O Governo da China apertou o cerco ao anunciar, na quinta-feira da semana passada, dia 9, que vai endurecer regras para maior controle das exportações de elementos ligados às terras raras, minerais indispensáveis na fabricação de tecnologias de ponta e produtos de alta performance devido às suas propriedades únicas (magnéticas, condutoras e luminescentes).
As novas regras entrarão em vigor em 1º de dezembro. A China domina quase exclusivamente o mercado de terras raras, controlando mais de 70% da produção mundial e cerca de 90% da transformação deste material que é estratégico e tem sido destaque nas negociações comerciais.
A Agência Internacional de Energia já classificou, em diversos relatórios, a dominância chinesa no setor como um risco geopolítico.
A China assegurou que o impacto nas cadeias de abastecimento vai ser “muito limitado”. De acordo com o Governo Chinês, as medidas são uma ação para afinar o sistema de controle das exportações em conformidade com as leis e os regulamentos.
Ellie Saklatvala, chefe de precificação de metais não ferrosos na Argus, analisa que a ampliação dos controles de exportação aumenta significativamente o potencial de perturbações em setores industriais ao redor do mundo. "É importante destacar que não há produção comercial fora da China para a maioria desses elementos, e não há projetos em andamento nos próximos anos. Já estamos observando uma corrida imediata por material adicional fora da China, além de incertezas quanto ao status de entregas que já haviam sido contratadas".
O elemento érbio, como exemplifica Ellie, já vinha sendo motivo de complicações nos últimos meses. "Com muitos embarques retidos em gargalos nos portos chineses enquanto as autoridades alfandegárias verificavam rigorosamente os níveis de impurezas para garantir que os traços de elementos restritos presentes no óxido de érbio não ultrapassassem os limites estabelecidos. Como resultado, a disponibilidade de óxido de érbio fora da China diminuiu nos últimos seis meses, elevando os preços entregues na Europa para a faixa de US$ 50 por kg, segundo dados da Argus".
A representante da Argus projeta uma intensa pressão no mercado. "Com o érbio agora oficialmente sob controle de exportação, a expectativa é de intensa restrição na oferta fora da China e possível disparada nos preços. Vale lembrar que, desde o início do controle pela China em abril, os preços à vista de óxidos de disprósio e térbio fora da China mais que triplicaram, e o preço de óxido de ítrio se multiplicou por quase 30".
Resposta dos EUA
A iniciativa da China deixou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, irritado. Os minerais das terras raras são utilizados em produtos que vão desde celulares até mísseis e aeronaves – ponto sensível para os EUA. Em reação, Trump anunciou na sexta-feira, 10, que vai impor tarifa adicional de 100% sobre os produtos chineses a partir de 1º de novembro.
Brasil tem 2ª maior reserva
O Brasil detém a segunda maior reserva mineral de terras raras do mundo, segundo dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos, embora produza e refine quase nada atualmente.
Para evoluir no setor, são necessários investimentos bilionários, com retorno a longo prazo.
Tocantins
O Tocantins está entre os estados brasileiros com processos ativos na Agência Nacional de Mineração (ANM) para pesquisa e exploração de minerais terras raras. A região de Palmeirópolis, no sul do Tocantins, é frequentemente citada como um polo promissor.
Outra área visada é a do Quilombo Kalunga do Mimoso, no sul do Estado. Três processos de mineração estão integralmente dentro da comunidade. A ANM já deu sinal verde para o início das pesquisas. Os quilombolas, no entanto, reclamam que não foram consultados.

