A Polícia Civil do Tocantins, por meio da Divisão Especializada de Repressão ao Crime Organizado (DEIC de Palmas), unidade da Diretoria de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (DRACCO), deflagrou na manhã desta quinta-feira, 21, em Guaraí, a operação Américo Gama. A ação busca o cumprimento de 5 (cinco) mandados de prisão preventiva e 13 mandados de busca e apreensão em residências nos estados do Tocantins, Pará e Maranhão. A operação é resultado das investigações relacionadas à tentativa de roubo a um carro-forte em 24 de outubro de 2019, em Pequizeiro, na região Centro-Norte do Estado, distante 252 quilômetros de Palmas.
A ação teve o acompanhamento da diretora da DRACCO, delegada Cínthia Paula de Lima; coordenação dos delegados da DEIC de Palmas, Emerson Francisco de Moura e Eduardo César de Menezes; apoio tático do Grupo de Operações Táticas Especiais (GOTE) e suporte da 4ª Delegacia Regional de Polícia Civil de Guaraí, além das Polícias Civis dos Estados do Pará e Maranhão.
Conforme o delegado Eduardo de Menezes, um dos mandados de prisão preventiva é em desfavor de um dos delinquentes que participou da tentativa de assalto ao carro-forte em Pequizeiro. “Foram seis meses de investigação e um complexo trabalho de cruzamento e análise de milhares de dados para identificar o quinto criminoso presente na cena do assalto, que na época conseguiu se esquivar do cerco montado pelas forças de segurança na época dos fatos”, explicou o delegado ao ressaltar que o investigado é um dos fundadores da Turma dos Pipocas e assaltante de banco dos mais procurados do Brasil.
Segundo apurado na investigação, em 2015, o investigado foi responsável por outro grande assalto, realizado na cidade de Russas, no interior do Ceará. Ele, junto com os demais “Pipocas”, tentou assaltar um comboio de carros-fortes que trafegava pelo Km 20 da BR-116, com destino à Fortaleza. O delegado relatou que na fuga o grupo seguiu para um sitio e lá manteve os moradores da propriedade rural reféns por aproximadamente seis horas, até se entregarem. Na ocasião, os “Pipocas” também foram responsáveis por matar um soldado da Polícia Militar do Ceará. Em poder deles, a Polícia encontrou e apreendeu um verdadeiro arsenal de guerra (armas de grosso calibre, incluindo dois fuzis AK-47).
O delegado Eduardo de Menezes informou que, na operação desta quinta-feira, 21, deflagrada pela Polícia Civil do Tocantins, esta última liderança dos “Pipocas” foi presa na cidade de Belém do Pará e trazido de helicóptero até a cidade de Guaraí. Lá, o criminoso vivia com a família em um condomínio de classe média alta.
Apoio de Moradores
Em Guaraí, os investigadores da DEIC de Palmas identificaram a existência de uma rede criminosa formada por moradores da região, os quais foram responsáveis por dar o suporte à “Turma dos Pipocas”, tanto no que tange ao planejamento do atentado patrimonial, quanto no que diz respeito ao resgate, logo que se tomou conhecimento do insucesso da empreita.
Conforme apurado pela equipe da DEIC de Palmas, os “nativos” foram recrutados pelos assaltantes para que, valendo-se da condição de residentes, contribuíssem, por exemplo, com seu conhecimento geográfico da localidade, indicando rotas de fuga, locais de esconderijo na mata (em caso de algum imprevisto, como acabou ocorrendo) e viabilizando locais para estadia do grupo.
No resgate, o plano era que um dos fazendeiros da região auxiliasse a Turma dos Pipocas disponibilizando um de seus caminhões. Do tipo Baú, o veículo serviria para transportar os assaltantes e o armamento de forma despercebida pelas barreiras policiais montadas. Segundo investigado, na época dos fatos, o fazendeiro, na tentativa de realizar o resgate do bando, chegou a ser abordado por uma das guarnições da Polícia Militar próximo ao local das buscas.
O delegado explicou, contudo, que por ser pessoa influente e conhecida na região, a presença do fazendeiro não levantou suspeita qualquer dos policiais militares e foi liberado em seguida. “Esse fato explica, inclusive, o plano dos “Pipocas” em recrutar moradores da localidade, ou seja, para justamente não despertar nenhuma desconfiança das forças de segurança locais”, ressaltou Eduardo de Menezes.
Os fatos
Na época do fato, em 24 de outubro de 2019, um grupo de vigilantes de uma empresa responsável por transporte de valores foi abordado por cinco assaltantes, que cercaram o caminhão blindado e passaram a efetuar disparos em sua direção. Em meio à troca de tiros, o motorista do veículo blindado, propositalmente e de forma perspicaz, causou uma colisão com a caminhonete utilizada pelo grupo de assaltantes, ocasionando o capotamento do veículo conduzido pelo bando. O que, consequentemente, frustrou o assalto.
Sem terem como deixar o local da ação delituosa, em virtude das avarias na caminhonete, causadas pela colisão com o blindado, os assaltantes abordaram um lavrador, que trafegava pelo local com sua motocicleta. Dois dos criminosos arrebataram o veículo do homem e saíram em direção à cidade de Pequizeiro em busca de um carro que comportasse todos os integrantes do bando. Enquanto isso, outros três membros ficaram escondidos no matagal, aguardando o retorno da dupla, período em que o agricultor foi constrangido a também permanecer custodiado na mata.
De posse da motocicleta do agricultor, os dois assaltantes seguiram por estradas vicinais da zona rural de Pequizeiro até que se depararam com um Fiat Strada ocupado por outro agricultor e seus dois filhos. Para fazer com que a família desembarcasse do veículo, efetuaram vários disparos na direção do carro. Um dos tiros de fuzil só não atingiu a região da nuca do motorista porque antes alvejou a barra de ferro localizada atrás do encosto de cabeça do banco.
Depois de subtraírem o Fiat Strada, os homens abandonaram a motocicleta e retornam ao local do crime para buscar os outros três comparsas e libertar o lavrador. Minutos depois, no entanto, os assaltantes perderam o controle do veículo que tinham acabado de subtrair, deixando-o preso às imperfeições do relevo da região. Sem ter como fugir, viram-se forçados a também se refugiarem no mato.
Nesse momento, a Polícia Militar do Tocantins começou a perseguição aos assaltantes; ação que durou cerca de 15 dias. Uma sequência de eventos criminosos que se deram posteriormente, aliada a toda tensa ambiência gerada pelo cerco policial montado, aterrorizou os moradores da região durante esse período.
O primeiro episódio ocorreu no dia 31 de outubro, sétimo dia de buscas, onde um grupo de policiais militares interceptou a tentativa de resgate dos cinco assaltantes que naquele momento ainda se refugiaram em meio à mata. A retirada dos criminosos do matagal seria feita por dois delinquentes, também integrantes do bando, que, após perseguição e troca de tiros, acabaram sendo mortos.
Como estavam na iminência de resgatar os assaltantes do interior do matagal, a partir do local do confronto, foi possível aos policiais estabelecerem um perímetro de buscas mais restrito. Ao passarem a ter uma melhor noção do local de esconderijo dos cinco assaltantes no interior do mato, a tropa, já no dia seguinte, localizou os conhecidos “Irmãos Pipocas”. A dupla era uma das principais lideranças da organização criminosa “Turma dos Pipocas”, que ganhou notoriedade nos últimos anos como sendo um dos principais grupos armados dedicados a ataques patrimoniais contra instituições financeiras e carros blindados de transporte de valores.
Após nova troca de tiros, os dois “Pipocas”, antes de serem mortos, acabaram atingindo com tiros de fuzil o sargento da Polícia Militar Deusdete Américo Furtado Gama, que morreu a caminho do hospital.
Na madrugada do dia 1º de novembro, enquanto as tropas permaneciam reunidas na área rural de Pequizeiro, a agência do Banco Bradesco da cidade foi totalmente destruída por explosivos. O ataque foi realizado por mais alguns integrantes do bando que compunham o grupo responsável por dar suporte logístico à Turma dos Pipocas.
Impossibilitados de se aproximar do local de abrigo dos assaltantes em meio ao matagal para efetuar o resgate, por conta do cerco realizado por quase 200 policiais, essa rede apoiadores provocou a explosão, para chamar a atenção e desmobilizar as tropas, atraindo-as para o centro do município.
No dia 4 de novembro, dois dos três assaltantes que ainda estavam foragidos naquele momento invadiram uma fazenda da região e amordaçaram todos os seus funcionários. Depois de 12 dias escondidos no matagal, a intenção dos criminosos era conseguir um carro que permitisse a eles deixarem a cidade. O arrendatário da propriedade rural chegou a ser obrigado a usar seu carro para levar os bandidos até o município de Araguacema.
No entanto, logo que se depararam com uma barreira policial, os dois delinquentes se deram conta da envergadura da mobilização policial montada para encontrá-los, resolvendo, logo em seguida, desembarcar do veículo da vítima e reingressar na mata.
Na delegacia, o fazendeiro fez questão de ressaltar que ambos delinquentes estavam bastante preocupados em obter informações sobre as ações policiais adotadas no sentido encontrá-los (localização de possíveis “blitz”) e dados sobre o paradeiro dos demais comparsas. A vítima destacou ainda que ambos ficaram bastante apreensivos ao saber que um policial militar havia sido morto por um de seus comparsas
Três dias depois, a operação de buscas foi encerrada com o encontro da dupla caminhando pela mata. Após mais uma troca de tiros, acabaram também sendo mortos.
Nome da Operação
O nome da operação é uma homenagem da Policia Civil do Tocantins ao Policial Militar Deusdete Américo Furtado Gama, morto com um tiro de fuzil disparado por um dos irmãos Pipocas no confronto em meio à mata.