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Opinião

 Hugo Garbe é  PhD em economia.

Hugo Garbe é PhD em economia. Foto: Divulgação

Foto: Divulgação  Hugo Garbe é  PhD em economia. Hugo Garbe é PhD em economia.

O Brasil voltou a registrar deflação em agosto de 2025. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou 0,11% no mês, marcando a primeira queda em um ano — a anterior havia ocorrido em agosto de 2024, com retração de apenas 0,02%.

Embora a palavra “deflação” muitas vezes seja associada a uma boa notícia, por indicar redução nos preços, é importante interpretar o fenômeno com cautela. No caso recente, a queda não foi causada por um arrefecimento generalizado da inflação, mas sim a fatores específicos e temporários. O principal deles foi o desconto extraordinário aplicado nas tarifas de energia elétrica, impulsionado pela maior geração em usinas hidrelétricas. Além disso, os preços de alguns alimentos e de produtos industriais mostraram recuo, favorecidos pela valorização cambial nos últimos meses.

Apesar desse alívio, a inflação acumulada em 12 meses permanece em 5,13%, ainda acima da meta oficial de 3%, que admite até 4,5% de tolerância. Mais preocupante é o comportamento dos serviços, cujos preços seguem crescendo em torno de 6% ao ano, reflexo de um mercado de trabalho aquecido e de uma demanda doméstica que resiste à desaceleração.

Diante desse cenário, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por manter a taxa Selic em 15%, adotando uma postura cautelosa. Embora alguns agentes do mercado esperassem cortes já no segundo semestre deste ano, a expectativa agora é de que os ajustes ocorram apenas em 2026.

A grande questão que se coloca é se a deflação de agosto sinaliza uma mudança de tendência ou se trata apenas de um episódio passageiro. Tudo indica que estamos diante de um fenômeno pontual, cujo impacto maior foi a redução temporária na conta de luz. Ainda assim, o movimento oferece um certo alívio imediato ao bolso do consumidor e pode ajudar a ancorar expectativas de inflação mais baixa.

No entanto, o desafio das autoridades permanece: reduzir a inflação de forma sustentável, sem sufocar a atividade econômica e o mercado de trabalho. A deflação de agosto, portanto, mais do que um prenúncio de estagnação, deve ser vista como uma pausa momentânea no processo inflacionário, um sinal positivo, mas que exige cautela, responsabilidade fiscal e persistência na condução da política monetária.

*Hugo Garbe é PhD em Economia. É professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).