo – é daquelas situações que trazem, pragmaticamente, mais problemas mundanos que benefícios sacrossantos a Amastha.

Senão, vejamos. O Conexão Tocantins revela que a licitação para decoração de eventos teria sido de R$ 1 milhão e 96 mil (R$ 435 mil só com os coelhinhos). Um vereador disse na Câmara ter conhecimento de que teriam sido gastos R$ 4 milhões. Detalhe: a maioria dos adereços é contratada na forma de locação, não é tombada no patrimônio público.

Fiquemos com o R$ 1 milhão e 96 mil da licitação. Com este valor, a Prefeitura poderia construir 12 casas do programa Minha Casa Minha Vida (R$ 80 mil cada), diminuindo o déficit habitacional da cidade. Se escolhesse aplicá-lo em subsídios ao MCMV (no teto de R$ 25 mil que pratica o governo federal) beneficiaria 40 famílias numa cidade onde ganha fôlego a indústria da invasão urbana.

Outra comparação: com R$ 1 milhão e 96 mil  a Prefeitura construiria uma creche  municipal do padrão do CMEI Carrossel (na 405 Sul), erguida pelo próprio Amastha na sua administração  ao custo R$ 892.839,39, com capacidade para atender 260 crianças. E ainda sobrariam R$ 200 mil.  Um milhão, por exemplo, foi o que custou a iluminação da Avenida NS-01 cuja obra total (asfaltamento,etc) envolveu o equivalente a R$ 11 milhões, sendo R$ 1,4 milhão a contrapartida da prefeitura. Qual seria, portanto, o referencial do Executivo municipal?

Levando-se em conta as ligações empresariais do prefeito não é implausível deduzir que as ações (tanto no Natal como na Quaresma) tenham um fundo mais comercial que resguardadas num ascetismo que perseguisse Amastha nas suas movimentações no cargo. Como já escrevi aqui: Amastha não pode deixar-se engolir por Amastha. Amastha carece,por sua razão suficiente, prevenir-se de Amastha. Vez por outra, com efeito, parece não conseguir esse equilíbrio, condição necessária para seu projeto político. De outro modo: a narrativa histórica do prefeito estaria centrada no conflito entre um coelho de páscoa decorativo e creches infantis, a estética e a substância.

* Luiz Armando Costa é jornalista e autor do blog http://luizarmandocosta.com.br