A presença de um agrupamento de botos do Araguaia, nome científico Inia araguaiaensis, próximo às margens do Rio Tocantins foi registrada recentemente, por moradores de Miracema, no último dia 1º de fevereiro, nas proximidades da Praia do Funil. Com estudos sobre boto em andamento, a bióloga Loise Schmitz Zem, que vem se especializando em Perícia e Auditoria Ambiental, recomenda a apreciação e o registro de agrupamento da espécie a distância.
“Os botos geralmente possuem hábitos solitários, a aparição dessa espécie para banhistas e navegadores é considerada relativamente rara, geralmente os agrupamentos ocorrem em momentos de alimentação, reprodução e principalmente, entre mães e filhotes, no período de amamentação. Então, mesmo ao aparentar comportamento dócil, a reação de um animal silvestre é imprevisível”, explica a bióloga.
Também chamados de golfinhos do rio, as espécies encontradas na bacia Tocantins-Araguaia receberam o nome de boto do Araguaia e nome científico Inia araguaiaensis. “O gênero Inia possui características diferentes dos demais golfinhos, como um tamanho corporal maior, nadadeira dorsal alongada e curva, dentição heterodonte, vértebras especializadas que os possibilitam uma maior flexibilidade para nadar em áreas de floresta alagada”, pontua Loise Zem sobre as características físicas comuns aos botos desse gênero.
Segundo a bióloga, os botos costumam se alimentar de alguns tipos de peixes encontrados nas bacias do território tocantinense. “Esses golfinhos do rio se alimentam de espécies como mapará, barbado, corvina, mandi-moela e, por sua vez, os botos são considerados animais de topo de cadeia, então não há nenhum tipo de predador natural, a não ser o homem”, conta Loise Zem ao enfatizar que esses animais são importantes para o equilíbrio ambiental, pois contribuem com o controle populacional das demais cadeias alimentares que estão abaixo dele.
Contudo, resultados de outros estudos devem ser considerados. “Como não têm dados específicos da espécie de boto do Tocantins é levado em consideração o gênero. Com a entrada do boto de nome científico Inia geoffrensis na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), em 2018, as espécies do gênero Inia foram considerados em perigo de extinção”, relata Loise.
“Vale ressaltar que no Tocantins não há nenhum registro de captura ou caça, para fins de comercialização ou de consumo da carne do boto. No Pará, existem relatos que indicam a utilização da genitália e dos olhos do animal, para montar amuletos de cunho religioso e cultural. Já na Amazônia o Inia geoffrensis sofre com a matança ilegal, para o uso de sua carne como isca na pesca de piracatinga”, acrescenta a bióloga.
Os estudos sobre a espécie são escassos e, por isso, ainda não há uma estimativa populacional do boto no território tocantinense. “Apesar de ainda não termos um censo da quantidade de indivíduos do boto do Araguaia no Tocantins é possível encontrar esse animal em pequenos rios que estejam diretamente ligados ao rio Tocantins e ao rio Araguaia, geralmente quando essa espécie sai em busca de maior disponibilidade de alimento”, afirma.