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Opinião

Acompanhei as manifestações de protesto pelo Brasil afora, tanto do dia 13 quanto do dia 15 de março último, com o foco no teor das reivindicações, das faixas e falas que foram compartilhadas aos milhares em todos os meios de comunicação e pelas redes sociais.

Inicialmente é bom deixar bem claro, que bom que o povo tem a liberdade e a vontade de ir para as ruas e demonstrar a sua insatisfação, incredulidade para com os políticos e até instituições. Numa época em que praticamente todos os brasileiros estão conectados, fica bem mais fácil apenas teclar ou digitar nas telinhas.

Entretanto, o que ficou bem claro nas manifestações, sem medo de errar, foi grande parte dos manifestantes serem manipulados por determinados grupos e pela mídia de uma forma dissimulada e arquitetada em gabinetes e estúdios. Peço, não me jogue pedras antes do tempo e entenda a lógica da minha afirmação.

Um fato lamentável, indiscutível e evidente é que há casos de desvios bilionários de dinheiro público, envolvendo políticos, partidos políticos, empreiteiras, empresários, grandes corporações e executivos. Casos como estes da Petrobrás, certamente, há muitos outros, de outras empresas envolvidos em situações semelhantes, e que geram revolta e grande indignação. Grande parte do povo brasileiro quer um Brasil melhor, diferente, austero e que gere um desenvolvimento social e econômico com equidade.

Mas vejam o que acabei de dizer, grande parte, pois a outra parte não quer isso não, pois está interessada em privilégios e em manipulação coletiva para alcançar os seus objetivos.

É neste ponto que entra a mídia e os que a bancam. É neste ponto que entram os grupos organizados com interesses escusos.

Então vamos à análise do teor das falas e centenas de cartazes que foram exibidos. Os chavões mais vistos e ditos foram: "Fora Dilma", "Fora PT", "Ditadura Já", "Impeachment", "Intervenção Militar Já", além de muitos outros.

Uma coisa é certa, se alguém protesta para ter um país melhor, deve iniciar com o respeito às leis e, principalmente, ao que está escrito na Lei Maior, ou seja, a Constituição Federal. Como pode, então, alguém pedir o retorno de uma ditadura militar, se isto contraria frontalmente a nossa Constituição? Não tem lógica um coisa destas. Mas por quê ganhou tanta força esta proposta? A resposta é muito simples, os grupos organizados que querem um retorno de um regime nada democrático, mobilizaram uma pequena parte de manifestantes que com grandes faixas e cartazes saíram para as ruas e as exibiram para as lentes dos fotógrafos e cinegrafistas. A grande mídia veiculou insistentemente este tipo de coisa, e em menos intensidade contra-argumentou para elucidar a sociedade sobre a gravidade e aberração deste tipo de reivindicação e protesto.

Como é possível, além de ser inconstitucional, pedir aos berros o retorno de um regime que tanto mal fez ao país, que tanta tristeza gerou em milhares de famílias, que atrasou intelectualmente, economicamente e culturalmente o Brasil. Que praticou torturas em qualquer um que fosse suspeito de pensar diferente, do pensamento único posto naqueles anos, não importando se fosse uma jovem, uma mulher, gestante ou nutriz, ou um jovem, homem, pai de família, professor e assim por diante. Se pensava diferente tinha que ser enquadrado.

Dizer que não havia corrupção na época do regime militar é desconhecer completamente a história.

Ao pedir o impeachment de Dilma, faltam as bases legais para tanto e foi uma demonstração clara daqueles que não souberam perder as eleições. Se não gosta do governo atual, tem todo o direito de discordar, de protestar. A recomendação é simples, organizar para vencer as próximas eleições. E digo mais, há necessidade de trocar o Congresso em sua ampla maioria, portanto não basta tirar a presidente da República, pois o que ocupar o seu lugar neste momento não mudará absolutamente nada.

Ao gritarem o Fora PT, também é gritar ao vento, pois não resolverá nada. Quantos partidos no Brasil já deixaram de existir, principalmente os de direita, e pergunto, resolveu alguma coisa? Nada. Vou dar um exemplo, os políticos vão migrando para outros partidos quando se extinguem, os que eram da UDN nos anos 50 e 60 do século passado foram para a ARENA, depois PDS, depois PPB, em seguida PP, sucedido pelo PFL, que ao ser extinto virou DEM e se dividiu formando o PSD. Alguns políticos migram de um lado para o outro como foi o caso do Sarney que saiu da UDN e mais tarde migra para o PMDB.

O lema destes políticos é: "Tá tudo dominado". Portanto, lutar por um Fora PT, não resolverá nada, como também não resolverá um Fora PSDB. Quem mudará o país é o povo com a sua postura, com a sua participação em Conselhos Municipais, com conscientização política.

Gritar por gritar não levará a absolutamente nada.

Se queremos efetivamente mudar o Brasil, a Educação deve mudar e cito aqui uma das decisões da 2ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, ocorrido em Medellin, Colômbia, em 1968: "A Educação em todos os seus níveis deve chegar a ser criadora, pois devemos antecipar o novo tipo de sociedade que buscamos na América Latina".

Na conferência de Ministros da Educação, ocorrida em Caracas na Venezuela em 1971, foi dito o seguinte: "Toma corpo a ideia de uma educação libertadora que contribua para formar a consciência crítica e estimular a participação responsável do indivíduo nos processos culturais, sociais, políticos e econômicos".

Lamentavelmente, alguns protestos se voltaram contra Paulo Freire, que é uma referência internacional em educação. Este sim, lutava por uma educação libertadora que, em outro momento descreverei com mais detalhes.

Vamos mudar o Brasil sim, mas jamais abrir mão de um processo democrático.

*Wolfgang Teske é catarinense de Blumenau-SC, jornalista, educador e teólogo, pós-graduado em Docência do Ensino Superior e Mestre em Ciências do Ambiente/Cultura e Meio Ambiente. Reside em Palmas-TO, desde 1992, onde implantou o Complexo Educacional da Universidade Luterana do Brasil, sendo o seu primeiro diretor. Foi diretor de Relações Empresariais e Comunitárias da Escola Técnica Federal de Palmas, hoje IFTO, na sua implantação. Atualmente, é professor e pesquisador da Universidade Federal do Tocantins. Autor dos livros A Roda de São Gonçalo; Cultura Quilombola; co-autor do Fotolivro Roda de São Gonçalo e diretor de produção do Filme A Promessa. É Cidadão Palmense e Membro da Academia Palmense de Letras - cadeira nº 17. Wolfgang Teske ainda escreve semanalmente em seu blog Alfarrábio Pensar.