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Saúde

Foto: Divulgação

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“Seu organismo fica parecendo uma bomba-relógio”. Foi assim que um servidor público da Prefeitura de Palmas que testou positivo para Covid-19 descreveu como tem se sentido desde que contraiu a doença. No 13º dia dos sintomas - na data de publicação desta matéria - o servidor tem se mantido isolado em casa juntamente com 3 filhos, entre eles uma bebê de 8 meses, e ainda a esposa, sogra e uma nora. Todas as 7 pessoas contraíram o novo coronavírus Sars-Cov-2, causador da Covid-19. Apenas um dos filhos não apresentou sintomas.

Mesmo com apenas 43 anos, o servidor público que, a seu pedido, não será identificado, faz parte de um dos grupos de risco, pois é hipertenso. Ele conversou com a reportagem do Conexão Tocantins e contou como contraiu a doença e a forma como, sem querer, acabou passando para toda a família. Ele relatou um pouco da tensão que todos têm sentido em casa.

Conexão Tocantins - Quais membros da família foram diagnosticados com a Covid-19?

Servidor Público - Aqui em casa sou eu, minha esposa, uma bebezinha de 8 meses, e meu filho de 10 anos. Porém, meu filho de 23 anos que está trabalhando em Marianópolis/TO acabou vindo para cá. Então aqui em casa hoje, além de mim, esposa e meus filhos, também tem a namorada [de um deles] e a minha sogra que veio para cá no dia primeiro [1º maio]. Então, eu fui diagnosticado primeiramente, no dia 6 [de maio] e em seguida a minha pequenininha de 8 meses, que também foi diagnosticada. Minha esposa teve sintomas recentemente, de ontem para hoje [11 para 12 de maio]. Já eu, tive meu primeiro sintoma dia primeiro.

O meu filho [de 23 anos] fez exame. Não saiu o resultado ainda. Mas a minha nora, que é a namorada dele, já fez e o teste foi positivo. Como ela estava isolada na casa dela, e lá só tem um banheiro, ela veio para cá, já que estamos todos aqui com sintomas.

CT - Como você contraiu o coronavírus?

Servidor Público - No final do mês [de abril], por volta do dia 29 mais ou menos, uma colega minha [de trabalho] teve sintomas. Ela trabalha na sala comigo e estava meio ruim com uma 'gripe'e eu acabei sentindo sintomas no dia primeiro (1º de maio). Como eu tenho comorbidade, sou hipertenso, havia pedido para não ir trabalhar, porque a Prefeitura colocou um decreto de que quem tem comorbidade poderia fazer home office. Porém, a mesma prefeita que deu o decreto de que poderia-se fazer home office, também lançou uma circular interna de que seria descontada uma ajuda de custo de quem fosse trabalhar de casa. Ou seja, deu com uma mão e tirou com a outra. Então eu voltei a trabalhar, e foi nesse dia que minha colega estava sentindo os sintomas e a gente teve contato. Na minha sala tem 5 pessoas e eu acabei contraindo.

CT - Quais os sintomas que vocês sentiram? São realmente parecidos com de uma gripe ou mais graves?

Servidor Público - Os sintomas são parecidos com de uma gripe normal: dor no corpo, febre, mal-estar… eu senti os sintomas e fui para casa, mas eu acabei tendo contato com todo mundo, porque a gente não se isola imediatamente. Esse é o grande problema, porque como é um sintoma parecido com a gripe, que eu já tinha tido no início, a gente não se isola e acabou que no dia primeiro mesmo eu tive contato com os meus filhos, com minha esposa, com minha sogra e eu acho que nesse momento eu acabei passando para eles.

Domingo [10] eu tive cansaço, ontem [11] eu tive dor na garganta e cansaço também. E hoje [12] apenas uma pequena dor no corpo e cansaço. Então pela lógica eu estou no 12º dia dos sintomas. De repente você pensa que está bem, e de repente fica ruim novamente. No dia em que eu fui para o hospital, foi dia 6, quarta-feira, eu senti cansaço. Foi quando fiz o exame que saiu no dia seguinte. Eles só fazem o exame se você tiver cansaço. Então a gente tem um sério problema hoje da ausência de exames. Eu me isolei na segunda-feira [4 de maio], eu liguei lá para saber se faziam [o teste] e disseram que tinha que estar mais ruim e tal… (sic), e não fizeram o exame. Só foi fazer quando eu tive falta de ar.

Minha pequenininha, de 8 meses, ficou muito ruinzinha na segunda e na terça-feira da semana passada. Ela teve uma febrezinha mas depois melhorou. Mas aí, no sábado [9 de maio] ela piorou e teve que ir para o hospital. Ficou no soro, se reidratou… ficou baqueadinha, mas graças a Deus, com o soro, ela ficou bem. Ela testou positivo também. Meu filho de 10 anos teve pouco sintomas, só febre e dor no corpo. Ficou dois dias [assim] e logo-logo ficou bem. Meu outro filho está assintomático, o de 23 anos. Ele fez o exame, não saiu o resultado ainda, mas ele tá totalmente assintomático. Minha sogra, ontem e anteontem [dias 11 e 12] teve dor no corpo, febre, mas está de repouso, com um pouco de cansaço também, mas está se recuperando.

Um sintoma que todos tiveram peculiar aqui foi a ausência de paladar e do olfato. Eu fiquei por 5 dias sem sentir gosto de nada, sem sentir cheiro de nada e é horrível. É  uma sensação muito ruim.

CT - Como você descreve a experiência da família com a doença e o que se recusa a cumprir o isolamento como forma de prevenção?

Servidor Público - Eu vejo o seguinte... para essas pessoas que não estão fazendo o isolamento, que estão achando que a doença é coisa simples, que não ataca a família, que não vai pegar… tem que abrir o olho, porque isso não é uma gripe normal. É muito severa! Eu estou no 12º dia. O organismo da gente fica parecendo uma bomba-relógio, parece que a qualquer momento você vai explodir. Graças a Deus eu não tive que ir para nenhuma entubação, mas pessoas com mais idade sofrem muito mesmo. Crianças também sofrem.

Eu tive todos os cuidados do mundo para não trazer essa doença [pra casa]...usava máscara… eu saía para a rua com máscara e muito preocupado, mas como é uma coisa invisível, e de onde você menos espera vem, no meu caso, do meu trabalho… então fica o alerta para o pessoal, porque é muito ruim, é muito sofrimento, muita dor no corpo… e se pegar uma pessoa com uma situação de saúde pior, talvez não tenha tempo de se recuperar. Então seria importante que todo mundo fizesse o isolamento social, que todo mundo ficasse em suas casas. E quem tem pessoas com comorbidades em casa que não saísse, tomasse todas as cautelas, porque se pegar muitos vão sofrer.