Karajás, Javaés, Apinajés, Xerentes, Xambioás, Krahôs, Krahô-Canela, Pankararu, Avá-Canoeiro: nove etnias estão distribuídas de Norte a Sul do Estado do Tocantins formando uma população de 14.243 indígenas, segundo dados do IBGE. Desde total, 4.556 são eleitores aptos a votarem nas próximas eleições de outubro de 2016 e terão todo o aparato da Justiça Eleitoral para que tenham resguardado o direito ao voto. O número ainda pode aumentar após o encerramento do cadastro eleitoral, dia 4 de maio.
“A Justiça Eleitoral tem o compromisso de garantir o acesso de todos a esse direito fundamental que é o voto. Com os nossos povos indígenas do Tocantins, a valorização e o respeito por cada etnia sempre nos conduziram para um atendimento diferenciado, visitando aldeias e envolvendo os indígenas no processo eleitoral. Assim, fizemos durante a 4ª Fase da Biometria, quando cadastramos biometricamente indígenas das comunidades Xerente, de Tocantínia, e Karajás da Ilha do Bananal”, ressalta a presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins (TRE), desembargadora Ângela Prudente.
E para garantir o acesso dos indígenas ao voto cada vez mais seguro, o atendimento as comunidades continuam. Até a próxima sexta-feira (22/4) acontece o recadastramento biométrico das etnias Karajás, que residem na Ilha do Bananal. O atendimento começou nesta segunda-feira (18/4) nos municípios de Santa Terezinha e São Felix do Araguaia, no estado do Mato Grosso, tendo em vista a dificuldade técnica para instalação de um posto de atendimento, com internet, dentro das aldeias.
“Já foi acordado com os líderes da comunidade e iremos atender na sede da Funai (Fundação Nacional do Índio), pois esses municípios do Mato Grosso fazem divisa com as aldeias indígenas do Tocantins, facilitando o deslocamento”, explica o juiz eleitoral da 13ª ZE de Cristalândia, Jorge Amâncio de Oliveira.
O TRE-TO estima realizar o cadastramento biométrico de mais de 200 indígenas das aldeias de Santa Isabel, Fontoura e Macaúba.
As primeiras seções indígenas montadas no TRE-TO datam de 1997, nas aldeias Porteira, Rio Sono e Brejo Comprido, em Tocantínia e a aldeia Kuhere, em Santa Fé do Araguaia. De lá para cá muitas melhorias e aperfeiçoamentos foram realizados, com os treinamentos de mesários indígenas, o aumento da participação política, o estreitamento do diálogo com as etnias e o avanço da tecnologia com o voto biométrico, que nestas eleições será oferecido aos indígenas Karajás, da Ilha do Bananal, da 13ª Zona Eleitoral de Cristalândia e os Xerentes, de Tocantínia, da 5ª ZE de Miracema do Tocantins.
História
Em 2014, a Justiça Eleitoral percorreu todas as aldeias do Estado para orientar os eleitores indígenas sobre a importância da participação política. Na época, o procurador eleitoral, Álvaro Manzano e o então corregedor eleitoral, desembargador Marco Villas Boas, visitaram os caciques em audiências públicas. Na ocasião foram disponibilizadas 20 seções eleitorais e 4.066 eleitores votaram.
Sobre a participação dos indígenas nestas eleições, o procurador chefe da república no Tocantins, Álvaro Lotufo Manzano, que tem vasta experiência na defesa dos direitos dos povos indígenas no Tocantins, discorreu sobre a história do voto indígena no Brasil e no estado.
“Desde a nova Constituição, de 1988, houve uma maior emancipação dos povos indígenas, inclusive também, a partir desse período, houve um envolvimento maior de outros órgãos públicos e outros entes da federação. Percebemos que a partir daí que em todas as cidades onde há presença de indígenas existem índios candidatos a vereador”, explicou.
Participação política
Um dos vereadores indígenas do Tocantins, Iwraru Karajá, entrou na vida política em 1992, atuando como vereador em São Félix do Araguaia (MT). Na época foi eleito o segundo mais bem votado. “Não sabia falar nem escrever direito. O povo falava o meu nome, não sabia o que era ser vereador. Me interessei e me esforcei, fui estudar e comecei a falar português, transferi o título para Lagoa da Confusão e me reelegi com 174 votos”, disse.
“Foi fundamental para nossa comunidade participar da vida política, conseguimos integrar as aldeias através de estradas, reduzindo os custos com fretes entre as aldeias Fontoura e Santa Isabel, pois eram isoladas. A limpeza também está melhor. Trouxemos creche, escola infantil, ampliação de colégio e campo gramado para dar mais uma opção de lazer aos jovens e reduzir o triste índice de suicídio”, explicou.
O vereador também aconselhou os povos indígenas a terem uma participação ativa na vida política. “A representação indígena é importante porque pude ajudar a melhorar a vida do nosso povo. Temos que ter representantes, porque branco é branco e não sabe a nossa realidade, o que acontece dentro da nossa aldeia. Peço aos eleitores que tenham representantes dentro do legislativo, levem recados para as câmaras. Temos que levar a sério”, disse.
Há 10 anos na região do bico do papagaio, extremo norte do Tocantins, o chefe de cartório Elias Mesquita Lopes contou um pouco sobre a participação do eleitor indígena no processo eleitoral. “Os indígenas têm participado mais ativamente, se conscientizando e acompanhando as mudanças, não na mesma proporção do branco, mas no seu ambiente local está acontecendo sim essa percepção. Em todas as eleições municipais temos candidatos indígenas, nessas eleições não deve ser diferente”, explicou.
Seções indígenas
5ª ZE de Miracema - Aldeia Porteira, Rio Sono, Brejo Comprido – 3 seções
9ª ZE de Tocantinópolis – Aldeia São José, Marizinha – 4 seções
13ª ZE de Cristalândia– Aldeia Macaúbas, Santa Isabel do Morro, Fontoura – 4 seções
15ª ZE de Formoso do Araguaia – Aldeia Canoanã, Txuiri – 2 seções
32ª ZE de Goiatins – Aldeia Rio Vermelho, Pedra Branca, Cachoeira – 4 seções
33ª ZE de Itacajá – Aldeia Manoel Alves Pequeno, Santa Cruz – 2 seções
34ª ZE de Araguaína - Santa Fé do Araguaia – Aldeia Kuhere – 1 seção