Hospitais públicos das cidades de Palmas, Araguaína, Gurupi e Taguatinga foram vistoriados nessa terça-feira, 9, por equipes da Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE/TO). A vistoria foi realizada por defensores públicos e analistas que atuam no NUSA – Núcleo Especializado de Defesa da Saúde e nos NUAmacs – Núcleos Especializados de Minorias e Ações Coletivas de cada regional e apurou denúncias, verificou instalações, acesso a medicamentos e cirurgias, qualidade de alimentação e assistência nos hospitais. Foram vistoriados o Hospital Geral de Palmas, Hospital Municipal de Araguaína, Hospital Regional de Gurupi e Hospital Municipal de Taguatinga. A partir das vistorias em todos os hospitais foram coletadas informações para elaboração de relatórios, que serão encaminhados aos órgãos de saúde competentes para providências.
A vistoria no Hospital Regional de Gurupi foi feita pelos defensores públicos Hud Ribeiro, Lara Gomides e Leandro de Oliveira Gundim. De acordo com os Defensores Públicos, dos principais problemas destacam-se a falta de material para higienização básica como caixas para descarte de lixo hospitalar, sabonete, álcool em gel, papel toalha, fraldas, material de limpeza (sabão) para a higienização dos ambientes e lavagem dos lençóis dos leitos.
Assim como no Hospital Geral de Palmas, a alimentação enteral também é um problema em Gurupi, pois não é considerada adequada pelos profissionais de nutrição. A falta de profissionais também é uma constante no hospital de Gurupi, principalmente na área de ortopedia, dificultando a realização de cirurgias. Para o coordenador do NUAmac em Gurupi, o defensor público Leandro Gundim, a situação no local é de caos hospitalar. “A situação em Gurupi é de causar espanto e preocupação. São problemas complexos, entretanto, as soluções não podem esperar porque várias pessoas são diariamente colocadas em situação de risco e quando falamos no direito a vida e a saúde tudo é urgente’’, conclui.
Palmas
A vistoria no HGP – Hospital Geral de Palmas foi feita pelos defensores públicos Letícia Amorim, coordenadora do NUAmac Palmas, e Felipe Cury, coordenador do Nusa. Conforme os Defensores Públicos, as principais urgências estão na falta de medicamentos, principalmente comprimidos, pomadas e para os pacientes do setor de oncologia. De todos os itens solicitados pela equipe de Farmácia, em média apenas 60% dos pedidos são atendidos pela Sesau – Secretaria Estadual de Saúde.
Na Cozinha há dificuldades com os pedidos de carnes e polpas de frutas. A dieta enteral é servida diariamente para cerca de 70 pacientes, porém, a maioria dos alimentos é do tipo sistema aberto, que não é o mais adequado devido às instalações físicas que não permitem a manipulação correta. “Os pacientes deveriam receber dieta enteral do sistema fechado, porque a durabilidade é maior e a alimentação não chega de forma padronizada, com todas as vitaminas de forma integral. Além disso, foram relatados casos onde os pacientes ficam horas em jejum por falta da dieta enteral”, explica o defensor público Felipe Cury. Falta alimentação do tipo fórmula infantil “Nutrem Junior” para crianças de um ano, pois o estoque da alimentação é sempre baixo, suficiente para no máximo 48 horas. No Setor de UTI – Unidade de Terapia Intensiva há falhas no remanejamento das alimentações enterais para outros hospitais do Estado.
Cirurgias
No HGP faltam materiais básicos, como campos e arcos cirúrgicos, o que impede a realização de cirurgias e deixam pacientes por até cinco meses da fila de espera. Além disso, os profissionais de saúde sempre trabalham com estoque no limite. No Setor de Hemodinâmica foi verificado que o principal problema é a falta de campo cirúrgico, tecido, que impossibilita o atendimento aos pacientes eletivos. Para realizar os procedimentos, muitos profissionais estão pegando materiais emprestados, a exemplo do contraste.
Conforme a defensora pública Letícia Amorim, ainda há muitos problemas que precisam ser solucionados, mas houve avanço nos problemas do hospital em relação às últimas vistorias, como regularização na alimentação. “Na unidade do Pró-Rim no HGP, por exemplo, as instalações físicas estão em bom estado de conservação assim como os materiais e aparelhos utilizados no setor, porém, falta forro para as cadeiras e macas”, relata.
Taguatinga
A vistoria no Hospital Municipal de Taguatinga foi realizada pelo coordenador do NUAmac Dianópolis, o defensor público Evandro Kappes. Segundo ele, o principal problema do hospital é quanto ao descarte de lixo hospitalar. No local, há lixo hospitalar e material biológico que não é descartado há um ano e meio (mais detalhes na matéria “Lixo hospitalar e material biológico não é recolhido há um ano e meio no Hospital Municipal de Taguatinga” http://ww2.defensoria.to.gov.br/noticia/22263)
Outras falhas detectadas são quanto à desordem dos prontuários, onde na ala de internação há uma sala com cerca de 50 mil prontuários de atendimento anteriores à implantação do sistema eletrônico com fichas que estão espalhadas em uma sala em caixas de madeira, em razão da inexistência de arquivos-ficheiros; ausência de fiscalização no horário de visitas; ambulâncias antigas que ficam constantemente paradas por falta de manutenção; pintura interna e fachada desgastada que impede a identificação do local como um hospital; portas e fechaduras apodrecidas e deterioradas; falta de colchões na ala da maternidade e ausência de climatização na sala pré-parto e de materiais básicos como seringa, luvas e máscara de oxigênio infantil.
Na cozinha do hospital em Taguatinga, o calor é muito grande e não há sequer um exaustor para troca de temperatura com o ambiente externo, não existe nutricionista responsável pela elaboração do cardápio (feito pelas cozinheiras) e não há serviço de alimentação no período da noite para os profissionais que atuam no local, sob o argumento de falta de recursos orçamentários.
No laboratório de análises clínicas há farmacêuticos bioquímicos em número inferior à necessidade de tarefas (no ano passado eram cinco e atualmente há somente dois) sobrecarregando a atividade dos profissionais, falta de materiais básicos para a realização de exames como o spectofotômetro (que mede e compara a quantidade de energia radiante), aparelhos do laboratório de análises clínicas em manutenção há mais de dois anos e espaços com risco de contaminação como a lavagem de materiais reutilizáveis em uma pia muito próximo à janela, resultados de exames que são anotados manualmente por falta de um computador no laboratório clínico. “Os exames realizados na unidade laboratorial, preenchidos manualmente, nem mesmo são aceitos como válidos em outras unidades de saúde, ante a possibilidade de fraude”, expõe o defensor público Evandro Kappes.
Também faltam equipamentos básicos como um aparelho de eletrocardiograma e respirador. Há muitos aparelhos no local com marcas de ferrugem e velhos, como o desfibrilador da sala de emergência, e equipamentos com defeito como o de ultrassom, que está para conserto há mais de um mês. “Por causa desse defeito no equipamento de ultrassom, cerca de 140 gestantes estão desassistidas na região, muitas têm de realizar em unidades particulares ou viajar para outros municípios para realizar os exames”, informa Evandro Kappes.
Foi verificado que no local há equipamentos novos que não são utilizados. Eles foram adquiridos há mais de um ano e nunca foram utilizados, como uma Capela de Fluxo Luminar que protege os produtos a serem manipulados no laboratório de análises clínicas, um equipamento para secagem de roupas (Calandra) e uma centrífuga na lavanderia que não foram instalados porque a equipe utiliza um varal (sem qualquer preservação estéril) e uma máquina de esterilização que está no corredor principal do hospital porque não cabe na sala de esterilização. “A máquina é muito grande e não cabe na sala de esterilização, que ainda utiliza um equipamento antigo. Conforme a equipe do hospital há um projeto para ampliação da sala para que o equipamento possa ser então utilizado”, adianta o Defensor Público.
Conforme o Defensor, algumas melhorias na Unidade merecem ser destacadas, como exames laboratoriais que foram regularizados e não há filas para a realização de tais procedimentos, refeitório organizado, camas e colchões novos em todos os leitos que atendem à demanda local, ala da internação pediátrica, de cirurgia, de parto e farmácia estruturadas adequadamente.
Araguaína
A vistoria no Hospital Municipal de Araguaína foi feita pelo coordenador do NUAmac Araguaína, o defensor público Sandro Ferreira. Segundo ele, o principal problema detectado é quanto ao tempo de espera por consultas com especialistas, pois há assistidos que alegam até seis meses de espera por consulta. A vistoria foi acompanhada pelo secretário de Saúde de Araguaína, Jean Coutinho e foi solicitado pela Defensoria ao secretário que preste informações no prazo de cinco dias, com a lista de espera para este tipo de consulta, dentro do âmbito de atendimentos de responsabilidade do município.
O secretário apresentou projetos de ampliação para comportar a UTI pediátrica e, em médio prazo, a ampliação dos serviços como hospital-escola, a partir de convênio com o Centro Universitário ITPAC.