Quando do anúncio do tarifaço imposto pelo governo do presidente Donald Trump às exportações de carnes brasileiras, formou-se um consenso de que haveria queda nos preços a nível de produtor. Todavia, passados os primeiros dias de apreensão, todos os indicadores de análise microeconômica estão demonstrando que, ao contrário, ocorrerá uma forte recuperação nos preços da arroba do boi gordo, e, consequentemente, preços mais elevados para os consumidores, já a partir deste semestre, seguindo firme por todo o ano de 2026. A alta das carnes bovinas empurrará para cima também os preços relativos de aves, suínos e ovinos. Tempestade perfeita para a inflação doméstica.
São inúmeros os indicadores da pecuária de corte que vem dando sustentação e base a esta previsão. O primeiro deles, talvez o principal, tem a ver com a alta expressiva dos preços do gado norte-americano para abate.
Conforme se observa no gráfico acima, em apenas quatro anos, os preços equivalentes da arroba do boi gordo subiram de USD 64,70 para USD 161,60, representando uma expressiva alta de 150%! Isto é devido ao fato de o rebanho bovino norte-americano ter recuado para o seu menor nível dos últimos 70 anos, situando-se, atualmente, em algo ao redor de 86-87 milhões de cabeças. Este declínio resultou numa redução da oferta de carne bovina nos EUA, pressionando, de forma constante, os preços para cima. Este fato abriu o ensejo para a efetivação de uma grande oportunidade para o Brasil continuar se posicionando como o principal exportador de carnes bovinas do mundo.
O segundo fator é o crescimento auspicioso das exportações das carnes bovinas nos últimos 5 anos. Em 2020 o Brasil exportou 2.691 mil toneladas; em 2024 nada menos que 4.313 mil (Ton), ou seja, um fantástico crescimento de 60% em apenas 4 anos. Para 2025, a previsão é de chegar em 4.310 mil (Ton) e, em 2026, para algo ao redor de 4.750 mil (Ton). Crescimento pujante.
O terceiro fator, também importante, é que todos os principais produtores de carnes do mundo estão com preços equivalentes em dólar em patamares superiores ao Brasil, conforme demonstra a tabela abaixo:
Deve-se ressaltar que, pela primeira vez na história, Argentina, Paraguai e Uruguai estão importando carne do Brasil, basicamente porque estão exportando para os EUA, ocupando o vazio deixado pelo Brasil.
O quarto fator é que os países compradores de carnes norte-americanas estão deixando aquele mercado, em razão dos altos preços, repudio ao tarifaço e concentrando compras no mercado brasileiro, o que vem determinando aumento contínuo das exportações das carnes, inclusive aves e suínos, conforme já explanado.
E, finalmente, o quinto fator que vem sendo o abate excessivo de matrizes no Brasil tanto em 2024 quanto em 2025, ano que se registrou o recorde histórico de abates de fêmeas. Essa prática do ciclo pecuário irá comprometer a oferta de bezerros e, a médio prazo, levar à escassez de animais prontos para o abate, o que resultará na forte valorização dos preços de reposição e da carne já a partir deste ano. Os preços aos consumidores poderão avançar em algo como 25%, em média.
Em resumo, vemos que o feitiço está se voltando contra o feiticeiro. O tarifaço de Donald Trump, que, no pensamento geral, era para ser um enorme desastre para o setor produtivo de carnes, está se tornando um período de vacas gordas, para felicidade geral dos produtores brasileiros.
*Sylvio Lazzarini é empresário do setor de serviços, CEO do Grupo Varanda e diretor de Relações Institucionais da FHORESP; foi presidente da Associação Brasileira dos Confinadores de Gado e membro efetivo do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC).