Helicoverpa Armigera é praga que chegou ao Brasil na safra 2012/13. Apesar de
conhecida em outros continentes há dois séculos, até 2012 ela não havia sido
detectada nas Américas. De tão nova por aqui, ainda não ganhou nome popular,
como a lagarta do cartucho, a lagarta enroladeira e a lagarta mede palmo,
velhas conhecidas dos agricultores. Mas o que a população urbana, que
representa mais de 85% dos 200 milhões de brasileiros, tem a ver com isso?
Os prejuízos que os agricultores vêm tendo com a praga estão na casa do bilhão
de reais. Mas eles não são os únicos pagarem a conta: também o meio ambiente,
que mostra desequilíbrio, e as pessoas da cidade, que vão comprar comida e
roupas encarecidas pela redução da oferta, são impactados.
O apetite da lagarta parece não ter fim. Ela ataca mais de 100 culturas
agrícolas, desde a soja e o milho que o agronegócio exporta em milhões de
toneladas, passando pelo algodão que fornece a matéria-prima para boa parte de
nossas roupas até o tomate e outras hortaliças que saboreamos no almoço e
jantar. Como entrou no país? Ainda não se sabe e dificilmente teremos a
resposta. Mas, bem mais importante que isso, é entender que praga é essa, como
impacta nossa vida e o que tem sido feito para controlá-la.
Sendo uma lagarta, ela se transforma em mariposa, a forma adulta do inseto. Só
que a mariposa de Helicoverpa armigera pode voar até 1.000km, o equivalente à
distância entre as cidades de São Paulo e Brasília. Pelo que os pesquisadores
têm constatado, ela gostou do Brasil, pois tem se adaptado a lavouras do Sul,
do Sudeste, do Centro-Oeste, do Nordeste e até do Norte do País.
Para piorar, os agricultores estão com dificuldade de controlar a lagarta
apenas com os inseticidas disponíveis no mercado. Outros países utilizam
inseticidas que já foram testados e comprovaram eficácia contra a praga
naqueles locais. Mas só o uso de inseticidas (controle químico) não resolverá o
problema porque a praga é capaz de desenvolver resistência aos agroquímicos. E,
assim, a Helicoverpa Armigera vai se reproduzindo sem ser incomodada.
Nesse sentido, a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem orientado os agricultores para que façam o constante
monitoramento das lavouras e o Manejo Integrado de Pragas, o MIP. Pelo nome,
parece complicado, mas podemos dizer que o MIP é a união das possíveis
técnicas, como controle biológico (utilizando inimigos naturais, como
bactérias, vírus, fungos e outros insetos que podem controlar a lagarta sem
prejudicar a lavoura e o meio ambiente), cultural (que reduz a disponibilidade
de alimento para a lagarta na entressafra, diminuindo assim a sua população),
genético (com o uso de plantas de boa qualidade genética, ou seja, resistentes
a diversas pragas e doenças) e químico (com o uso dos defensivos agrícolas
registrados no Ministério da
Agricultura, seguindo as recomendações dos fabricantes).
São ações que o produtor pode fazer na fazenda, sem grandes dificuldades. Todo
esse trabalho de controle vai servir como importante aliado do agricultor para
defender a produção — na qual investiu mão de obra, tempo, máquinas e dinheiro
— e assim garantir alimentos, fibras e energia para as pessoas cidade e do
próprio campo.
É importante que a população urbana conheça o problema, que é grave, já atingiu
mais de 10 estados e pode prejudicar a alimentação e outras necessidades
básicas dos brasileiros. A Embrapa e
outras instituições públicas e privadas estão trabalhando juntas no controle da
Helicoverpa armigera para o bem de todos. Para que as informações cheguem ao
público com clareza, a empresa de pesquisa preparou vasto conteúdo sobre a
praga, disponível na internet (www.embrapa.br/alerta-helicoverpa).
*Breno Lobato é jornalista da Embrapa Cerrados