Gurupi é uma cidade privilegiada por ter uma Instituição de Ensino Superior da envergadura da Unirg. A sua criação e posterior transformação em Centro Universitário abriu perspectiva de termos um pólo regional de Educação Superior com qualidade social e busca de soluções das dificuldades estruturais do nosso município e municípios vizinhos. Mas tudo isso está ameaçado pela miopia administrativa dos gestores municipais e total desrespeito da comunidade universitária.
A Unirg vive hoje um processo de ingerência política, falta de autonomia universitária, de planejamento estratégico, de construção institucional democrática, de respeito a seus docentes e seus funcionários técnicos administrativos. Uma situação que ameaça fundamentalmente a perspectiva de ser uma instituição pública de ensino superior, de compromisso social e, acima de tudo, de desenvolvimento local.
Nosso Centro Universitário sofre hoje de macroencefalia, tem uma cabeça grande concentrada na Presidência da Fundação Unirg e na Prefeitura e um corpo pequeno na Reitoria, pró-reitorias e nos departamentos (nossas unidades orgânicas). Essa imagem se explica pela falta de cumprimento dos nossos Regimentos Internos e clareza dos papeis institucionais, pela falta de autonomia universitária, pela transformação da mais importante instituição pública da cidade em cabide de empregos, espaço de politicagem e mesquinhez administrativa municipal.
O retardamento do concurso para docentes (hoje são 171 professores contratados sem concurso), o empreguismo sem planejamento para postos mal planejados ou sem a clareza do desempenho necessário, o mau uso dos recursos financeiros da Unirg, a contratação de “consultores” externos a peso de ouro e o desrespeito aos funcionários técnicos administrativos vem impedindo a potencialização da IES como um Centro Universitário de fato, capaz de desenvolver o tripé ensino, pesquisa e extensão.
Dia-a-dia temos dificuldades em desenvolver nossas atividades como docentes e funcionários, pela falta de: segurança financeira, respeito a direitos trabalhistas básicos, condições dignas de trabalho e um espaço acadêmico capaz de implementar canais de comunicação eficazes, efetiva transparência e solução de suas dificuldades. O saco de maldades parece não ter fundo, principalmente na atual administração municipal do Prefeito Alexandre Abdalla.
Diversas medidas adotadas pelo Prefeito Municipal e a direção da Fundação Unirg demonstram que o tratamento que se dispensa aos funcionários da nossa Instituição de Ensino Superior é o de quem muito se exige e a quem pouco se valoriza. O exemplo mais recente e escandaloso de desvalorização dos funcionários da UNIRG está materializado no projeto de lei nº. 040, protocolado junto à Câmara Municipal dia 14/09/2009, de autoria do Senhor Prefeito que visa revogar o artigo 64, da Lei nº 1774/2008, que estabelece o Auxílio Alimentação de 50% do valor do salário mínimo ao quadro técnico administrativo. Se isso ocorrer, cerca de 50% dos servidores do quadro técnico administrativo, perderão até 50% dos seus rendimentos mensais.
Segundo o Senhor Prefeito Abdalla tal revogação se justifica, “frente à necessidade de redução de despesas para o enfrentamento da crise proveniente à queda da arrecadação do município e a necessidade e cumprir os compromissos já assumidos e essenciais ao bom desempenho da Administração Pública e ao interesse público”. Tal argumento é puro sofisma e completamente descabido e um total absurdo, pois o orçamento da Unirg é próprio e nada tem haver com o da Prefeitura. Ou será que essa é uma confissão clara de que o dinheiro da Unirg vem sendo usado pela Prefeitura para outras atividades, que não o próprio interesse desse Centro Universitário?
Na verdade, essa medida só evidencia aquilo que já vimos dizendo a um bom tempo, estão usando o dinheiro da Unirg para outros fins que não os da própria instituição e quem está pagando a conta são os funcionários, os docentes e os discentes, com a perda da qualidade social, com a degradação do ambiente de trabalho, com a falta de regularidade no pagamento dos salários, respeito aos direitos trabalhistas e falta de investimento no seu capital humano.
A saúde financeira e institucional da Unirg hoje está ameaçada por uma política de gestão administrativa municipal temerária, que não tem priorizado a eficiência do ensino, as estratégias democráticas para solucionar as atuais dificuldades da Unirg, o respeito à comunidade universitária, a descentralização do poder, a manutenção do profissionalismo e a efetiva transparência da gestão administrativa.
Cada vez mais temos uma Unirg que só tem servido a interesses particulares e políticos de alguns. Por isso mesmo, sendo transformada num espaço antidemocrático, incapaz de se aproximar da comunidade e de propiciar um conjunto de ações capazes de valorizar nossa comunidade acadêmica e Gurupi como uma cidade estratégica para o Tocantins. E isso é completamente contra o interesse público, contrária à prestação de um serviço público de qualidade e o comprometimento com o desenvolvimento municipal, como dizia ser a prioridade de nosso atual prefeito.
Os funcionários técnicos administrativos e os docentes depois de sofrerem mais de oito anos de perda e arrocho salariais tiveram, ainda no governo João Cruz, a implementação do auxilio alimentação como uma forma de compensar as perdas. Agora o Prefeito Alexandre Abdala manda um projeto para a Câmara Municipal simplesmente retirando esse direito, com a desculpa esfarrapada de que é para reduzir despesas e economizar. Esse é o tipo de economia burra, aquela que mais gera efeitos negativos do que soluções, além de contribuir para um profundo descontentamento e retirada do poder aquisitivo de inúmeros pais de família de nossa cidade. O que atinge profundamente o comércio da cidade e a economia local.
A cada dia está mais difícil em saber quem são realmente os gestores desta academia. Será Prefeito? A Fundação Unirg? Ou a Reitoria? Isso ocorre porque hoje não há uma responsabilidade coletiva dos processos de gestão, desenvolvimento institucional e acadêmico. Por que as atividades fins da Unirg não são priorizadas? Por que os trabalhadores da Unirg não são respeitados? Porque interessa a algumas “autoridades” que a UNIRG seja uma espécie de cozinha ou depósito municipal para assegurar os seus interesses políticos.
A comunidade gurupiense e os nobres vereadores da cidade devem estar atentos para o que está ocorrendo e ajudar os trabalhadores da Unirg a manterem suas conquistas trabalhistas. A cidade tem muito a ganhar com isso, afinal são centenas de pais de família que ajudam a manter o dinamismo econômico da cidade. A Unirg não pode ser tratada como vem sendo tratada pelo Senhor Prefeito. Se ela quebrar ou perder seu dinamismo ou se os seus trabalhadores pagarem o preço dos problemas financeiros da administração municipal quem perde é a cidade de Gurupi.
As atuais práticas administrativas municipais estão provocando o esvaziamento do quadro efetivo de funcionários e docentes da Unirg, fazendo ressurgir a velha prática do empreguismo, do cabide de emprego, do curral eleitoral e outras práticas nocivas, fazendo ressurgir velhos fantasmas da prática política antidemocrática, incompatíveis com progresso local.
Pelo grau de dificuldades que vivemos temos que perceber que cada cidadão gurupiense, cada vereador e aqueles que querem ver uma Gurupi desenvolvida têm que cobrar uma nova atitude do Senhor Prefeito Alexandre Abdalla.
“Gurupi não pode parar” e a Unirg também não.
(Paulo Henrique Costa Mattos, professsor da Unirg e Ronaldo Soares Victor, presidente da ASAUNIRG)