A senadora Kátia Abreu recebeu, na noite desta última segunda-feira, 19, na audiência pública da
Comissão Temporária de Modernização da Lei de Licitações, diversas sugestões de
nove debatedores que participaram do encontro, presidido, na maior parte do
tempo, pela parlamentar tocantinense e que é a relatora do Projeto de Lei
sobre alterações na Lei de Licitações e Contratos (8.666/93). A comissão é presidida
pelo senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). A audiência contou com a
presença de senadores e especialistas no assunto e tem a finalidade de reduzir
a corrupção e o desperdício de recursos públicos.
A relatora Kátia Abreu lembra que a Lei de Licitações e Contratos, em seus mais
de 20 anos de existência, já foi objeto de mais de 600 propostas de mudanças.
Já foram apresentados 518 projetos de iniciativa da Câmara dos Deputados, 157
do Senado, e 50 medidas provisórias do governo com o objetivo de alterá-la. Para
Kátia Abreu, há muitos projetos bons e que a ideia é aproveitá-los, não
dispensá-los.
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Paulo
Safady Simão, defendeu alterações na lei que reforcem as garantias de
cumprimento de contratos, tanto por parte das empresas contratadas quanto por
parte do governo. Para ele, também são necessárias novas exigências e
pré-requisitos para as empresas com o intuito de dar maior proteção às
administração pública.
Safady também sugeriu o estabelecimento de limites para os aditamentos de
contratos administrativos, cuja majoração não deve ser superior a 25% do
contrato original. Para o presidente da Cbic, também é necessário simplificar
os processos de comprovação de regularidade fiscal exigida das empresas pelo
poder público. Ele também defendeu a extinção do chamado Regime Diferenciado de
Contratações (RDC), nova modalidade de licitação criada em 2011 para facilitar
as obras das Olimpíadas de 2016, da Copa do Mundo de 2014 e das obras do Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC).
O vice-presidente de Articulação Política da Associação das Empresas
Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro), Jeovani Salomão, sugeriu
que sejam incluídos na Lei de Licitações regulamentos de contratação setoriais,
com regras específicas para os diversos setores. Ele considera incongruente as
mesmas regras serem exigidas, por exemplo, para licitação de grandes obras
arquitetônicas e para a compra de programas de computador por parte dos
governos.
Salomão sugeriu ainda a criação de mecanismos de arbitragem para solução de
conflitos e disputas de contratos de "grande vulto e mais complexos".
Ele também pediu mudanças na norma que garantam vantagens competitivas para as
micro e pequenas empresas nas licitações públicas.
Para o presidente-executivo da Associação Brasileira dos Distribuidores de
Produtos Especiais e Excepcionais (Abradimex), Franco Oliveira, é necessário
que a Lei de Licitações tenha definições mais claras de seus processos e
instrumentos. Depois de 20 anos de vigência da lei, disse ele, muitos
"pontos duvidosos" ainda carecem de esclarecimento.
O diretor-executivo da Associação Brasileira do Atacado Farmacêutico
(Abafarma), Jorge Froes Aguilar, sugeriu que a lei passe a exigir a publicação
dos editais de licitação ou de contratação públicas de maneira mais completa e
com prazo mínimo de 20 dias (atualmente os editais são publicados com apenas
uma semana de antecedência e de maneira resumida).
O diretor-executivo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e
Resíduos Especiais (Abrelpe), Carlos Roberto Vieira da Silva Filho, criticou o
atual texto da Lei de Licitações por, segundo ele, dar mais importância para o
quesito do menor preço em detrimento dos quesitos de qualidade e de eficiência
na prestação de serviços ou execução de obras.
A consultora jurídica da Federação Nacional das Empresas de Serviço e Limpeza
Ambiental (Febrac), Celita Oliveira Sousa, disse que a Lei de Licitações
precisa sim ser atualizada, porém acrescentou que a mudança mais necessária é
na mentalidade das autoridades pública e dos empresários para que a cultura da
propina perca força no país.
Kátia Abreu concordou que nenhuma alteração legislativa vai
"consertar o caráter de algumas pessoas". Para a senadora, o Brasil
precisa punir de maneira mais rápida e mais dura a corrupção.
Também participaram do debate o representante da Associação Brasileira de
Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP), Luciano Engholm Cardoso, o
presidente do Conselho de Arquitetura e Ubanismo do Brasil (CAU-BR), Haroldo
Pinheiro Villar de Queiroz, e o presidente do Instituto dos Arquitetos do
Brasil no DF, Paulo Henrique Paranhos de Paula e Silva. Todos concordaram sobre
a necessidade de criação de mais mecanismos que coíbam servidores públicos
envolvidos com licitações e contratos de pedirem propinas para empresas.