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Polí­tica

"No meu entender, aquela nota da senadora não passou de um ato de desespero" Foto: Antônio Gonçalves

Foto: Antônio Gonçalves "No meu entender, aquela nota da senadora não passou de um ato de desespero"

Nesta entrevista ao Jornal Opção Tocantins desta semana, Donizeti Nogueira, Presidente Estadual do PT, fala das articulações para as eleições municipais de outubro, na qual o partido, segundo ele, irá priorizar os aliados da base do Presidente Lula, analisa o desenvolvimento histórico do partido e não perde a oportunidade para espinafrar a senadora Kátia Abreu (DEM).

Donizeti diz que a senadora “tem um ódio de classe”. Segundo ele, Kátia vem de uma classe que não tolera que outra classe participe do governo, daí o “desespero” e “rancor” que demonstra ao Presidente Lula. Donizeti ainda afirma se tratar de uma doença que a faz odiar e “padecer de miopia”.

Confira a entrevista

O prefeito Raul Filho é candidato à reeleição?

O prefeito Raul Filho está se dedicando totalmente à administração da Capital e ainda não se definiu quanto à sua candidatura. Mas tenho a impressão que a população de Palmas não vai abrir mão de um governo como o dele. O governo dele representa um diferencial: é o governo do diálogo, da democracia, da preocupação com o ser humano. É um governo que investe macicamente na educação. Raul Filho está comprometido com o futuro da cidade, com o desenvolvimento sustentado de Palmas.

Ao longo de boa parte do seu governo, Raul Filho aparecia nas pesquisas com baixo índice de aprovação. O senhor acha que esse quadro mudou?

As pesquisas eleitorais refletem cada momento. Uma pesquisa realizada hoje já não representa o que representaria há três anos ou há três meses. Todo governo tem uma fase de organização da casa. E é preciso considerar que o prefeito representa uma mudança radical na cidade de Palmas, depois de 16 anos de governos que seguiam o mesmo modelo de sempre. Isso trouxe um grau de dificuldade maior, gerando, inclusive, descontentamentos. Mas, nos últimos meses, o fato de as realizações do governo estarem sendo melhor compreendidas e até melhor expressas por parte da própria administração, há uma mudança de qualidade na interpretação da população acerca desse governo. Hoje, ela vê a gestão de Raul Filho de forma muito positiva.

Historicamente, o forte do PT sempre foi a área social. Qual o balanço que o senhor faz da gestão do prefeito nesta área?

Raul Filho foi o primeiro prefeito das capitais a implantar um Centro de Referência de Direitos Humanos GLBT [Gays, Lésbicas e Travestis], articulado com a política do governo Lula. Ele criou a Coordenação da Mulher, que faz uma política transversal em todas áreas do município, mantendo uma estrutura significativa de proteção às mulheres vítimas de violência. Equipou e melhorou a casa-abrigo das mulheres vítimas de violência. Ampliou a rede de assistência social no município, através dos Centros de Referência de Assistência Social. E a própria política de educação do município tem um papel muito significativo. As Salas Integradas permitem o reforço escolar das crianças, no contraturno, com práticas culturais e esportivas, além do reforço escolar em si. Além da escola de tempo integral, o município ampliou outras escolas. As crianças das camadas populares estão tendo a oportunidade de praticar esporte com orientação. Essa é uma política de inclusão social, que mostra que o governo Raul Filho tem uma política estrutural nessa área, indo muito além da prática da simples assistência e alcançando a ação objetiva da promoção social. A prefeitura também tem o Programa Palmas para a Igualdade Racial, que trabalha com crianças da raça negra em situação de risco, colocando essas crianças para coordenar grupos de trabalho dentro da própria escola, de modo a inseri-las socialmente. Esse é um programa-piloto da nossa gestão.

Do ponto de vista de obras, como a construção de moradia e melhoria dos equipamentos públicos, aspecto em que o prefeito vinha sendo muito criticado, o senhor acha que ele começa a deslanchar?

Penso que o conjunto do trabalho que vem sendo realizado pelo prefeito Raul Filho é positivo e pode, inclusive, trazer um desempenho muito satisfatório para ele do ponto de vista político-eleitoral. Se formos comparar o que foi feito de moradia, asfalto, escola e creches ao longo dos outros 16 anos com o que tem sido feito nesta gestão, sem dúvida, o saldo é altamente positivo para Raul Filho. O que ele já fez nesses três anos é muito mais do que os outros fizeram. Quando a população tomar conhecimento disso, de maneira global, ela vai perceber que um gestor da qualidade do prefeito Raul Filho merece todo o carinho.

Setores até simpáticos ao PT afirmavam que Raul Filho vinha fazendo um bom trabalho na Prefeitura de Palmas, mas pecava na hora de comunicar esse trabalho. Esse problema já foi solucionado? O prefeito se comunica bem com a sociedade?

Do meu ponto de vista, o prefeito, pessoalmente, sempre se comunicou bem com a sociedade. Ele é uma pessoa carismática, atenciosa e conversa com o cidadão humilde com uma atenção talvez até maior do que conversaria com um cidadão de outras classes. Nessa relação pública pessoal, ele tem um papel muito relevante. Agora, do ponto de vista da comunicação da gestão, Raul Filho fez uma opção: o que iria gastar na comunicação, ele preferiu investir em novas salas de aulas, novas creches, novos serviços para a população. Nesse último período, ele tem feito o que, no meu entender, não é nem uma divulgação publicitária, mas uma prestação de contas à população, mostrando como tem aplicado o dinheiro público, com transparência. Então, a partir desse momento em que ele passou a fazer uma prestação de contas mais intensa, a população, que já conhecia, em sua localidade, em seu bairro, o que ele estava e está fazendo, passa a tomar conhecimento de tudo o que ele já fez e faz de forma global na cidade.

Qual será o leque preferencial do PT em Palmas?

O PT tem uma aliança histórica no Estado, que vem desde 92, e sempre se materializou bastante nas eleições municipais e menos na eleição estadual. Esse arco de alianças vai do PMDB ao PC do B. Por outro lado, nunca estreitamos a nossa política de alianças para ficar só com o PMDB, o PC do B, o PPS, o PDT e o PSB. Sempre fizemos alianças pontuais com todas as forças políticas. Foi uma definição que tiramos em 1999. É óbvio que a nossa preferência em Palmas, hoje, é manter a aliança que está funcionando com os partidos que elegeram Raul Filho. Por outro lado, temos uma orientação nacional no sentido de que a nossa aliança seja alargada para todos os partidos que compõem a base do presidente Lula no Congresso Nacional. Aqui, estamos trabalhando para isso enquanto partido. Raul Filho, como ainda não se declarou candidato e está concentrado na administração do município, não está discutindo essa questão, mas o PT tem conversado com todos os partidos da base do presidente Lula, não só em Palmas como em todo o Estado. Como presidente regional do PT, estou viajando por todos os municípios, discutindo a política de alianças do PT. O PT tem, hoje, 81 pré-candidatos a prefeito. Naturalmente, todos eles não vão se consolidar como candidatos, porque queremos fazer alianças e haverá casos em que vamos apoiar outros aliados. A nossa política de aliança vai respeitar a realidade de cada município.

No caso de Palmas, a base aliada do governador Marcelo Miranda tem vários candidatos. Levando em conta esse fato, o senhor acha possível ter o apoio do governador e do PMDB para Raul Filho?

Vejo esse quadro com naturalidade. Esse é o momento em que todas as forças políticas devem apresentar suas respectivas candidaturas. Temos até 30 de junho para fechar a coligação de apoio a uma provável candidatura à reeleição de Raul Filho, como ocorre nos outros municípios. Um partido com a relevância do PMDB, tanto no Estado quanto no país, é natural que ele queira ter candidato próprio e apresente seus nomes. Por outro lado, temos partidos como o PSB, que tem quadros muito importantes no município. O PDT tem a candidatura da vereadora Edna Agnolin. Toda essa movimentação dos partidos nesse momento é muito natural. Agora, todos aqueles que vivenciam a política do Tocantins, desde que o Estado foi criado, há 20 anos, sabem o que precisa ser construído para o bem da comunidade e, na hora certa, vamos construir uma aliança à altura do povo de Palmas, em condição de reeleger o prefeito Raul Filho, para que ele possa continuar esse governo extraordinário que está fazendo. O PT vai discutir com o PMDB, PSB, PR, PTB, PP, PV, PC do B. Nosso desejo é trazer todos esses partidos para compor conosco em Palmas.

O PT aceita discutir com o PSDB do ex-governador Siqueira Campos?

O PT está aberto à discussão. Temos trabalhado essa aliança nos limites dos partidos da base de apoio do presidente Lula no Congresso Nacional, mas se for necessário conversar com o PSDB, também podemos conversar. O PSDB no Estado não tem sido hostil ao presidente Lula. Isso não quer dizer que vamos fazer coligação com o PSDB em Palmas. Ele está dizendo que tem candidato na capital e nós respeitamos essa posição, assim como respeitamos a posição do PMDB. Não temos problema de discutir a sucessão em Palmas com o PSDB, com a ressalva de que a nossa meta é manter a aliança que já temos. Um partido com o qual temos muita dificuldade de discutir aqui no Estado é o PFL, atual Democratas. Aqui, ele tem tido uma postura deselegante e hostil em relação o presidente Lula.

Na última visita do presidente Lula ao Tocantins, a senadora Kátia Abreu divulgou uma nota criticando duramente as declarações do presidente. Como o senhor avalia essa atitude da senadora?

Cada dia mais, percebo que essa senadora tem um ódio de classe. Não se trata apenas de ser adversária do governo Lula. Na verdade, ela vem de uma classe que não tolera que a outra classe participe do governo. Do ponto de vista da ideologia dela, só serve se a classe dela estiver no governo, daí esse desespero, esse rancor, que ela demonstra em relação ao presidente Lula. É uma postura ruim, porque ela foi eleita com o voto do povo tocantinense, mas esqueceu o papel que tem como senadora de defender os interesses do Estado e passou a defender só os interesses da classe dela. Aliás, não são nem os interesses da classe dela — trata-se de uma doença, que a leva a odiar a outra classe e a faz padecer de uma miopia que não é capaz de enxergar o papel do presidente Lula no Brasil e, em especial, no Tocantins. No meu entender, aquela nota da senadora não passou de um ato de desespero, devido ao carinho com que o povo tocantinense tem recebido o presidente Lula. Parte dessa população votou nela, mas ela hoje trabalha contra os interesses do Estado do Tocantins. A população do Tocantins está vendo isso e, no momento exato, ela vai ter o troco nas urnas.

O economista Roberto Campos, em que pese ter sido um liberal radical, defendia a CPMF, que, segundo ele, era um imposto moderno, fácil de cobrar e mais justo que outros impostos. O senhor acha que foi um erro acabar com a CPMF?

A oposição ao presidente Lula estava desnorteada, sem bandeira, e precisava dar uma demonstração de força, custasse o que custasse para a sociedade brasileira. Mais do que um erro foi um crime contra o povo brasileiro. Em dois aspectos: primeiro, os recursos da CPMF estavam cumprindo um papel importantíssimo na saúde; segundo, porque a CPMF permitia uma sinalização melhor do fluxo financeiro no país. Ela ajudava no combate à sonegação. Certamente, aqueles que defenderam o fim da CPMF devem ter tido interesses contrariados, por isso propuseram o seu fim, mesmo sabendo que ela tinha um papel fundamental socialmente, sobretudo na saúde, uma vez que o governo já havia definido que ela seria totalmente aplicada na saúde. Foi um crime que cometeram devido à miopia política, facilitando a vida para a sonegação no país.

Como está a situação do PT em Porto Nacional?

O prefeito Paulo Mourão está fazendo um governo extraordinário, revolucionário em alguns aspectos. Creio que a situação dele é a mesma do nosso prefeito Raul Filho e das demais administrações do PT. Caso resolva ser candidato à reeleição, não tenho dúvida que terá facilidade em se reeleger.

O PT, em vários Estados, está sinalizando apoio ao PMDB. Em Minas Gerais, o partido está chegando a um acordo com o governador Aécio Neves. Isso significa que o partido tende a apoiar um candidato que não seja seu para a sucessão do presidente Lula?

Por força de acompanhar as reuniões do diretório nacional como observador ou como membro do diretório e, agora, por força de ser presidente estadual do PT, sinto que o PT trabalha para construir uma candidatura própria à sucessão do presidente Lula. E aqui no Estado não somos diferentes: trabalhamos para construir as condições necessárias para termos o candidato a sucessão do governador Marcelo Miranda. A eleição de 2010 no país, tal como no Tocantins, será uma eleição que tem uma identidade com diferença. No Estado, será a primeira eleição em que a gente não terá uma polarização entre Siqueira Campos de um lado e sua oposição de outro. Será um momento em que vai ser possível fortalecer novas forças políticas. No Brasil, desde 1989, vai ser a primeira eleição que nos vamos fazer em que o presidente Lula não se apresenta como candidato a presidente da República. Essa é uma oportunidade para termos uma eleição com muitos candidatos, como foi em 89, levando a eleição para ser disputada, de fato, no segundo turno. Então, trabalho com a perspectiva de que o PT terá candidato próprio a presidente da República para suceder Lula. O PT tem bons nomes. É um partido que conta com 12 senadores, 81 deputados federais, cinco governadores e dezenas de prefeitos, deputados estaduais e vereadores. Um partido desse porte não pode deixar de apresentar à sociedade brasileira uma candidatura a presidente da República, juntamente com um programa de governo que vá alargar as reformas, aprofundar a cidadania e continuar promovendo essa revolução democrática que o governo Lula vem fazendo. Por isso, em 2010, no meu ponto de vista, o PT terá a obrigação de ter candidato a presidente da República.

Em São Paulo, segundo a imprensa noticiou, Martha Suplicy deve ser a candidata do partido e a vice deve ser do PMDB. Em contrapartida, o PT apoiaria o peemedebista Orestes Quércia ao Senado em 2010. A preocupação do PT com alianças eminentemente eleitorais não pode afastar o partido de sua base social?

Muito das supostas alianças não passam de elucubração de alguns, sem que o conjunto do partido tenha discutido a questão. Ou seja, não se trata de uma decisão partidária. O PT, ao longo de sua história, tem ido muito além das eleições. O partido tem trabalhado em contato permanente com a sociedade brasileira por intermédio dos movimentos sociais e por meio de administrações públicas diferenciadas, que adotam mecanismos inovadores de participação popular. O PT não se afastará de sua base social apenas por tem uma política mais ampla, que é uma tática eleitoral momentânea. Ao contrário, na medida em que o PT vai ocupando espaços institucionais e governando de forma diferenciada, ele vai amadurecendo a sua base e fazendo com que ela evolua para buscar a transformação que ela anseia.

O presidente Lula, hoje, é maior do que o PT?

O presidente Lula e o PT se misturam. Não tem como medir se o presidente Lula é maior do que o PT a não ser pelas pesquisas que dizem que a popularidade do presidente é essa ou aquela. O fato de Lula ter sido eleito e reeleito presidente é porque ele conseguiu construir um partido como o PT. Lula sem o PT ou o PT sem Lula seria um desastre para ambos.

O senhor acha que o presidente Lula vai conseguir finalizar a Ferrovia Norte-Sul ainda no seu mandato?

Pelo passo que estou vendo caminhar a ferrovia no Estado, creio que Lula vai terminá-la antes de concluir o mandato.