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Opinião

Foto: Pixabay

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Money no bolso, é tudo que eu quero. Money no bolso, saúde e sucesso!”, já dizia a letra da música Fama, composta pela atriz e cantora brasileira Beth Lamas e que fez grande sucesso na abertura da novela Celebridade, entre 2003 e 2004, em uma conhecida emissora de televisão. Mas será que apenas 15 minutos são suficientes para que uma pessoa vire capa de revista?

É claro que não. E por que será? Para a psicanálise, campo de investigação da psique humana desenvolvido pelo médico austríaco Sigmund Freud, até mesmo a pessoa que diz “eu nasci pra ser artista” e preenche os requisitos para ser uma estrela pode ter dificuldades financeiras, uma vez que a mente é suscetível à forma como os indivíduos viveram os seus complexos infantis.

Quando se fala em dinheiro, é comum que a ciência aponte para a fase anal do desenvolvimento psicossexual das crianças: período compreendido entre o  1º e o 3º  ano de vida. Nesta etapa, como a energia psíquica está concentrada no ânus, é corriqueiro que os pequenos deem uma importância especial às fezes e às relações que se irão ser construídas ao redor deste tema.

Pode ser, por exemplo, que um bebê faça força para evacuar quando está com raiva do papai ou da mamãe, obrigando-os a virem limpá-lo com frequência como forma de vingança. Ou, pode ser também, que ele retenha a sua obra fecal quando está contrariado e nunca deixe sair os seus cheirosos excrementos, punindo, assim, os seus genitores com uma boa carga de preocupação.

Independente da atitude adotada, seja a expulsiva, seja a retentiva, no futuro, todo este jogo de associações mnemônicas será transposto para situações cotidianas envolvendo a conhecida bufunfa. Tem gente que irá abrir a carteira, tal como abriu o bumbum no passado, liberando a grana (fezes) toda vez que sentir raiva do chefe, do amigo ou, até mesmo, de algum familiar.

Na contramão, há, ainda, os que serão avarentos por natureza, fechando a potranca com o objetivo de obter a aprovação de alguém. É o mão de vaca, pão-duro ou unha de fome do futebol do domingo, aquele cara mesquinho que quer jogar, mas nunca traz água, não empresta as chuteiras, muito menos aposta dinheiro no bolão do Brasileirão. Tudo para ser a bola da vez.

Pensa que acabou? Como se os conflitos da analidade não bastassem, já que todo mundo tem, mesmo que de forma mais ou menos presente, as suas questões psicológicas neste momento de suas vidas psíquicas, existe também um tipo mais preocupante de fixação envolvendo grana que, de fato, vai contrariar o refrão “um jatinho para voar quando estiver afim”, de Beth Lamas.

Trata-se dos traumas mais profundos, aqueles que ocorreram quando mãe e filho ainda eram um só indivíduo. Neste momento tão singular da existência humana, as coisas são sentidas com bastante intensidade, logo, se uma determinada genitora usa o seu dinheiro durante a gravidez para se drogar, pode ser que o seu filho associe o dinheiro ao perigo, fugindo dele para sempre.

Outras, por conta da necessidade em que se encontram, podem ter provido seu sustento com a prática da prostituição. Neste sentido, não será incomum se a sua cria vier a atrelar o caraminguá à sujeira, fazendo, no futuro, o que estiver ao seu alcance para se livrar dele e, assim, conseguir manter-se limpo da porcaria vivenciada por um ser que era frágil demais para suportar aquilo.

E por que não citar o medo que o casal sente quando fica sabendo que terão um descendente? Embora felizes, a preocupação sobre cascalho é uma das mais frequentes, afinal, “como vamos pagar as contas com mais uma boca para sustentar?”. É aí que a sentença “dinheiro = problema” é apreendida pelo infante, invertendo o bom sentido trazido pelas notas que tudo compram.

Existe também aquele que não deseja ganhar dindim. O motivo? Com muitos tostões na carteira, este sujeito não precisará mais ser dependente de ninguém, tornando-se autônomo. E ficar longe da moça do cabelo grande e do moço da barba que espeta? Nem pensar! É melhor nunca ter pila para comprar o que quer que seja. Assim, ficará grudado neles até que a morte os separe.

Em miúdos, para ter money no bolso, antes de querer, é preciso transcender. Portanto, se você e a música Fama sabem que ele tem um preço, está disposto a pagar e quer subir, antes de cantarolar que na cama com Madonna o que se quer mais é ser feliz, encontre um psicanalista, investigue o seu passado e reconfigure as suas crenças. Aí, sim, Hollywood será logo ali. 

*Renan Cola é psicanalista, formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em Marketing e Gestão Comercial pela Universidade Vila Velha (UVV), em Psicanálise pelo instituto IBCP Psicanálise e em Gestão Empresarial e Empreendedorismo pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC).