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Opinião

Foto: Divulgação

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Na data de 18 de março de 1809, a capitania de Goiás foi dividida em duas comarcas (regiões): a Comarca do Sul e a Comarca do Norte, fato que é considerado o primeiro passo do movimento pela emancipação do Tocantins. Naquela época houve uma política de incentivos para povoamento e instalação de fazendas nas margens do Rio Tocantins; abertura da navegação mercantil até a vila de Belém do Grão-Pará, onde nossos produtos sendo embarcados em navios para a Europa.

Inconformado com desprezo dos governantes goianos com nossa região, o ouvidor Joaquim Theotonio Segurado convoca fazendeiros, comerciantes, religiosos e funcionários públicos da região e instala a Junta Provisória de Governo da Palma, um governo separatista de Goiás, que durou de 1820 a 1824, com a vila capital em Cavalcante, e depois, Natividade.

Depois vieram os projetos separatistas dos deputados Visconde de Taunay e Carlos Gomes Leitão, para criar a Província do Tocantins, com a capital em Tocantinópolis. Nos anos 40 a bandeira separatista é acesa pelo coronel-aviador Lysias Rodrigues, para se criar o Território Federal do Tocantins, com a capital em Pedro Afonso ou Carolina.

A luta separatista do Dr. Oswaldo Ayres e Juiz Feliciano Braga, nos anos 50 em Porto Nacional, para se criar o Estado do Tocantins. A luta dos estudantes da Casa dos Estudantes do Norte Goiano (CENOG), nos anos 60. Hoje, quando o assunto é história, Tocantins virou uma “casa de noca”, com os forasteiros dominando os cargos públicos e da economia local, portando, sem interesse em conhecer a nossa cultura, simbolismos, rituais e fatos históricos, assuntos para piotários (pioneiros otários).

Portanto, foi no dia 18 de março de 1809 que o príncipe regente (e não rei) D. João determinou a criação de uma Comarca na parte norte da província de Goiás e assinala o marco inicial da luta separatista com Goiás.

A data foi consagrada como Dia da Autonomia, feriado estadual, pelo ex-governador Siqueira Campos como forma de ajudar o povo a preservar a luta para criação do Tocantins. Em 2009, o Dia da Autonomia recebeu um duro golpe que ajudou a se tornar ainda mais desconhecido o 18 de Março.

Atendendo interesses de forasteiros e picaretas de Palmas, e não das Associações Comerciais das outras cidades e do Fercomércio, o gaúcho Ângelo Agnolin, como deputado, apresentou projeto que extinguia o feriado de 18 de Março.

Nas justificativas do projeto, o deputado-gaúcho não mencionou O Dia da Revolução Farroupilha, comemorado em 20 de setembro, como forma de lembrar esse movimento que foi tão importante para sua terra natal, o Rio Grande do Sul. A Revolução Farroupilha, também conhecida como Guerra dos Farrapos e foi um movimento nativista similar ao nosso Dia da Autonomia.

A conquista de nossa autonomia econômica começa exatamente no 18 de Março. Veja bem: antes de criação da Comarca do Norte, a região vivia grave crise econômica com a decadência da mineração de ouro, com os donos de minas abandonando as lavras e vendendo suas ferramentas e escravos para a Bahia. Com a criação da Comarca, o ouvidor Joaquim Theotonio Segurado entra em cena para tirar o Norte do atraso e da miséria. Ele consegue apoio do príncipe regente (anos depois coroado rei), D. João, para a isenção de dízimos; isenção do serviço militar a quem se dedicasse a navegação; concessão de sesmarias às margens dos rios Araguaia, Maranhão (Alto Tocantins) e Médio Tocantins aos sócios da companhia de navegação; moratória aos devedores da Fazenda; permissão de utilização de índios hostis como mão-de-obra e a criação de presídios militares (projetos de colonização agrícola) e aldeamentos indígenas.

Para Segurado, a questão fundamental seria a exportação para o estrangeiro, através da navegação com Belém e a sua importância para o desenvolvimento da região do então Norte de Goiás. Nesta era de rodovias e ferrovias, Segurado achava que o Rio Tocantins seria o caminho das águas que possibilitasse aos desbravadores penetrar no longínquo sertão, que abrangia as províncias do Maranhão e Pará.

A navegação feita por botes e batelões a remo (canoa), era o meio de transporte mais viável para a comercialização de matérias-primas. Através da navegação fluvial, lugarejos e vilas se abasteciam com mercadorias trazidas da vila de Belém. Tocantins despachava para Belém ouro, algodão, fumo, açúcar de cana, couro de boi, carne-de-sol, de onde seguiam viagem em navio para a Europa. No intercâmbio mercantil com Belém, os moradores ribeirinhos do Baixo, Médio e Alto Tocantins foram adquirindo traços culturais, resultantes do contexto da região.

Sempre existiu dois  Goiás: o Sul, com estrada de ferro, ganhou um vizinho importante para o seu desenvolvimento, a construção de Brasilia. Em Goiânia, a gente era tratada como morador do “Corredor de Miséria de nortão goiano”, “Peso Morto de Goiás”... Quando nortão goiano, nossas lideranças políticas era contra a nossa independência. Somente uma minoria de nortenses de Porto Nacional, Tocantinópolis, Miracema, Pedro
Afonso e Arraias mantinham a chama separatista. Muita gente dizia que não iria criar um estado para ser governado por um forasteiro, o cearense e deputado Siqueira Campos. Hoje, o estado é dominado por forasteiros.

Claro que a criação do Estado mudou aquela realidade, mas estamos perdendo nossa identidade. Para começar, o posseiro perdeu suas terras e virou peão de forasteiro. Com a criação do Estado, foi preciso importar forasteiros para ajudar na administração pública, Não havia escola superior em nossa região para fornecer a mão-de-obra na instalação do novo Estado. Antes, o principal transporte urbano da classe média era a
bicicleta. Carro era coisa de uma minoria. Hoje, Tocantins tem até milionários.

Acho que o Estado de fato conquistou a autonomia mas dos forasteiros, dos “conchavos políticos”, ou seja, hoje o político não precisa viajar a Goiânia  para tomar decisão. Quando o assunto mexe com a opinião pública, os governantes não querem ouvir a sociedade. Tocantins foi melhor para os forasteiros. Carlos Gaguim, por exemplo, era assalariado da Assembleia Legislativa em Miracema e, depois Palmas, e tinha como a cama de dormir papéis de jornais e hoje faz parte da lista de novos milionários do Tocantins. Com tantos forasteiros na terrinha, o Dia da Autonomia dificilmente se consolidará. A não ser se houver uma política de envolvimento das autoridades, das escolas e da sociedade.

*Otávio Barros é Jornalista e escritor tocantinense